"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 29 de julho de 2015

Na Venezuela, parece renascer a conveniente convivência


Há boas notícias na Venezuela: no dia 6 de dezembro haverá eleições legislativas e o clima de total intolerância parece dar lugar a uma convivência conveniente para chavistas e opositores. Hoje, sem abandonar a luta política e muito menos a eleitoral, o inimigo que deveria ser destruído, destroçado, agora parece ter de transformado num adversário com quem competir, articular, ate mesmo entrar em acordo.

Situação levada por situações externas e internas – independente da permanente guerra de microfones – que podem causar surpresa, como a unanimidade entre oficialistas e opositores para aprovar um acordo em defesa do Essequibo venezuelano (territórios em conflito com a Guiana) na Assembleia Nacional, e o chamado da perigosa organização empresarial FedeCámaras a iniciar um diálogo com o Governo, propondo “três consensos que permitiriam traçar um horizonte produtivo para o país”.

Finalmente, os partidos e organizações opositoras aglutinadas na Mesa de Unidade Democrática (MUD), cerca de trinta entidades diferentes, decidiram disputar as eleições legislativas “com uma lista única” de candidatos. O acordo pôs fim – por enquanto – às diferenças internas admitidas por dirigentes opositores, entre eles o duas vezes candidato presidencial Henrique Capriles, que advertiu que “sem lista única” haveria o risco de perder uma “adesão majoritária”.

Mas tudo aponta para uma crise de liderança na “unitária” força antichavista. Uma pesquisa da Hinterlaces (divulgada no dia 11 de julho) mostra que 85% dos consultados acha que falta gente nova para dirigir a oposição, 77% que está muito dividida, 52% opina que a MUD não tem um projeto de país, 61% disse que os opositores mais jovens são manipulados pelos velhos políticos e 67% acha que o partido tem votos por descontentamento, mas não um respaldo popular real.

E, novamente, a oposição começa a falar de fraude – desculpa usual há cerca de uma década –, antes mesmo de começar a campanha eleitoral. O ex-funcionário da OEA, Rubén Perina, disse aos meios estrangeiros que, com o passar das semanas, se o Conselho Nacional Eleitoral não enviar o convite formal à OEA, ou negar sua participação, o secretário-geral deveria propor (a partir do Artigo 20 da Carta Democrática Interamericana) a supervisão coletiva da crítica situação política venezuelana.

Desde já, a imprensa cartelizada quer impor no continente a ideia de que existe o perigo de uma alteração da ordem democrática, uma possível fraude eleitoral. A resposta foi dada pelo próprio presidente Nicolás Maduro, que considerou que a OEA “não serve para nada”, é “um traste velho e caduco”, que já aprovou invasões e golpes de Estado em seus 67 anos. E questionou se o novo secretário-geral, o uruguaio Luis Almagro, vai trabalhar para América Latina ou para os Estados Unidos. “Quantas missões de saúde têm (…) ou vão continuar com sua burocracia intervencionista”, apontou o mandatário venezuelano.

Não está previsto, obviamente, a participação da OEA. Quiçá seja convidada a presenciar as eleições. Mas a Unasul, prevendo essas “operações”, e quem está preparando a missão eleitoral na Venezuela, com o apoio de todos os países da região, sem a necessidade do monitoramento e da previsível manipulação que podem fazer, entre outros, os Estados Unidos e o Canadá.

A economia e a segurança

Quem surpreendeu com uma dura frase, foi o governador de Anzoátegui e dirigente do PSUV, Aristóbulo Istúriz: “se eliminarem o controle de câmbio derrubam o governo”, criando no imaginário coletivo a ideia de que não é possível modificar a atual política cambiária, que, na verdade, não tem sido eficaz em fomentar o impulso à produção, e tampouco tem servido para evitar a fuga de divisas. A direita e os meios de comunicação hegemônicos continuam com suas exigências: liberalização cambiária ou dolarização.

Essa carência de um valor real dos produtos (com base na brecha entre o dólar oficial e o paralelo, que chega a dois zeros), junto com a inflação, têm diminuído claramente o poder adquisitivo real.

Há quem insista na necessidade de pensar mais seriamente numa transferência direta, por meio de um cartão ou ticket de alimentação e medicamentos, sobretudo para os mais pobres, que não podem aumentar sua renda com o simples aumento de preços, como os comerciantes.

No dia 13 de julho, o governo ativou a Operação de Liberação e Proteção do Povo (OLP), para resguardar a segurança diante das crescentes ações do paramilitarismo (importado da Colômbia e assentado até mesmo nas grandes cidades venezuelanas), com a finalidade de quebrantar a estabilidade e a paz no país. O presidente Nicolás Maduro informou que só no estado de Miranda, se recuperaram 905 armas, 14 de grande porte, provavelmente manejadas por franco-atiradores especialistas, 32 veículos roubados recentemente e 200 apartamentos que permaneciam sequestrados por grupos paramilitares.

E um ingrediente a mais, Maduro assegurou que o governador desse estado, justamente Henrique Capriles, está vinculado com o paramilitarismo e com líderes colombianos. “A ultra-direita colombiana encheu a Venezuela de droga e de caos para colocar as garras no país”, afirmou.

Divisionismo contra integração

Cada vez que avançam as possibilidades de fortalecer a integração na América Latina, de mudanças que visam a separação progressiva do império, surgem no continente conflitos fronteiriços, geralmente herdados da colônia, para colocar um freio nos processos.

Na Venezuela, até há pouco tempo atrás, a oposição pedia ao governo que se tomasse medidas a respeito do território de Essequibo. Agora que o governo decidiu fazê-lo, alguns opositores se colocaram do lado do governo da Guiana e em defesa da multinacional petroleira ExxonMobil. Mas o importante é que todos os parlamentares – chavistas e antichavistas – votaram juntos na Assembleia Nacional.

Os conflitos fronteiriços são temas que devem ser discutidos em seu contexto, e vendo sempre uma perspectiva interna e externa o mais ampla possível, para melhor entender a questão.

De tempos em tempos, a República Cooperativa da Guiana pretende discutir o tema do território de Essequibo, e explorar suas riquezas. Então, essa não pode ser a causa das recentes tensões. O fato novo é que o governo da Guiana deixou de seguir a via diplomática e jurídica – pois existe um acordo internacional para se usar essa opção prioritariamente – e passou a tomar medidas unilaterais, como a instalação de uma plataforma de exploração petroleira, em parceria com a multinacional Exxon e seus associados.

A presença da Exxon no meio do conflito não é estranha, como tampouco é estranho que o representante diplomático dos Estados Unidos em Georgetown tenha atuado para garantir o resguardo da embarcação dessa empresa. Estratégias e interesses que se cruzam.

Essas circunstâncias, junto com as divisões políticas na Venezuela, são as que explicam, segundo o analista político Leopoldo Puchi, porque a Guiana passou do ambiente diplomático para a ação, violando o acordo de Genebra, e iniciou a exploração das águas em disputa, com a concorrência de uma empresa multinacional e a ameaça do braço armado do império.

A divisão dos fracos sempre foi a fortaleza dos poderosos.

Tradução: Victor Farinelli