“Uribe me ofereceu 18 milhões de pesos”
Por
Digna Irene Urrea. Confidencial Colombia. 30
de Junho de 2015
Nesta
semana se reabriu um dos capítulos mais dolorosos na história do
país: os chamados ‘Falsos Positivos’. Este gera todo tipo de
reações e toca nas fibras do governo do ex-presidente Uribe, quem,
devido ao informe da HRW, não reagiu muito bem. Confidencial
Colombia falou com duas mães cujos filhos foram vítimas das
referidas execuções extrajudiciais entre 2002 e 2008.
Num
trinado, o hoje senador Álvaro Uribe Vélez adverte que ainda que
não se absolva pelos assassinatos, assinala, sim, que a justiça
nunca investigou sua hipótese de que esses civis estavam implicados
em assuntos ilegais, fato que foi confirmado por suas próprias mães
numa reunião que sustentaram com ele anos atrás.
Confidencial
Colombia
falou com duas mães cujos filhos foram vítimas das execuções
extrajudiciais entre os anos de 2002 e 2008, sob o mandato de Uribe.
Luz María Bernal e María Ubilerma Sanabria assinalam que
efetivamente houve uma reunião a 12 de fevereiro de 2010 na qual
oito famílias de ‘Falsos Positivos’ sustentaram um encontro com
o ex-presidente.
Ainda
que nenhuma das duas esteve no encontro para o qual foram convidadas,
Bernal assegura que a ela o ex-mandatário ofereceu 18 milhões de
pesos: “Nessa reunião a que não assisti, soube que às famílias
que compareceram foram oferecidos 18 milhões de pesos, sei disso
porque a mim também me ofereceram esse dinheiro, como quem diz tome
e cale-se, não falem tanto”, sentencia a mulher.
Por
sua parte, Sanabria conta que foram outras mães as que estiveram na
reunião, porém assegura que eram vítimas como ela. Relembra que
nas vésperas desse encontro lhes diziam que levassem muitas pessoas
para que a reunião parecesse multitudinária; no entanto, coincide
com Bernal ao afirmar que, finalmente, à convocatória de Uribe
assistiram apenas oito famílias.
Também
comenta que nesse ano [2010] Uribe estava fazendo campanha eleitoral,
pois era o último ano de seu governo e buscava sua segunda reeleição
–que caiu-, pelo que começou a respaldar a carreira presidencial
de seu ministro de Defesa, Juan Manuel Santos.
Os
trinados do hoje senador Uribe do Centro Democrático, no quais
defende a Força Pública e sobretudo aos generais que supostamente
estiveram envolvidos no assassinato de civis, como assinala o informe
Human Rights Watch, foram fortemente criticados pelas mães.
“Rechaçamos
o maltrato a nossos generais, que agora toca no Gal. Montoya, herói
da Pátria”, reza o trinado do ex-presidente.
Ao
mostrarmos o trinado a María Sanabria, a mãe assinala que “ele
tem que justificar de alguma forma os ‘Falsos Positivos’ para
falar bem de seus coronéis e para tapar todas as cagadas que fez,
por isso não sabe como incriminar aos rapazes assassinados para que
o glorioso Exército fique em alto”.
Cabe
assinalar que o informe da ONG diz que “pelo menos 44 supostas
execuções extrajudiciais perpetradas por soldados da Quarta Brigada
se deram durante o período no qual o General reformado Mario Montoya
esteve no mando. Montoya foi comandante do Exército Nacional de 2006
a 2008”.
Sanabria
continua, “me parece terrível e o cúmulo que não tenha havido
justiça [...] Quando Álvaro Uribe ia sair da presidência, ele
disse claramente que não iria permitir que algum de seus rapazes
fosse para o cárcere por esses casos isolados e levamos 5700
execuções extrajudiciais a Uribe... Não lhe convém que os altos
mandos sejam julgados porque eles vão dizer de onde saíram as
ordens”.
Finalmente,
adverte a mãe de Soacha que, frente às declarações do novo
ministro de Defesa, Luis Carlos Villegas, nas quais diz que a justiça
leva mais de cinco anos sem poder mostrar resultados, “não é que
não tenha havido demonstrações de que sejam culpados, o que passa
é que não há vontade de que se faça justiça, porém eles, sim,
sabem. Se os altos mandos falam, pois, os primeiros que vão cair são
Álvaro Uribe e Juan Manuel Santos”.
Jaime
Estiven Valencia Sanabria, filho de María Ubilerma Sanabria
Tinha
16 anos, estava cursando a sétima série quando, com mentiras, o
levaram para Ocaña, Norte de Santander. Ali, a décima quinta
brigada do Exército “fingia falsas retenções”; numa delas,
baixaram o jovem, lhe indocumentaram, torturaram-no, assassinaram-no
e depois o fizeram passar por um narcoguerrilheiro. Foi desaparecido
a 6 de fevereiro de 2008 e dois dias depois foi assassinado por mãos
militares.
Sua
mamãe María Ubilerma levou oito meses buscando-o, sem nenhum
resultado positivo, até que, em 25 de setembro, por meio dos
noticiários assinalaram que os jovens desaparecidos de Soacha
estavam em fossas comuns em Ocaña e que a Força Pública os havia
declarado como pessoas
sem identificação.
Até
o momento, o caso não teve nem a primeira audiência, ainda que seus
advogados tenham tentado fazer todo o possível para que comece o
julgamento e se faça justiça.
Durante
sete anos Sanabria recebeu um sem-número de ameaças, entre estas a
que mais recorda é a que chegou a seu telefone numa mensagem de
texto: “mamãe, te quero muito: att cadáver”.
Um
menino de 8 anos em corpo de adulto
O
único caso de ‘Falsos Positivos’ que teve uma condenação foi o
de Luz Marina Bernal. Seu caso é um precedente para que outros, como
o de María Ubilerma Sanabria, tenham um julgamento e uma condenação.
Seu
filho, Faír Leonardo Porras Bernal, de 26 anos, sofria de
deficiência mental. Não sabia escrever, nem ler, nem identificar o
valor do dinheiro; no entanto, a décima quinta brigada do Exército
o declarou como chefe de uma organização narcoterrorista.
Vivia
em Soacha e a 8 de janeiro de 2009 foi desaparecido do município e
levado a Ocaña, Norte de Santander. Recebeu 13 impactos de bala; em
16 de setembro, de Medicina Legal chamaram a Luz Marina para dar-lhe
a notícia de que seu filho havia sido encontrado numa fossa comum.
Desde
há sete anos Bernal tem sido uma das cabeças mais visíveis das
mães de Soacha, sua luta tem se concentrado em demonstrar e chegar
aos altos mandos, isto é, àqueles que deram a ordem das execuções
extrajudiciais.
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Equipe
ANNCOL - Brasil