Discurso do Ministro de Relações Exteriores da República de Cuba Bruno Rodríguez Parrila, na Cerimônia de Reabertura da Embaixada de Cuba nos Estados Unidos.
Exmª Sra. Roberta Jacobson, secretária de Estado Adjunta, e senhores funcionários do Governo dos Estados Unidos que a acompanham:
Honoráveis
Membros do Congresso:
Estimados Representantes das Organizações, Movimentos e Instituições estadunidenses que realizarem ingentes esforços pela mudança de política em relação a Cuba e o melhoramento das relações bilaterais:
Estimados Representantes das Organizações, Movimentos e Instituições estadunidenses que realizarem ingentes esforços pela mudança de política em relação a Cuba e o melhoramento das relações bilaterais:
Estimados
Representantes das Organizações e Movimentos da emigração
patriótica:
Excelentíssimos
Srs. Embaixadores:
Companheiros
da Delegação Cubana:
Encarregado
de negócios José Ramón Cabañas, funcionários e trabalhadores da
Embaixada de Cuba:
Estimadas amigas e amigos:
Estimadas amigas e amigos:
A
bandeira que honramos à entrada desta sala é a mesma que aqui foi
arriada há 54 anos, conservada zelosamente na Flórida por uma
família de libertadores e depois pelo Museu de nossa cidade oriental
de Las Tunas, como antecipação de que este dia teria que chegar.
Ondeia
novamente neste lugar a bandeira da estrela solitária que encarna o
generoso sangue derramado, o sacrifício e a luta mais que centenária
de nosso povo pela independência nacional e pela plena
autodeterminação, frente aos mais graves desafios e perigos.
Rendemos
homenagem a todos os que caíram em sua defesa e renovamos o
compromisso das gerações presentes e, com absoluta confiança nas
que virão, de servi-la com honra.
Invocamos
a memória de José Martí, quem viveu consagrado à luta pela
liberdade de Cuba e conheceu profundamente os Estados Unidos. Em suas
“Escenas Norteamericanas” nos deixou uma nítida descrição da
grande nação do norte e o elogio do melhor dela. Também nos legou
a advertência de seu exacerbado apetite de dominação que toda uma
história de desencontros confirmou.
Chegamos
aqui graças à condução firme e sábia do líder histórico da
Revolução Cubana Fidel Castro Ruz, a cujas ideias sempre
guardaremos lealdade suprema. Recordamos sua presença nesta cidade,
em abril de 1959, para promover relações bilaterais justas e sua
sincera homenagem a Lincoln e Washington. Os propósitos que
prematuramente o fizeram vir são os que tentamos nestas décadas e
coincidem exatamente com os que nos propomos hoje.
Muitos
nesta sala, políticos, jornalistas, personalidades das letras ou das
ciências, estudantes, ativistas sociais estadunidenses, usufruíram
de infinitas horas de enriquecedora conversação com o Comandante
que lhes permitiram compreender melhor nossas razões, objetivos e
decisões.
Este
ato foi possível pela livre e inquebrantável vontade, pela unidade,
o sacrifício, a abnegação, a heroica resistência e pelo trabalho
de nosso povo, e pela força da Nação e da cultura cubanas.
Várias
gerações da diplomacia revolucionária confluíram neste esforço e
entregaram seus mártires. O exemplo e o verbo trepidante de Raúl
Roa, o Chanceler da Dignidade, continuam estimulando a política
externa cubana e estarão na lembrança dos mais jovens e dos futuros
diplomatas.
Sou
portador de uma saudação do Presidente Raúl Castro, expressão de
boa vontade e da sólida decisão política de avançar, mediante o
diálogo baseado no respeito mútuo e na igualdade soberana, para uma
convivência civilizada, ainda dentro das diferenças entre ambos
governos, que favoreça a solução dos problemas bilaterais, promova
a cooperação e o desenvolvimento de vínculos mutuamente
vantajosos, como desejam e merecem ambos povos.
Sabemos
que isso seria uma contribuição à paz, ao desenvolvimento, à
equidade e à estabilidade do continente, ao exercício dos
propósitos e princípios consagrados na Carta das Nações Unidas e
na Proclamação de América Latina e Caribe como Zona de Paz,
firmada na II Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e
Caribenhos, em Havana.
Com
o restabelecimento das relações diplomáticas e da reabertura de
Embaixadas, culmina hoje uma primeira etapa do diálogo bilateral e
se abre passagem ao complexo e certamente longo processo para a
normalização das relações bilaterais.
É
grande o desafio porque nunca houve relações normais entre os
Estados Unidos da América e Cuba, a pesar de um século e meio de
intensos e enriquecedores vínculos entre os povos.
A
Emenda Platt, imposta em 1902 sob ocupação militar, cerceou um
esforço libertador que havia contado com a participação ou a
simpatia de não poucos cidadãos norte-americanos e deu origem à
usurpação de território cubana em Guantánamo. Suas nefastas
consequências marcaram indelevelmente nossa história comum.
Em
1959, os Estados Unidos não aceitaram a existência de uma pequena e
vizinha ilha totalmente independente e, uns anos depois, ainda menos,
a de uma Revolução socialista que teve que se defender, e desde
então encarna a vontade de nosso povo.
Cito
a história para afirmar que hoje se abre a oportunidade de começar
a trabalhar para fundar umas relações bilaterais novas e diferentes
a todo o anterior. Para isso, o governo cubano compromete toda sua
vontade.
Só
a eliminação do bloqueio econômico, comercial e financeiro, que
tanto dano e privações ocasiona a nosso povo, a devolução do
território ocupado em Guantánamo e o respeito à soberania de Cuba
darão sentido ao fato histórico que estamos vivendo hoje.
Cada
passo que se avance contará com o reconhecimento e a favorável
disposição de nosso povo e governo, e receberá evidentemente o
estímulo e o beneplácito da América Latina Caribenha e do mundo.
Ratificamos
a vontade de Cuba de avançar para a normalização das relações
com os Estados Unidos, com ânimo construtivo, porém sem menosprezo
algum a nossa independência, nem ingerência em assuntos que
pertencem à exclusiva soberania dos cubanos.
Persistir
em objetivos obsoletos e injustos e só propor-se uma mera mudança
nos métodos para consegui-los não fará legítimos aqueles nem
ajudará ao interesse nacional dos Estados Unidos nem ao de seus
cidadãos. No entanto, se assim ocorrera, estaríamos dispostos a
aceitar o desafio.
Acorreremos
a este processo, como escrevera o presidente Raúl Castro em sua
carta de 1º de julho ao Presidente Barack Obama, “estimulados pela
intenção recíproca de desenvolver relações respeitosas e de
cooperação entre nossos povos e governos”.
Desde
esta Embaixada, continuaremos trabalhando com empenho para fomentar
as relações culturais, econômicas, científicas, acadêmicas e
desportivas, e os vínculos amistosos entre nossos povos.
Transmitimos
o respeito e reconhecimento do governo cubano ao Presidente dos
Estados Unidos por seu chamado ao Congresso a suspender o bloqueio e
pela mudança de política que enunciou, em particular pela
disposição que expressou de exercer suas faculdades executivas com
esse propósito.
Relembramos
especialmente a decisão do Presidente Carter de abrir Seções de
Interesses respectivas em setembro de 1977.
Me
alegra agradecer ao governo da Confederação Suíça por sua
representação dos interesses cubanos durante os últimos 24 anos.
Em
nome do Governo e do povo de Cuba, desejo expressar nossa gratidão
aos membros do Congresso, académicos, líderes religiosos,
ativistas, grupos de solidariedade, empresários e tantos cidadãos
estadunidenses que se esforçaram ao longo de muitos anos para fazer
chegar este dia.
À
maioria dos cubanos residentes nos Estados Unidos, que têm defendido
e clamam por uma relação diferente deste país com nossa Nação,
expressamos reconhecimento. Nos disseram, comovidos, que
multiplicarão seus esforços, leais à tradição da emigração
patriótica que serviu de sustentação aos ideais de independência.
Expressamos
gratidão a nossos irmãos latino-americanos e caribenhos, que
estiveram de maneira decisiva junto a nosso país e exigiram um novo
capítulo nas relações entre os Estados Unidos e Cuba, assim como o
fizeram com extraordinária constância muitíssimos amigos em todo o
mundo.
Reitero
nosso reconhecimento aos governos, aqui representados pelo Corpo
Diplomático, que com sua voz na Assembleia Geral das Nações Unidas
e em outros âmbitos deram uma contribuição decisiva.
José
Martí organizou a partir daqui o Partido Revolucionário Cubano para
conquistar a liberdade, toda a justiça e a dignidade plena dos seres
humanos. Suas ideias, reivindicadas heroicamente no ano de seu
Centenário, continuam sendo a essencial inspiração neste caminho
que nosso povo, soberanamente, escolheu.
Muito obrigado.
Muito obrigado.
Equipe
ANNCOL - Brasil