Recuperemos a memória histórica
A segurança democrática de Uribe funciona com 400 insolentes ao seu redor protegendo-a!
[Juan Leonel Forero y Luís Pedro Lizcano Pérez/ANNCOL]
Todos os meios de comunicação afetados pelo sistema, os colunistas, comunicadores de imprensa, radio e televisão, tem comentado e seguem comentando, uns com indignação e outros com assombro o “fenômeno” da narco-parapolítica. Se perguntam quando ocorreu na Colômbia um desastre semelhante? Uns de boa fé, outros com ingenuidade, mas há um setor bastante grande que não transmite credibilidade no que diz, pensa ou faz.
O paramilitarismo não é um fenômeno novo na Colômbia, já o denunciamos, já foi estudado e existem dezenas de livros, talvez centenas, onde de forma clara e precisa se analizam os feitos; pode ser que hoje hajam fenômenos novos como o narcotráfico que leva muita gente a buscar dinheiro fácil e a cometer delitos, mas essa não é a causa fundamental da violência.
Quando a violência se propagou não existia o narcotráfico nem cartéis. Mas existia a violência praticada pelos donos da terra que expulsavam os camponeses e os indígenas de suas terras; existia a violência dos patrões contra os trabalhadores que pediam melhores condições de vida, a violência política contra os que estavam fora do governo e existia a violência direta das companhias gringas que ordenaram o assassinato de milhares de trabalhadores das bananeiras em 1928, usando o Exército da Colômbia para executar seus brutais massacres. Tudo ocorreu porque desde essa época a classe governante colombiana vem seguindo as diretrizes e políticas do imperialismo yankee.
O assassinato do caudilho liberal Jorge Eliécer Gaitán (1948); o massacre de 300 mil colombianos (1948-1953); a agressão à Villarrica Tolima (1955) e a agressão à Marquetalia (1964) foram acontecimentos marcados nos planos do imperialismo norte-americano. Esse foi o resultado da aplicação da guerra fria primeiro, logo os conflitos de baixa intensidade e agora a Doutrina de Segurança Nacional, chamada eufemisticamente, “Segurança Democrática”.
Esses planos foram implementados em toda a América Latina e causaram milhares de mortos e desaparecidos. Hoje estão julgando um ou outro militar no Uruguai, Argentina e Chile e inclusive estão pedindo a extradição de Henry Kissinger ao Paraguai, acusado de ser o autor intelectual do Plano Condor, carrasco de milhares de pessoas nos países do Sul.
O grande pretexto pregado foi o de impedir o “avanço” do comunismo na região. Qualquer pessoa que fosse dirigente sindical, comunitário, estudantil, camponês, indígena ou líder de esquerda, era assassinado, desaparecido, torturado ou ameaçado. Os mesmos meios de comunicação que hoje se “aterrorizam” com a magnitude do problema, em seu momento e época apoiaram as ditas agressões. Onde estavam o El Tiempo, El Espectador, os políticos dos partidos liberal e conservador que nunca denunciaram o genocídio? Onde estavam os Juízes? Nunca iniciaram investigações. Onde estava a hierarquia da Igreja Católica? Jamais condenou o genocídio. Porque todos eles não denunciaram a aberta intromissão imperial? Pelo contrário, a apoiaram entrincheirando-se no Santo Benito do anticomunismo. Porque nunca se sancionou, investigou nem se condenou a nenhum dos oficiais da Polícia, nem do Exército nem ao tenebroso SIC (Serviço de Inteligência de Colômbia) por tão horrorosos crimes? A resposta a estas e outras perguntas, é simples: porque com o pretexto da defesa da “democracia” se compartilhava e estimulava a barbárie.
As seguintes décadas tem estado marcadas pelas expulsões e os exílios forçados, os assassinatos seletivos, os massacres, o aniquilamento da oposição. Onde quer que apareça com força um movimento político de oposição é massacrado; desde o MRL (Movimento Revolucionário Liberal – 1959); FU (Frente Unido do Padre Camilo Torres – 1959); UNO (União Nacional de Oposição – 1972); FD (Frente Democrática – 1978); até chegar à UP (União Patriótica – 1985) a qual assassinaram seus Conselheiros, Deputados, Representantes na Câmara, os Senadores, milhares de ativistas e dois candidatos presidenciais.
Porque diante desse espantoso genocídio, não houve ou repúdio da classe política, da classe empresarial, os jornalistas, os meios de comunidação? Pelo absurdo, anticomunismo de então, o mesmo que hoje esgrime o Presidente Álvaro Uribe Vélez e seus principais Ministros e Assessores para justificar o terrorismo de Estado, afogar a verdade e que impere a impunidade.
O anti-comunismo têm sido e é a única ferramenta que o uribismo acredita ter em mãos, em sua desesperada atitude defensiva, para empreendê-la contra o Pólo Democrático. O assassinato sistemático de militantes do Partido Comunista e de outras forças de esquerda e progressistas, é parte inseparável do assassinato da oposição ao sistema. O aplicaram no passado e seguem aplicando-o agora.
Chama a atenção de muitos daqueles que se auto-proclamaram de esquerda, estejam navegando na mesma lagoa onde navegam o imperialismo e seu lacaio. Deslumbrados e comprometidos por um transitório posto que lhes fora dado em troca de seu ato de traição, não tem inconveniente em declarar-se escudeiros da narco-parapolítica e da classe governante responsável pela crise pela qual está atravessando a institucionalidade colombiana.
As declarações de Mankuso, constituem apenas uma parte ínfima da verdadeira história do nosso martirizado país, e tem o objetivo de desviar a verdade para que tudo fique igual. Se as pessoas que esse personagem sindica, estão mortas, quem será investigado e julgado? Quem responderá pelas vítimas e pelos danos? Ninguém! Com essa comédia (a entrega dos paramilitares) estão tentando fazer com que o Estado, o Estabelecimento e a classe governante, responsáveis pela crise que a Colômbia vive, fiquem limpos. Assim foi em épocas passadas e querem faze-lo agora.
Por isso têm assassinado e seguem assassinando a quem denuncie a barbárie. Assassinaram a Manuel Cepeda Vargas e a centenas de jornalistas que tiveram o valor de não se calar, de exigir justiça, de contar para o mundo o que estava ocorrendo em Colômbia; a milhares de dirigentes de esquerda que se opuseram ao terror dos todo-poderosos donos do país; a milhares de dirigentes sindicais que têm denunciado as centenas de empresas que patrocinam o paramilitarismo; a dezenas de dirigentes indígenas que têm tido o valor de lutar por seus direitos. Por isso têm assassinado e expulsado milhares de lutadores populares e defensores dos direitos humanos; os têm assassinado, desaparecido ou expulsado para que nada nem ninguém os denuncie.
Em qualquer país do mundo medianamente democrático, quando um governante, dirigente político e inclusive empresarial, se vê envolto em um escândalo, como o que compromete seriamente Uribe, renuncia de imediato. Mas ele não o fará apesar dos parlamentares, eleitos com os mesmos votos que elegeram Uribe estarem no cárcere. Não renunciará apesar do chefe da Polícia Política (DAS) e os inflamados oficiais do Exército (condecorados e enaltecidos pelo Presidente), também estarem no cárcere; assim como os ministros, governadores, vereadores, deputados e conselheiros que estão sendo investigados pela vinculação com milhares de assassinatos, torturas e a expulsão de mihões de pessoas. E não renunciará porque está convencido, tal qual seu homólogo Bush, que são iluminados por Deus para combater o “terrorismo”, que é como hoje chamam aos povos que lutam por justiça, soberania, independência e dignidade.
Temos que impedir que a classe governante, o Estado e Estabelecimento voltem a escapar e se perca a oportunidade de que o povo conheça a magnitude da tragédia; temos que fazer com que a comunidade internacional saiba quem são os verdadeiros responsáveis de tanta dor, desaforo e morte; temos que conseguir que todos os que tem sido vítimas da violência sejam ressarcidos moral e materialmente. A memória histórica não se deve perder, temos que lutar para que haja justiça.
Para fazermos tudo isso é imprescindível a mais ampla e sólida unidade, onde estejamos todos os que de uma forma ou de outra temos nos oposto ao Estado narcoparamilitar da Oligarquia e do Império.
Os partidos políticos de esquerda, as organizações sociais da cidade e do campo, os intelectuais e profissionais democrata, os estudantes, os camponeses, os indígenas e as pessoas que não fazem parte de nenhuma organização política nem partido, devem estar representados para participar de um projeto unitário de longo alcance, que culmine primeiramente na renúncia imediata de Uribe e sua Gentalha. Pela Paz, a Dignidade e a Independência da Pátria para instaurar um novo governo que se comprometa na investigação e castigo dos responsáveis intelectuais e materiais dos paramilitarismo de Estado, a ressarcir moral e materialmente as milhões de vitimas do terrorismo de Estado, estabeleça um sistema econômico que garanta a soberania sobre os recursos naturais e a justa distribuição das riquezas, em benefício dos pobres da Colômbia. Com um novo Regime político de acordo com a integração que vem acontecendo na América Latina e o Caribe. Que se comprometa a construir a reconciliação e a Paz com Justiça Social entra a família colombiana e se amplie a democracia para o que o povo exerça um verdadeiro controle das gestões administrativas, políticas e sociais da administração do Estado; para que NUNCA MAIS VOLTE A OCORRER A TRAGÉDIA QUE ESTAMOS VIVENDO HOJE.