A lógica da guerra
Por
Alexandra Nariño, da Delegação de Paz das FARC-EP
Nos
pedem argumentos. Que qual é a ideologia por trás do que se passou
em Tumaco e por trás de nossas ações de guerra em geral.
Qual
é a ideologia por trás da guerra?
Lhes pergunto.
A
guerra é indefensável.
As FARC-EP nunca daríamos argumentos a favor de ações de guerra,
simplesmente pelo fato de que nem a pedimos, nem a queremos. Que
existem argumentos que justificam nossa existência como exército
guerrilheiro, é outro assunto. Que
o conflito tem causas, que podem ser estudadas, compreendidas e
assimiladas, está claro também, ainda que pode haver diferentes
visões e graus de assimilação das mesmas.
Isto,
diferentemente da extrema-direita
em Colômbia, que advoga, sim, abertamente pela manutenção de uma
guerra interminável,
sem vencido nem vencedor depois de 51 anos. Esse grupo de cidadãos e
cidadãs, relativamente pequeno porém com uma extraordinária força
no espaço cibernético e na opinião pública, não se cansa de
pedir cada vez mais guerra e extermínio, baseando-se no discurso do
bom e do mau, do branco e do negro, do inimigo interno e do Estado
amigo.
Um
conflito tem consequências trágicas, isso o sabemos desde que
iniciou há mais de 50 anos. Por algo, a luta armada é a forma mais
radical a que podem chegar os povos para mostrar sua inconformidade.
Isso só se passa quando todas as portas da democracia foram
fechadas, como o denunciaram em seu tempo os primeiros guerrilheiros:
“Nós
outros somos revolucionários que lutamos por uma mudança de regime.
Porém, queríamos e lutávamos por essa mudança usando a via menos
dolorosa para o nosso povo: a via pacífica, a via democrática de
massas. Essa via nos foi bloqueada violentamente com o pretexto
fascista oficial de combater supostas “Repúblicas Independentes”;
e como somos revolucionários que de uma outra maneira jogaremos o
papel histórico que nos corresponde, decidimos buscar a outra via: a
via revolucionária armada para a luta pelo poder.” (1)
Porém
isso não a torna desejável, nem agradável, nem defensável. Há
muitos personagens históricos, entre eles Simón Bolívar, que assim
o confirmam: “Da
paz se deve esperar tudo, da guerra nada mais que desastre”.
Ou, quem me pode mencionar uma só guerra que não tenha produzido
crises humanitárias, deslocados, danos à economia e à
infraestrutura de um país?
Pois, precisamente pelo fato de que a guerra é sinônimo de
barbárie, existem regras e normas internacionais para restringir
seus efeitos nocivos.
Num
conflito tão prolongado de mais de meio século se passaram muitas
coisas.
A degeneração ética de um conflito é uma espiral negativa,
nutrida por todas as pessoas que participam nele, sendo –em minha
opinião- a criação
do paramilitarismo, e
não a guerrilha como muitos querem fazer crer, a detonante para tal
decomposição. Assim o confirmam, uma e outra vez, os informes de
organizações nacionais e internacionais de direitos humanos.
Portanto,
só existem argumentos a favor da paz. No meu modo de ver, a negativa
do Estabelecimento de pactuar um cessar-fogo bilateral não tem tanto
a ver com o temor de que a guerrilha se rearme ou se reorganize
militarmente,
posto que o cessar bilateral nos anos 80 nos demonstrou que, mais que
favorecer, os efeitos da inatividade bélica sobre um exército são
negativos; produzem mais deserções e acomodamento da tropa.
O
que também demonstrou o cessar-fogo bilateral de La Uribe é
que favorece, sim, a atividade política das FARC-EP.
Porém, isso é o que se busca, ou não?
A
negação ao cessar-fogo bilateral contraria a lógica que deveria
reinar dentro do marco de um processo de paz, são honras que se lhes
estão rendendo a essas forças da extrema-direita que, dentro de
quatro anos, dentro de quinze meses, dentro de seis meses –agora
sim!-,
creem que acabarão com a guerrilha, demonstrando unicamente que a
obsessão, o medo às forças progressistas e à perda de privilégios
econômicos têm mais peso neles que o raciocínio histórico.
É
uma força com suficiente poder econômico, midiático e político
para continuar impondo a guerra, pelo menos até o momento. Porém
carece de argumentos inteligentes, de peso ou de conteúdo: o
futuro assim o demonstrará.
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Equipe
ANNCOL - Brasil