Fontes militares confirmam que os E.U.A. utilizaram a base de Manta no Equador para o ataque ao acampamento
Fontes militares e diplomáticas vinculam a Base Aérea de Manta, operada pelos Estados Unidos em território equatoriano, com o ataque ao acampamento da guerrilha colombiana das FARC, onde morreu “Raúl Reyes”.
Por Kintto Lucas, IPS, publicado no Rebelión
A base, situada cerca de 230 quilômetros ao sudoeste de Quito, em uma cidade portuária sobre o oceano Pacífico, foi cedida em 1999 por 10 anos à Força Aérea dos Estados Unidos para utilizá-la em atividades contra o narcotráfico no noroeste da América do Sul.
Um alto oficial militar equatoriano, que pediu que não divulgassem seu nome, assegurou à IPS que “uma boa parte dos oficiais” tem “a convicção de que os Estados Unidos foi cúmplice do ataque” lançado no dia 1º de março no território do Equador contra o acampamento que as insurgentes FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) tinham muito perto da fronteira colombiana.
“Desde o ano 2000, quando se iniciou o Plano Colômbia, se consolidou uma aliança estratégica dos Estados Unidos e da Colômbia, primeiro para combater a insurgência e logo para envolver os países vizinhos nessa guerra. O que acontece hoje é uma conseqüência daquilo”, assegurou o militar.
O Plano Colômbia é executado por Bogotá para combater a insurgência e o tráfico de drogas, com apoio e financiamento dos Estados Unidos.
Para o ministro da Defesa do Equador, Wellington Sandoval, deve-se investigar se a base de Manta foi utilizada para o ataque e, segundo o convênio assinado por Washington e Quito, cabe às Forças Armadas equatorianas realizar essa auditoria.
O convênio entre o Equador e os Estados Unidos estabelece que as instalações de Manta apenas podem destinar-se ao controle anti-narcóticos.
Sandoval esclareceu que não podia divulgar nenhum detalhe até que esta investigação fosse concluída.
Mas a fonte militar assegurou à IPS que se devem “pesquisar sobre todos os vôos saídos da base durante os vinte dias anteriores ao bombardeio, quem estava à bordo, suas rotas e o que investigavam, e complementá-lo com outras indagações e antecedentes”.
Na quinta-feira (13), a chanceler equatoriana María Isabel Salvador disse que havia mantido “uma conversa com a embaixadora (estadunidense) Linda Jewell, e nos assegurou que os aviões ali presentes não tinham nenhum envolvimento” no ataque.
Mas a fonte militar assegurou que “a tecnologia utilizada, primeiro para detectar o branco, ou seja, o acampamento, depois para atacá-lo, é dos Estados Unidos”.
O ministro Sandoval disse que no bombardeio se utilizaram “equipamento que as forças armadas latino-americanas não possuem”.
“Usaram mais ou menos cinco ‘smart bombs’ (bombas inteligentes)” utilizadas pelos Estados Unidos na guerra do Golfo (1991) “com uma precisão impressionante” e uma margem de erro de um metro “de noite, em aviões a grandes velocidades”, acrescentou.
A fonte militar consultada por IPS disse que “um ataque com bombas ‘smart’ exige que os pilotos tenham experiência nesse tipo de operações, e quem as têm são os norte-americanos (estadunidenses). Por isso acredito que eles fizeram o trabalho e logo disseram aos colombianos ‘agorão vão buscar os corpos’, então apareceram os helicópteros e as tropas colombianas” no lugar, sustentou.
A versão oficial do governo da Colômbia, resenhada por uma comissão da Organização dos Estados Americanos (OEA) que visitou ambos países, afirma que foram usadas 10 bombas “convencionais”, lançadas de cinco aviões Super Tucano, de fabricação brasileira, e de três A-37, estadunidenses.
Os A-37 “lançaram bombas guiadas por GPS (Sistema de Posicionamento Global, satelital)” e os “cinco Super Tucano dispõem de meios tecnológicos suficientes para lançar bombas em alvos com uma margem de erro de cinco metros”, indica o informe da OEA.
De acordo com as fontes da IPS, o papel estadunidense poderia ser inclusive maior no episódio que acabou com a vida de Reyes, membro do secretariado das FARC, e de outras 24 pessoas e que levou à ruptura de relações entre Quito e Bogotá.
A fonte militar disse à IPS que os pilotos que conduziram o bombardeio na província equatoriana e amazônica de Sucumbíos “eram estadunidenses, possivelmente da empresa DynCorp”, provedora de equipamento bélico e mercenários, que têm contratos no marco do Plano Colômbia.
Essas aeronaves saíram da Base Aérea de Três Esquinas, no departamento colombiano sulista de Caquetá, disse o oficial.
“Os aviões utilizados para fumigar as plantações de coca ou para atacar a guerrilha são pilotados por militares norte-americanos a serviço de empresas como DynCorp”, assegurou o militar.
O presidente do Equador, Rafael Correa, disse no sábado que seu governo não permitirá “que nenhum soldado estrangeiro viole sua pátria, seja regular ou irregular. Por isso em 2009 as bases estrangeiras se acabarão”.
O convênio sobre Manta terminará no dia 12 de novembro de 2009, mas a presença de militares estadunidenses nessa base e em portos equatorianos podem se prolongar por mais um ano, até 2010.
“Assim que terminar o período inicial de dez (10) anos, qualquer das partes poderá cancelar o acordo mediante uma notificação escrita à outra parte. O cancelamento surtirá efeito um ano depois da data de notificação”, estabelece o convênio.
Uma comissão da Assembléia Constituinte do Equador aprovou na segunda o capítulo sobre a soberania territorial da futura carta magna.
Um de seus artigos afirma que o “Equador é um território de paz. Não se permite o estabelecimento de bases militares estrangeiras nem de instalações estrangeiras com propósitos militares. Não se pode ceder bases militares nacionais à forças de segurança estrangeiras”.
Se o Equador quiser pôr fim à concessão de Manta, deveria cancelar o convênio agora, disseram fontes diplomáticas à IPS.
Poderiam alegar “muitas causas: a participação direta ou indireta (de forças estadunidenses de Manta) no bombardeio, a negligência por não haver detectado com sua tecnologia o acampamento das FARC, primeiro, e o ataque depois, e, no caso de havê-los detectado, por não haver informado às autoridades do país sócio, que é o Equador”, alegaram as fontes.
Outra razão na qual a denúncia equatoriana poderia se basear é o apoio direto prestado pelo Comando do Sul dos Estados Unidos, do qual faz parte Manta, às Forças Armadas da Colômbia.
O chefe do Comando Sul, o almirante James Stravridis, disse no dia 6 desse mês perante o Comitê dos Serviços Armados de seu país que estava monitorando a movimentação de tropas equatorianas e venezuelanas rumo à fronteira com a Colômbia.
“Com o contínuo apoio dos Estados Unidos, a Colômbia está à ponto de ganhar a paz e tornar irreversíveis seus exitosos avanços contra o terrorismo”, disse e assegurou que essa guerrilha “reduziu-se agora à uns 9.000 combatentes, dos 17.500 que eram em 2002”. Stravridis visitou a Colômbia em fevereiro.
Em julho de 2001, o coronel afastado Fausto Cobo, ex-diretor da Escola de Guerra do exército equatoriano, havia dito à IPS que “Manta, para o propósito do Plano Colômbia”, é um “porta-aviões em terra dos Estados Unidos”.
Até abril desse ano, quando começaram os trabalhos para ampliarem a pista de Manta, uma média de 100 efetivos participavam em até três missões diárias utilizando o avião espião F3.
Uma fonte diplomática dos Estados Unidos anunciou então ao diário britânico The Financial Times que para outubro seriam mais 200 efetivos e outros tantos mais nos meses subseqüentes.
Logo após a ampliação, começaram a utilizar aviões maiores e mais sofisticados para missões de reconhecimento.
Manta é um dos quatro “postos avançados de operações”, junto com Curaçao, Aruba e El Salvador, que formam a rede estadunidense de bases anti-drogas na América Latina e O Caribe.
Em agosto de 2006, o diário Expresso de Guayaquil informou que pilotos colombianos operavam em conjunto com pilotos equatorianos em vôos a partir da base de Manta.
O comandante do esquadrão de aviões Awacs (Sistema Aéreo de Alerta e Controle, por sua sigla em inglês) de Manta, Rich Boyd, assegurou ao jornal que um oficial colombiano pilotava uma dessas aeronaves.
Segundo Boyd, quando se voava sobre o Equador, o colombiano se retirava da cabine da tripulação para não obter informações confidenciais desse país. Do mesmo modo, quando se sobrevoava o território da Colômbia, o equatoriano era quem se afastava, com o mesmo propósito.
De acordo com Boyd, dos 27 aviões Awacs que possuía os Estados Unidos, três estavam em Manta. Cada aparato custa 1 bilhão de dólares, quase o dobro do orçamento da Força Aérea equatoriana em 2005.
O militar estadunidense explicou que, mediante essa aeronave, se podem monitorar todas as conversas de rádio e sinais de radar em um raio de 321,8 quilômetros. Semanas antes dessa denúncia, o então comandante estadunidense da base de Manta, Javier Delucca, assegurou que essa instalação é chave para o Plano Colômbia, com o que deu a entender que o Equador estava envolvido em atividades anti-guerrilheiras no país vizinho.
Um alto oficial militar equatoriano, que pediu que não divulgassem seu nome, assegurou à IPS que “uma boa parte dos oficiais” tem “a convicção de que os Estados Unidos foi cúmplice do ataque” lançado no dia 1º de março no território do Equador contra o acampamento que as insurgentes FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) tinham muito perto da fronteira colombiana.
“Desde o ano 2000, quando se iniciou o Plano Colômbia, se consolidou uma aliança estratégica dos Estados Unidos e da Colômbia, primeiro para combater a insurgência e logo para envolver os países vizinhos nessa guerra. O que acontece hoje é uma conseqüência daquilo”, assegurou o militar.
O Plano Colômbia é executado por Bogotá para combater a insurgência e o tráfico de drogas, com apoio e financiamento dos Estados Unidos.
Para o ministro da Defesa do Equador, Wellington Sandoval, deve-se investigar se a base de Manta foi utilizada para o ataque e, segundo o convênio assinado por Washington e Quito, cabe às Forças Armadas equatorianas realizar essa auditoria.
O convênio entre o Equador e os Estados Unidos estabelece que as instalações de Manta apenas podem destinar-se ao controle anti-narcóticos.
Sandoval esclareceu que não podia divulgar nenhum detalhe até que esta investigação fosse concluída.
Mas a fonte militar assegurou à IPS que se devem “pesquisar sobre todos os vôos saídos da base durante os vinte dias anteriores ao bombardeio, quem estava à bordo, suas rotas e o que investigavam, e complementá-lo com outras indagações e antecedentes”.
Na quinta-feira (13), a chanceler equatoriana María Isabel Salvador disse que havia mantido “uma conversa com a embaixadora (estadunidense) Linda Jewell, e nos assegurou que os aviões ali presentes não tinham nenhum envolvimento” no ataque.
Mas a fonte militar assegurou que “a tecnologia utilizada, primeiro para detectar o branco, ou seja, o acampamento, depois para atacá-lo, é dos Estados Unidos”.
O ministro Sandoval disse que no bombardeio se utilizaram “equipamento que as forças armadas latino-americanas não possuem”.
“Usaram mais ou menos cinco ‘smart bombs’ (bombas inteligentes)” utilizadas pelos Estados Unidos na guerra do Golfo (1991) “com uma precisão impressionante” e uma margem de erro de um metro “de noite, em aviões a grandes velocidades”, acrescentou.
A fonte militar consultada por IPS disse que “um ataque com bombas ‘smart’ exige que os pilotos tenham experiência nesse tipo de operações, e quem as têm são os norte-americanos (estadunidenses). Por isso acredito que eles fizeram o trabalho e logo disseram aos colombianos ‘agorão vão buscar os corpos’, então apareceram os helicópteros e as tropas colombianas” no lugar, sustentou.
A versão oficial do governo da Colômbia, resenhada por uma comissão da Organização dos Estados Americanos (OEA) que visitou ambos países, afirma que foram usadas 10 bombas “convencionais”, lançadas de cinco aviões Super Tucano, de fabricação brasileira, e de três A-37, estadunidenses.
Os A-37 “lançaram bombas guiadas por GPS (Sistema de Posicionamento Global, satelital)” e os “cinco Super Tucano dispõem de meios tecnológicos suficientes para lançar bombas em alvos com uma margem de erro de cinco metros”, indica o informe da OEA.
De acordo com as fontes da IPS, o papel estadunidense poderia ser inclusive maior no episódio que acabou com a vida de Reyes, membro do secretariado das FARC, e de outras 24 pessoas e que levou à ruptura de relações entre Quito e Bogotá.
A fonte militar disse à IPS que os pilotos que conduziram o bombardeio na província equatoriana e amazônica de Sucumbíos “eram estadunidenses, possivelmente da empresa DynCorp”, provedora de equipamento bélico e mercenários, que têm contratos no marco do Plano Colômbia.
Essas aeronaves saíram da Base Aérea de Três Esquinas, no departamento colombiano sulista de Caquetá, disse o oficial.
“Os aviões utilizados para fumigar as plantações de coca ou para atacar a guerrilha são pilotados por militares norte-americanos a serviço de empresas como DynCorp”, assegurou o militar.
O presidente do Equador, Rafael Correa, disse no sábado que seu governo não permitirá “que nenhum soldado estrangeiro viole sua pátria, seja regular ou irregular. Por isso em 2009 as bases estrangeiras se acabarão”.
O convênio sobre Manta terminará no dia 12 de novembro de 2009, mas a presença de militares estadunidenses nessa base e em portos equatorianos podem se prolongar por mais um ano, até 2010.
“Assim que terminar o período inicial de dez (10) anos, qualquer das partes poderá cancelar o acordo mediante uma notificação escrita à outra parte. O cancelamento surtirá efeito um ano depois da data de notificação”, estabelece o convênio.
Uma comissão da Assembléia Constituinte do Equador aprovou na segunda o capítulo sobre a soberania territorial da futura carta magna.
Um de seus artigos afirma que o “Equador é um território de paz. Não se permite o estabelecimento de bases militares estrangeiras nem de instalações estrangeiras com propósitos militares. Não se pode ceder bases militares nacionais à forças de segurança estrangeiras”.
Se o Equador quiser pôr fim à concessão de Manta, deveria cancelar o convênio agora, disseram fontes diplomáticas à IPS.
Poderiam alegar “muitas causas: a participação direta ou indireta (de forças estadunidenses de Manta) no bombardeio, a negligência por não haver detectado com sua tecnologia o acampamento das FARC, primeiro, e o ataque depois, e, no caso de havê-los detectado, por não haver informado às autoridades do país sócio, que é o Equador”, alegaram as fontes.
Outra razão na qual a denúncia equatoriana poderia se basear é o apoio direto prestado pelo Comando do Sul dos Estados Unidos, do qual faz parte Manta, às Forças Armadas da Colômbia.
O chefe do Comando Sul, o almirante James Stravridis, disse no dia 6 desse mês perante o Comitê dos Serviços Armados de seu país que estava monitorando a movimentação de tropas equatorianas e venezuelanas rumo à fronteira com a Colômbia.
“Com o contínuo apoio dos Estados Unidos, a Colômbia está à ponto de ganhar a paz e tornar irreversíveis seus exitosos avanços contra o terrorismo”, disse e assegurou que essa guerrilha “reduziu-se agora à uns 9.000 combatentes, dos 17.500 que eram em 2002”. Stravridis visitou a Colômbia em fevereiro.
Em julho de 2001, o coronel afastado Fausto Cobo, ex-diretor da Escola de Guerra do exército equatoriano, havia dito à IPS que “Manta, para o propósito do Plano Colômbia”, é um “porta-aviões em terra dos Estados Unidos”.
Até abril desse ano, quando começaram os trabalhos para ampliarem a pista de Manta, uma média de 100 efetivos participavam em até três missões diárias utilizando o avião espião F3.
Uma fonte diplomática dos Estados Unidos anunciou então ao diário britânico The Financial Times que para outubro seriam mais 200 efetivos e outros tantos mais nos meses subseqüentes.
Logo após a ampliação, começaram a utilizar aviões maiores e mais sofisticados para missões de reconhecimento.
Manta é um dos quatro “postos avançados de operações”, junto com Curaçao, Aruba e El Salvador, que formam a rede estadunidense de bases anti-drogas na América Latina e O Caribe.
Em agosto de 2006, o diário Expresso de Guayaquil informou que pilotos colombianos operavam em conjunto com pilotos equatorianos em vôos a partir da base de Manta.
O comandante do esquadrão de aviões Awacs (Sistema Aéreo de Alerta e Controle, por sua sigla em inglês) de Manta, Rich Boyd, assegurou ao jornal que um oficial colombiano pilotava uma dessas aeronaves.
Segundo Boyd, quando se voava sobre o Equador, o colombiano se retirava da cabine da tripulação para não obter informações confidenciais desse país. Do mesmo modo, quando se sobrevoava o território da Colômbia, o equatoriano era quem se afastava, com o mesmo propósito.
De acordo com Boyd, dos 27 aviões Awacs que possuía os Estados Unidos, três estavam em Manta. Cada aparato custa 1 bilhão de dólares, quase o dobro do orçamento da Força Aérea equatoriana em 2005.
O militar estadunidense explicou que, mediante essa aeronave, se podem monitorar todas as conversas de rádio e sinais de radar em um raio de 321,8 quilômetros. Semanas antes dessa denúncia, o então comandante estadunidense da base de Manta, Javier Delucca, assegurou que essa instalação é chave para o Plano Colômbia, com o que deu a entender que o Equador estava envolvido em atividades anti-guerrilheiras no país vizinho.