Será possível a paz nas eleições de prefeitos e governadores?
Por
Horacio Duque Giraldo
A
insensatez do senhor Santos de impor a negociação da paz em meio à
guerra não pode ser uma decisão absoluta que altere a condição
pacífica de milhões de colombianos que querem umas eleições
locais e regionais sem atos de guerra e violência. Um cessar
bilateral do fogo e das hostilidades por um período que inclua até
os dias ou semanas posteriores ao 25 de outubro deve ser uma demanda
e um clamor generalizado da sociedade civil e do campo democrático
nacional. Cessar bilateral que deve permitir a expressão da luta
pela emancipação e pelas mudanças substanciais do Estado e da
sociedade controlada pelo depredador modelo neoliberal que o Chefe da
Casa de Nariño defende rigorosamente.
Dentro
de três meses e vinte e cinco dias se realizarão as eleições de
1113 prefeitos, 32 governadores, centenas de deputados, com milhares
de vereadores e edis das juntas administradoras locais.
Já
está em curso uma massiva campanha com candidatos e propostas
programáticas da mais diversa inspiração política, ideológica e
cultural.
Todos
estes funcionários são escolhidos no marco da democracia local que
é resultado de importantes conquistas populares, operárias,
campesinas e democráticas. Os prefeitos são eleitos pelo voto
cidadão desde fins dos anos oitenta como resultado dos acordos
políticos do governo conservador de Belisario Betancur e das Farc
lideradas por Manuel Marulanda Vélez e Jacobo Arenas. Desde aquela
época existe um vigoroso regime de participação cidadã,
descentralização e autonomia. Os governadores são também nomeados
pelos cidadãos nos termos do disposto pela Constituição de 1991.
Um
aspecto que deve ser ressaltado em tais eleições é que,
geralmente, o movimento guerrilheiro tem ordenado a suspensão de
operações militares para as datas em que se apresentam as votações.
O
desejável, em termos políticos, é que isso ocorra nas eleições
vindouras.
No
entanto, dadas as características da conjuntura, em que se promovem
umas conversações de paz em meio ao conflito, situação que ocorre
pela obsessão do senhor Santos de impor uma paz neoliberal com
extermínio de seu adversário, uma decisão de cessar-fogo com
vistas as eleições regionais deve ser bilateral e acompanhada dos
maiores gestos de reciprocidade. A estas alturas, resulta uma
estupidez pedir, depois do ocorrido desde dezembro de 2014 até
meados de abril de 2015, que quem dê o primeiro passo seja aquele
que se encontra em desvantagem à enorme potência bélica do
governo.
Não é
crível a conjectura daqueles que sugerem que a paz não será um
assunto de transcendência no processo eleitoral em curso porque as
pessoas estão mais atentas a suas necessidades cotidianas. Os
lamentáveis e trágicos fatos de guerra em curso, com seu demolidor
impacto político regional, o que nos indicam é que o tema da
superação da prolongada guerra civil nacional mediante os diálogos
de Havana gravitará na disputa eleitoral de outubro, como ocorreu na
votação presidencial do ano imediatamente anterior, sendo um ponto
decisivo, relembrando agora o que se passou entre o primeiro e o
segundo turno, quando 2 milhões de votos da candidata Clara Lopez em
apoio à paz permitiram a derrota do guerreirismo uribista; desde
logo, também estarão ali os outros elementos mais urgentes para a
maioria da população, isto é, o desemprego, a corrupção dos
politiqueiros, sua demagogia, a mobilidade, a pobreza, a falta
de saúde, de educação e a deterioração da natureza.
Prevalecendo
a sensatez, o adequado, então, é aclimatar, como sugerem os altos
funcionários das Nações Unidas em Colômbia, um cessar bilateral
do fogo e das hostilidades por um período que se estenda até os
dias seguintes ao próximo 25 de outubro.
Uma
decisão nesse sentido deve aprofundar o sentido democrático da
política local e regional. Obviamente, para que esse conteúdo cobre
força, o primeiro é exigir do governo e de seus aparatos armados as
maiores garantias para a oposição popular.
Garantias
que são determinantes na ampliação da mobilização contra
hegemônica da resistência campesina/popular revolucionária. A
pretensão do bloco dominante de cercear a essência democrática e
transformadora do campo popular é uma absoluta estupidez. Uma
completa arbitrariedade.
Como e
por que razão os movimentos sociais, as forças democráticas, os
núcleos revolucionários e socialistas devem renunciar a suas
estratégias de mudanças radicais do Estado e do modelo neoliberal?
Um cessar bilateral do fogo e das hostilidades, por mais delimitações
temporais ou espaciais que inclua, não deve, não pode, para ser
mais preciso, ser utilizado para sufocar a luta pela emancipação do
povo colombiano.
Será
possível, então, umas eleições municipais e estaduais em paz?, é
a pergunta que importa hoje para ser considerada pelas partes na Mesa
de Diálogos de paz de Havana.
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Equipe
ANNCOL - Brasil