SERÁ SANTOS DESTITUÍDO POR VARGAS LLERAS?
O
atual impasse do processo de paz afetado pela crise do regime
santista se toma como pretexto para promover mudanças na Casa de
Nariño que facilitem o acesso antecipado do vice-presidente Vargas
Lleras ao primeiro cargo do Estado em nome de uma coalizão
direitista e ultra direitista com os militares como sócios
principais. Uma constituinte soberana com Cessar-Fogo bilateral é a
rota adequada para pôr fim ao prolongado conflito armado nacional.
Tudo
pode suceder. Exemplos não faltam na história política nacional. O
campo político é muito etéreo, ou líquido, como dizem hoje os
partidários do pós-modernismo. Na política, como no resto da
existência humana, todo sólido se desmancha no ar, como diria Marx.
O que hoje não serve, como Santos e seu regime, igualmente se pode
descartar em coisa de horas. Isso não tem complicações.
O
espaço político colombiano é a estrutura da oligarquia dominante
no Estado. O regime de poder reflete os interesses de minoritários
núcleos sociais que monopolizam a terra, os bancos, o sistema
financeiro, a indústria, o comércio internacional, o excedente
social, os orçamentos públicos e as fontes sociais mais importantes
do poder. Uma soberba camarilha controla as molas da submissão de
milhões de colombianos afundados na pobreza, na miséria, na
ignorância e na exclusão social.
As
redes de poder materializadas no Estado, no governo, nos partidos,
nos meios de comunicação, nas igrejas, nos poderes legislativos,
judiciários, nas governadorias, nas prefeituras, constituem a
infraestrutura mais preciosa, o patrimônio estratégico fundamental
dos donos do país.
Disso
não descuidam. Protegem-no até à morte.
O
processo de paz em curso em Havana com os acordos e avanços
alcançados, com seus impactos democráticos e incidência na
mobilização popular, certamente representam hoje o maior desafio
aos poderes tradicionais. Se trata de uma complexa estrutura que
cabalmente reflete os amplos alcances da potência da resistência
popular revolucionária.
A paz
neoliberal de Santos, a que não quer que se toque no modelo do Plano
de Desenvolvimento, faz água e a última entrevista do senhor
Humberto De La Calle intenta um inventário falsificado para
justificar a rota de sua extinção.
Os
diálogos de paz estão em crise como consequência das grosseiras
manipulações oficialistas e o vantajismo do esquema santista
enfileirado a tirar lucros para exterminar a contraparte. Vantajismo
que se quer ampliar com os
mesmos
currais uribistas de
concentração guerrilheira, em
áreas isoladas, os mesmos
que maravilham e alucinam a De La Calle.
Como queira que Santos e seu
governo vivem a mais complicada encruzilhada em consequência da
estrepitosa queda de sua aceitação cidadã e do agravamento dos
problemas econômicos e fiscais, agora mais enredados com o triunfo
do NO na Grécia, vão surgindo hipóteses e se embaralham cenários
de governança que impeçam a paralisação na tomada de decisões do
mecanismo de gestão governamental oligárquica.
Nesse sentido, a
ata/entrevista de De La Calle é mais a projeção de uma ambição
pessoal no sutil jogo para corrigir o vazio que evidencia o
esgotamento do santismo. Pretextando o colapso da paz, há uma febril
luta de facções pelo poder e Vargas Lleras se perfila como o
personagem indicado para reagrupar na Presidência o arco da direita
e da ultra direita militarista, numa nova conspiração da guerra e
da paz dos cemitérios.
Evidentemente, esse é um
projeto retrógrado para superar o atual impasse político derivado
do agravamento da guerra civil.
A outra proposta é a da
Constituinte, que requer o passo prévio do cessar-fogo bilateral
permanente e definitivo.
A Constituinte é a garantia
das vítimas, da paz, da terra para o campesino, da democracia
ampliada e de uma justiça que seja implacável com os criminais que
alimentaram e feito por décadas a guerra contra o povo, de uma
justiça que não seja o outro instrumento de vingança e ódio das
oligarquias contra a resistência campesina e revolucionária e seus
dirigentes, por mais que se disfarce como um plano transicional para
liquidar a liderança agrária.
--
Equipe
ANNCOL - Brasil