Expandamos a desescalada
Prossegue,
em meio a imensos riscos, a difícil missão de limpeza e
descontaminação de artefatos explosivos de guerra numa importante
zona rural do município de Briceño, muito próximo do megaprojeto
hidrelétrico de Ituango [Antioquia].
Lamentamos
profundamente o acidente que no último dia 15 de julho, às 15:00
horas, ceifou a vida do desminador do BIDES Wilson Martínez Jaraba,
e causou problemas auditivos a dois operadores mais, na localidade de
Alto Capitán.
Realmente,
a tarefa de descontaminação de territórios constitui uma atividade
de vida ou morte, que exige máxima concentração, apego estrito aos
protocolos de segurança, consulta permanente entre operadores de
explosores e desminadores das FARC e do BIDES, respectivamente,
intercâmbio e balanço com a Ajuda Popular Noruega [APN], para
evitar novas situações dolorosas.
Apesar
do acidente na vereda El Orejón, as partes nos comprometemos,
pensando no bem para as comunidades campesinas, a seguir
implementando o “acordo sobre limpeza e descontaminação de
território da presença de Minas Antipessoal [MAP], Artefatos
Explosivos Improvisados [AEI] e Munições Sem Explodir [MUSE] ou
Restos Explosivos de Guerra [REG] em geral”, firmado a 7 de março
de 2015.
Quiséramos
converter o experimento que tem lugar em El Orejón num plano piloto
que sinalize o caminho para a atenção por parte do Estado de
comunidades mergulhadas no abandono, esquecidas dos programas
sociais.
Os
habitantes desta comarca, muitos deles, foram deslocados dos vales
férteis de onde obtinham seu sustento trabalhando a terra, ou
bamburrando no rio em busca do sol de ouro para o sustento de seus
filhos, e empurrados pelo mega projeto de represa do rio Cauca para
as ásperas encostas improdutivas, gerando pobreza. O despojo de
terras se deu por via violenta através de paramilitares ou pela via
administrativa dos decretos.
Estas
comunidades esperam hoje que a descontaminação de seu território
de artefatos explosivos venha acompanhada de programas de redenção
social. Que se aproveite a circunstância para iniciar a
implementação em pequena escala da substituição de cultivos de
folha de coca, acordado em Havana, com planos de desenvolvimento
alternativo, vias transitáveis, energia elétrica, comercialização
de café, conectividade, escolas, postos de saúde e espaços para o
esporte e o lazer.
O
fenômeno do paramilitarismo continua vivo, intimidador e brutal na
martirizada região. Seus integrantes se movem livremente no
município de Briceño sob a cumplicidade e permissividade das
autoridades, e ameaçam com estender sua presença e terror à La
Vereda El Orejón, uma vez se produza a limpeza do território.
Ante
esta circunstância, pensamos que o governo deve atuar, investigar e
estabelecer responsabilidades, e não ficar com os braços cruzados.
O que os campesinos puseram a redobrar é a campanha de um alerta
imediato. As comunidades devem ter certeza de que não vão ficar
vulneráveis nem desprotegidas.
Descontaminar
e limpar o território de artefatos explosivos, eliminar a ameaça
paramilitar que aponta contra campesinos inermes, é desescalar o
conflito. O cessar-fogo unilateral declarado pelas FARC e a imediata
correspondência do governo decretando o cessar dos bombardeios deve
se estender com outros gestos recíprocos de desescalada pelas
partes, para que a Colômbia inteira seja coberta pela mais benéfica
atmosfera de tranquilidade, agora que se transita com maior confiança
para o acordo final.
Necessitamos
continuar trabalhando na vereda do Orejón, sem pausa, porém
obsessões que causem desenlaces fatais, para poder entregar à
Colômbia a primeira zona livre de artefatos explosivos.
Reconhecemos
os esforços da população, do BIDES, do DAICMA, dos guerrilheiros
das FARC, e de APN, seu trabalho em equipe e coordenação para levar
adiante esta importante missão humanitária que o país lhes
destinou.
La
Habana, sede dos Diálogos de Paz, 28 de julho de 2015
Delegação
de Paz das FARC-EP
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Equipe
ANNCOL - Brasil