"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 23 de março de 2007

Todos os caminhos conduzem a...

O Miniführer Uribe Vélez faz o espetáculo midiático de pedir a extradição dos diretores da Frutera sabendo que é impossível, como lembrou-o o ministro da guerra Santos, simplesmente porque eles são cidadãos norte-americanos que nunca poderão ser extraditados e porque segundo a lei estadunidense, apenas cometeram o crime de financiar e armar um grupo “terrorista” (o que já foi comprovado que se compra com uma multa de tamanho suficiente), mas nunca cometeram crimes contra a Humanidade.


Uribe Vélez um simples mordomo de casa!


[Alberto Pinzón Sánchez/ANNCOL]

Nada mostra melhor a história trágica da relação entre o Império e suas neo-colônias Latino-americanas, que a bela literatura em língua castelhana sobre as atividades da companhia Transnacional bananeira United Fruit Co. em Nossa Pátria Grande. A Frutera, como chamam suas vítimas.

O costarriquenho Luís Carlos Fallas, como testemunha presencial, nos deixou uma revelação verídica da batida dos trabalhadores das plantações de 1934, em seu trabalho Mamita Yunai. Pablo Neruda em seu imortal Canto General recria a exploração, o sangue e o lodo que custou a estranha afeição dos homens do norte pela musa banana. Miguel Angel Astúrias escreve a ficção real do Papa Verde. García Márquez sempre nos lembrará a folharada e a solidão eterna causadas em 1928 pelo espantoso massacre do exército colombiano nas bananeiras próximas a Macondo. E o verbo aceso de Jorge Eliécer Gaitán sempre brilhará nos indiferentes. Todas permanecerão como recreações imortais e acusadoras do acontecido.

A história, apesar do horror, do sangue e da exploração, pode ser sintetizada assim: A banana como fruta de consumo de massa era praticamente desconhecida nos EUA antes de 1870, logo depois, 30 anos mais tarde, já se comiam 18 milhões cachos de banana. Tudo começa na Costa Rica com a construção em 1871 da ferrovia do Atlântico por parte de Minor Keith, empresário norte-americano casado com a filha do presidente da Costa Rica.

Enquanto Keith construía a ferrovia para Puerto Limón, também se executava um mega-projeto paralelo: a compra de extensos latifúndios para o cultivo em massa de bananas em uma Zona Franca ou “filial” norte-americana. As plantações nos latifúndios latino-americanos cheias de sangue, suor e lágrimas de seus filhos, cresceram e frutificaram, então com a ferrovia terminada tornou-se possível transportar massivamente a banana ao porto e aos mercados dos Estados Unidos e logo da Europa. Dez anos mais tarde Keith possuía três companhias bananeiras. Logo se associou ao marinheiro Lorenzo Baker e ao financista de Boston, Andrew Preston, para fundar a Boston Fruit Company.

Em 1899, a Boston Fruit Company e a United Fruit Company (a Frutera) se fundiram para formar a maior companhia bananeira do mundo, dona de grandes zonas bananeiras na Guatemala, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, Colômbia, Cuba, Panamá, Equador, Jamaica e Santo Domingo. Possuía onze barcos a vapor, conhecidos como a Great White Fleet, mais outros 30 barcos arrendados. A companhia também possuía mais de 300kms de ferrovias próprias que vinculavam os pólos bananeiros com os portos de exportação.

Em 1901, o ditador Guatemalteco, Manuel Estrada Cabrera outorgou à Frutera o exclusivo direito de transportar o correio entra a Guatemala e os EUA. Keith então disse “Guatemala tem um clima ideal para as inversões”. Criou a companhia guatemalteca de ferrovias como uma filial da La Frutera e capitalizou cerca de 40 milhões de dólares da época, para logo contratar com o ditador, a construção de uma ferrovia e uma linha de telégrafos entre a cidade da Guatemala e Puerto Barrios, aonde adquiriu a preço nominal o cais do porto.

Os outros países da América Central e alguns da América do Sul também caíram diante do poderoso manto da La Frutera mas nenhum como a Guatemala. Ali gerava-se mais de 25 por cento do total da produção da companhia. Obteve o controle de todos os meios de transporte e comunicações e chegou a cobrar uma tarifa sobre cada artigo de frete movido dentro e fora do país através de Puerto Barrios. Por muitos anos, os cultivadores de café tinham que pagar à La Frutera tarifas muito altas, para manter o preço mundial do café guatemalteco no mercado mundial a níveis especulativos. A United Fruit Company eximiu a si mesma de pagar qualquer imposto ao Estado da Guatemala por 99 anos, e monopolizou praticamente toda sua vida econômica e social. Foi quando esse país passou a se chamar desrespeitosamente por Keith como : Minha “Banana Republic”.

A capital “do governo” da United Fruit Company, na Guatemala, estava em Bananera, onde a gerência construiu seu quartel general. A partir dali dominou e controlou por muitos anos seu monopólio, corrompendo governos e políticos não só na Guatemala mas em todo o espaço latino-americano, contando para isso com o apoio incondicional dos sucessivos sanguinários ditadores guatemaltecos, que mantiveram seu poder por longos anos aterrorizando e massacrando a população trabalhadora. A mais conhecida por ser matéria literária foi a onda assassina do “Senhor Presidente” Jorge Ubico.

Em 1944 os guatemaltecos derrubaram Jorge Ubico e a Guatemala teve suas primeiras eleições na história, saindo eleito Juan José Arévalo, que era um educador de tendências progressistas que realizou importantes avanços sociais.

Na Guatemala, 2.2 por cento da população possuía 75% da terra cultivável do país, e entre eles o principal e maior latifundiário era La Frutera. Arévalo foi sucedido em 1950 por Jacobo Arbenz, que continuou o processo começado por seu predecessor, mas aprofundando a reforma agrária.

La Frutera, sentindo que seus interesses estavam ameaçados, recorreu à John Foster Dulles, um de seus prestigiosos advogados, que nesse momento era diretor da Agência Central de Inteligência, CIA. O Governo do General Eisenhower declarou que Arbénz era “comunista”, e em 1954 o derrubaram com uma sangrenta e exemplar invasão de “US Marines”, para colocar em seu lugar o capacho Castillo Armas e novamente todo o país sob os interesses da La Frutera.

Na Colômbia, durante o massacre do enclave de Santa Maria, executado pelo Gen. Cortés Vargas, 26 anos atrás (em 1928), não houve necessidade de recorrer aos US Marines como na Guatemala. O exército colombiano pôde realiza-la sozinho, porque o Governo submisso de Abadia Méndez cedeu servilmente à solicitação do inesquecível gerente da La Frutera, Mr Thomas Bradshaw.

A acumulação permantente de capital forçou a La Frutera a diversificar negócios e assim vão aparecendo na América Latina outros grandes cultivos diferentes da bananeira como o abacaxi e o azeite de oliva. La Frutera desprestigiada limpa seu nome do sangue operário e se converte em United Brands para ser absorvida em 1970 pela Corporação del Monte. Agora se chamará Chiquita Brands e poderá reeditar suas velhas e impunes façanhas genocidas.

Colômbia é o lugar ideal. A zona bananeira de Urabá está no auge e oferece excelentes oportunidades de negócios: Selva extensa, grandes rios, fronteiras incontroláveis, portos profundos, golfo de Urabá, cultivos de palma. Mão-de-obra barata. Colonização acelerada com Latifúndios férteis e fáceis. Grêmios empresariais bem organizados e ativos, bananeiros em Augura, pecuaristas em Fedegán, agricultores na SAC, palmicultores. Perspectiva de um canal transoceânico pelo Choco. O que faltava? O controle político-militar.

Começa a circular em panfletos clandestinos editados na brigada militar de Carepa o “plano retorno em Urabá” e lentamente as fichas do quebra-cabeças vão aparecendo: José Manuel Arias Carrizosa, aquele advogado liberal que em um afortunado dia de eleições disse que preferia cortar o dedo indicador direito, para não ter que votar por Turbay Ayala, agora é seu mais fiel ministro e ocupará a genrência do grêmio bananeiro de Augura com sede em Urabá. Carlos Castaño, apoiado desde a brigada militar mais próxima e financiado magnanimamente pela Frutera, inicia seu impune plano genocida, para colocar toda a região sob seu controle, e um jovem político liberal e pecuarista da região chamado Álvaro Uribe Vélez, financia com dinheiro da Chiquita Brand sua candidatura ao governo de Antioquia. Basta olhar os livros de sua campanha eleitoral. Rito Alejo del Rio, aquele dos aviões a Mapiripán, é promovido a general da república e chamado para compor a Brigada de Urabá.

O que veio depois é o que agora estão apenas insinuando pelos meios de comunicação norte-americanos como o “escândalo da Chiquita Brand”, e que então teve que ser reproduzido (sem mencionar o Santo milagreiro mas com o correspondente rasgo no vestido), pela falsa mídia do regime:

Milhões de dólares para financiar e armar o “plano retorno em Urabá” que significou o genocídio total da União Patriótica e dos comunistas na zona. A cooptação do sindicato bananeiro pelo extermínio de seus melhores quadros. O domínio paramilitar da região e guerra suja que não terminou. Ganhos incomuns em Medellín e Washington, mega-projetos (bananeiro-biocombustível-canal chocolateiro-carreteira Puebla Quibdó), em marcha que não pára.

Mas não é tudo. O Miniführer Uribe Vélez faz o espetáculo midiático de pedir a extradição dos diretores da Frutera sabendo que é impossível, como lembrou-o o ministro da guerra Santos, simplesmente porque eles são cidadãos norte-americanos que nunca poderão ser extraditados e porque segundo a lei estadunidense, apenas cometeram o crime de financiar e armar um grupo “terrorista” (o que já foi comprovado que se compra com uma multa de tamanho suficiente), mas nunca cometeram crimes contra a Humanidade.

Assim as coisas, todos os caminhos conduzem ao presidente Uribe Vélez, como também a Washington. Uma pena que lá acreditem que não temos memória, e que todo esse genocídio será esquecido.

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