James Petras: as FARC-EP, São uma das forças mais conseqüentes na luta
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Entrevista à rádio uruguaia Centenário
Comentários para a Radio Centenário do sociólogo norte-americano, Prof. James Petras. Segunda, 10 de março de 2008: “as FARC estão nessa situação bastante difícil e complicada frente aos atores internacionais e os massacres internos. Acredito que vale a pena considerar que as FARC são uma das forças mais conseqüentes na luta e deve tomá-las como um ponto de referência entre os acontecimentos entre os equatorianos, venezuelanos e o governo de Uribe”
Comentários para a Radio Centenário do sociólogo norte-americano, Prof. James Petras. Segunda, 10 de março de 2008: “as FARC estão nessa situação bastante difícil e complicada frente aos atores internacionais e os massacres internos. Acredito que vale a pena considerar que as FARC são uma das forças mais conseqüentes na luta e deve tomá-las como um ponto de referência entre os acontecimentos entre os equatorianos, venezuelanos e o governo de Uribe”
Chury: Bom dia! São 11 horas e 34 minutos, e estamos iniciando a cobertura internacional nesse momento e aguardando a comunicação com James Petras lá nos Estados Unidos, para falar com ele sobre variados temas, porque foi um fim de semana de eleições. Eleições na Espanha, na França; o fim da reunião do Grupo do Rio em Santo Domingo; que aconteceu na trilogia do desentendimento Colômbia-Equador-Venezuela. Conflito do Oriente Médio e uma notícia que é diária, que é o aumento do preço do petróleo,a queda das Bolsas e o aumento do preço dos alimentos.
James Petras, bom-dia, como vai?
Petras: Muito bem. Aqui estamos contemplando os últimos acontecimentos sobre o conflito entre Colômbia, Equador e Venezuela.
Chury: Bem, justamente eu tinha essa pergunta. O que você achou da reunião de Santo Domingo?
Petras: É muito complexo porque há muitas versões contraditórias sobre como interpretar esta reconciliação ou solução ou simples fachada de uma reconciliação.
Eu acredito que em primeira instância o fato é que o conflito bélico que estava a ponto de acontecer está postergado por um tempo, com a pseudo-desculpa de Uribe e as pressões de governos neoliberais sobre os governos do Equador e da Venezuela, que aceitaram o fato de que não devem romper relações e seguir a defesa própria das fronteiras com forças bélicas.
Me incomoda o fato de que Chávez e Correa apertaram as mãos de Uribe diante do assassinato do Comandante Reyes e os outros assassinatos que Uribe cometeu nos últimos tempos. Eu acredito que uma coisa é aceitar taticamente um recuo nesse conflito mas aceitar a mão do maior assassino, depois de denunciá-lo como sanguinário carniceiro, não me parece apropriado nessas circunstâncias.
Agora Correa mostra a cara de nojo se você assistir o vídeo na televisão...
Chury: Eu o vi esta manhã
Petras: Sim, muito incomodado aceitou a mão do senhor Uribe. O mais palhaço foi Ortega, que abraçou Uribe mas não devemos esperar muitas coisas de Daniel Ortega. É quase um palhaço: de um lado aceita o livre comércio, fala com Chávez e é antiimperialista, não é uma pessoa séria de esquerda. Em todo o caso o fato é de que estas negociações humanitárias fizeram muito dano às FARC, eu quero enfatizar isso.
Dizem que a meta de Uribe era prejudicar o protagonismo de Chávez e a liberação de Ingrid Betancour e as conversações que Kouchner tinha com o senhor Reyes, o Comandante; também Larrea, o Ministro de Correa que também tinha conversações.
Obviamente Reyes estava desempenhando um papel chave, vinculando-se aos europeus e o presidente Chávez, mas também com tantas reuniões e comunicações estava muito vulnerável a um ataque da Colômbia, pelo fato de que os Estados Unidos está monitorando todas as comunicações, tanto dos países vizinhos como dos demais.
Nesse sentido ele pensava que pelo fato de estar ajudando na liberação não iam tocá-lo, mas creio que as FARC já perderam mais de duas dezenas de pessoas que cumpriam essas missões humanitárias enquanto não receberam a liberação dos presos das FARC que estão apodrecendo nos cárceres de Uribe, muitos doentes que necessitam de tratamento médico e nada falou de liberar nenhum preso da guerrilha, nada falaram de algum ato unilateral de Uribe.
Uribe segue sua agressão, agora tem a reconciliação e não fez nada recíproco. Destruíram todo o plano original das FARC que era um território desmilitarizado, um intercâmbio de presos de ambos os lados e tudo o mais. Acredito que as FARC devem repensar toda a sua política no exterior, tanto o custo de liberar quase uma dezena de presos sem receber nada. É uma coisa a se pensar. E os meios, tanto os progressistas como Brecha como todos os demais: o jornal La Jornada do México, não avaliou este processo do ângulo de como aceitam as FARC e os presos das FARC. Só falam do dano que Uribe fez às negociações, ao protagonismo de Chávez, etc.
Eu estive com Chávez não no domingo passado, mas na outra semana em meio à grande crise e Chávez fez um bom diagnóstico. Conversamos sobre as possibilidades de uma guerra com Colômbia e ele manteria uma posição bastante crítica, estava triste com a morte do revolucionário Reyes, mas ao mesmo tempo seguia exigindo que as FARC entreguem Ingrid Betancourt sem insistir que Colômbia entregasse algumas dezenas de presos das FARC, e insistindo em dizer às FARC que não devem seguir a luta armada, sem levar em conta que cada dia o governo de Uribe está matando camponeses nas regiões onde as FARC têm influência. Camponeses desarmados e outras atrocidades. Não se pode dizer aos grupos guerrilheiros que se desarmem quando é quase certo que vão matá-los assim que entreguem as armas. Isso não se pode falar e acredito que deve ser levado em conta.
Eu tenho uma impressão muito positiva das intenções de Chávez em buscar a paz: mas a paz com segurança, com a justiça porque não se pode insistir em um contexto de genocídio. Acredito que isso não pode ser feito e as FARC o entendem muito melhor que qualquer outro personagem político no exterior.
Eu dizia para o senhor presidente que o problema de segurança interna na Venezuela é muito sério.
Ele me disse mais: dizia que há uma infiltração de paramilitares colombianos penetrando e criando a insegurança e a violência, particularmente na fronteira em um estado da Venezuela que se chama Zulia, o único lugar controlado pela oposição direitista e a partir desse estado fronteiriço estão entrando muitos colombianos com intenções violentas e eu lhe dizia: e como vai reagir a esse estado? Tem direito a um estado de sítio? Mas Chávez continua sendo extremamente liberal politicamente e tolerante e muito constitucionalista no mal sentido de observar leis constitucionais que a oposição ignora. Me lembro muito de Allende que era o último defensor da Constituição enquanto toda a burguesia e as cúpulas militares estavam violando-a a cada dia. Eu acredito que há limites do que se pode permitir em uma situação de segurança de emergência, mas Chávez segue sendo muito liberal, ultra-democrático, o que pode levá-lo a algum problema com a falta de respeito das normas democráticas por parte da direita.
Em minhas conversações na Venezuela com representantes da oligarquia, com pessoas representantes das petroleiras na Venezuela, vi que obviamente existe um enorme ódio ao povo chavista, têm o mesmo olhar nos olhos que via no Chile em 73, e qualquer estrangeiro opondo-se a Chávez é seu aliado. Por exemplo, a oligarquia e a imprensa burguesa na Venezuela, apóiam Uribe contra Venezuela, inclusive se há uma ameaça ou uma invasão não tenho dúvidas de que eles vão apoiá-la. Inclusive quando fiz essa pergunta me disseram “boas vindas aos colombianos”.
O outro é o de EXXON, que tomou posições de exigência exageradas congelando as ações no exterior e a oligarquia apóia a EXXON contra a Venezuela, apesar de que a OPEP apóie a Venezuela. Enquanto toda a América Latina está condenando a Colômbia pelo ataque, a oligarquia venezuelana o apóia, Bush o apóia. Talvez a oligarquia venezuelana seja a única força majoritária que apóia Bush agora então com um inimigo interno que está totalmente aliado com os piores inimigos da nação venezuelana. Não se podem tratar com moleza, é preciso ter uma capacidade de golpeá-los a qualquer momento, sobre as posições que estão assumindo.
Chury: Bem Petras, me pareceu uma análise muito boa. Mas temos duas eleições: a da Espanha, triunfo do PSOE, o voto útil, desaparição dos partidos verdadeiros de esquerda e as eleições na França e a derrota do presidente Sarkozy.
Petras: Bom, entre outras coisas o PC, Esquerda Unida na Espanha cometeu um erro estratégico já há mais de uma década: com Paco Frutos encabeçando, apoiaram criticamente que se formassem alianças com o PSOI, apesar de uma retórica crítica em muitas prefeituras se formaram alianças então não me surpreende que hajam desaparecido porque se a gente diz, se a Esquerda Unida pode se unir com o PSOI, então por que não votar no PSOI? Então desde a época de Anguita, que o PC tinha um voto respeitável de vários milhões, com a política de colaboração de Paco Frutos perderam sua presença, quase desaparecendo.
E por outro lado, o boom econômico, o crédito fácil de Zapatero e a oposição pro-franquista da direita, influi nas novas gerações espanholas que foram votar.
Mais que um voto em Zapatero, era um voto contra a direita e acredito que é muito importante peo manejo da economia na Espanha, a ênfase no boom especulativo, a construção, bolha imobiliária; Espanha já está em queda vertical entrando em uma recessão grave. Aumenta o desemprego a cada dia... Acredito que o próximo mandato de Zapatero vai ser muito difícil, muito diferente do que poderia pensar no passado recente.
Não vejo nenhuma repetição do crescimento anterior e acredito que vão rumo a um crescimento de quase zero em 2008 e uma enorme acumulação de dívidas nas contas externas.
Com isso quero dizer que não se pode manter o poder no governo, mas este ano vai ser cada vez mais debiltado. O problema é que a esquerda tão debilitada é difícil que ofereça uma alternativa, pelo menos eleitoral. Mas imagino que com um aumento grande do desemprego, talvez a esquerda possa montar greves e protestos a partir das organizações sociais.
Na França o repúdio a Sarkozy é incrível. Antes das eleições, as últimas pesquisas de opinião pública diz que mais de 65 por cento está contra sua política econômica e ao invés de reconhecer e retificar, parece que vai insistir em aprofundar as medidas neoliberais. Eu acredito que a próxima luta não vai estar nas eleições e sim nas ruas e combinando a debilidade eleitoral em nível local, municipal, regional, vamos ver uma onda de protestos e greves em um governo desprestigiado bastante rapidamente que por ser tanto um peão de Washington vai contra todas as tradições independentes e também o servente de Israel com sua vergonhosa política com o sionista chanceler Bernard Kouchner, também perdeu muito prestígio na França, então eu acredito que a esquerda tem uma grande oportunidade de avançar na França, mas com a contradição de que há uma forte ala do Partido Socialista que critica Sarkozy, mas que também são neoliberais e isso deve ser tomado em conta também. Há uma oposição, há um repúdio a Sarkozy, há uma grande maioria repudiando as medidas neoliberais, mas quem pode capitalizar isso com uma verdadeira alternativa?
Chury: Petras, aumenta o preço do petróleo, caem as Bolsas e aumenta o preço dos alimentos no mundo. Os capitalistas controlarão essa crise? De que maneira poderá afetar países pequenos e dependentes como o Uruguai?
Fazemos essa pergunta, porque aqui os economistas como Astori, dizem que a economia está forte e que não vai afetar em nada o desenvolvimento do país.
Petras: Isso nem ele mesmo acredita, isso é simplesmente para tratar de dar ânimo aos especialistas que são muito mais pessimistas. Ele é mais um marciano que um economista, vive fora da órbita dos economistas sérios.
Aqui nos Estados Unidos estamos em recessão, estamos no crescimento negativo, o sistema financeiro está cambaleando e estou citando especialistas ortodoxos do Financial Times: o sistema de crédito, as grandes casas de investimento, estão ruindo.
Carlyle, uma grande empresa de investimentos, está em uma profunda crise, perderam bilhões de dólares em um trimestre. Agora os ortodoxos estão divididos não entre se há crise ou não, mas sobre a profundidade da crise. Inclusive algum setor,todavia minoritário,está falando de que poderíamos entrar em uma quebra da economia. Uma quebra, ruptura com o padrão dos últimos anos e entrar em uma extensa depressão. Agora o debate entre recessão e depressão está operativo. As importações norte-americanas estão caindo. China baixou grande parte das suas importações aos E.U.A., a inflação, estancamento e recessão dos E.U.A. é operativa; o Banco Central aqui canalizou 200 bilhões para salvar os Bancos e está pensando em baixar a taxa de juros a zero para estimular a economia. Agora nos próximos dias vai baixar a taxa de juros a 2 por cento. Há uma enorme angústia no chefe do Banco Central e Astori está falando que não vai afetar o Uruguai? Eu acredito que sim; o que Astori está falando é que os preços agro-industriais, os produtos agrícolas, seguem altíssimos. Nesse sentido, apesar de que a demanda pode diminuir, ainda assim vão receber ingressos enquanto haja escassez de farinha e outros produtos de consumo então é possível que por um tempo, durante esse ano, que tanto o Uruguai como a Argentina e outros países exportadores possam seguir recebendo bons ingressos, mas no final das contas os outros produtos agrários vão sofrer. E o setor banqueiro vai sofrer então a pergunta que eu faço é se o Uruguai depende só do agro e dos altos preços no exterior ou se tem uma economia mais ampla que o setor de serviços, manifatureiro, financeiro.. Está em condições de evitar a crise mundial ou é tão inlnerável em função de uma economia “pastoral”? Eu não acredito que é uma economia puramente pastoral. Nesse caso os setores agrários vão sofrer como nos demais países do mundo.
Chury: Bom Petras, te agradeço muitíssimo a profunda análise que fez de temas que nos importam muito. Te mando em nome da audiência de Centenário um grande abraço daqui.
Petras: Bom. Mando um grande abraço daqui também e oxalá vocês possam ter um programa tratando o tema das FARC e como as FARC estão nessa situação bastante difícil e complicada frente aos atores internacionais e os massacres internos.
Acredito que vale a pena considerar que as FARC são uma das forças mais conseqüentes na luta e devem tomá-las como um ponto de referência entre os acontecimentos entre os equatorianos, venezuelanos e no governo de Uribe. Muito obrigado.
Chury: Que fique muito bem. E estamos fazendo programas precisamente e é muito bom o conceito que nos envia sobre as FARC.
James Petras, bom-dia, como vai?
Petras: Muito bem. Aqui estamos contemplando os últimos acontecimentos sobre o conflito entre Colômbia, Equador e Venezuela.
Chury: Bem, justamente eu tinha essa pergunta. O que você achou da reunião de Santo Domingo?
Petras: É muito complexo porque há muitas versões contraditórias sobre como interpretar esta reconciliação ou solução ou simples fachada de uma reconciliação.
Eu acredito que em primeira instância o fato é que o conflito bélico que estava a ponto de acontecer está postergado por um tempo, com a pseudo-desculpa de Uribe e as pressões de governos neoliberais sobre os governos do Equador e da Venezuela, que aceitaram o fato de que não devem romper relações e seguir a defesa própria das fronteiras com forças bélicas.
Me incomoda o fato de que Chávez e Correa apertaram as mãos de Uribe diante do assassinato do Comandante Reyes e os outros assassinatos que Uribe cometeu nos últimos tempos. Eu acredito que uma coisa é aceitar taticamente um recuo nesse conflito mas aceitar a mão do maior assassino, depois de denunciá-lo como sanguinário carniceiro, não me parece apropriado nessas circunstâncias.
Agora Correa mostra a cara de nojo se você assistir o vídeo na televisão...
Chury: Eu o vi esta manhã
Petras: Sim, muito incomodado aceitou a mão do senhor Uribe. O mais palhaço foi Ortega, que abraçou Uribe mas não devemos esperar muitas coisas de Daniel Ortega. É quase um palhaço: de um lado aceita o livre comércio, fala com Chávez e é antiimperialista, não é uma pessoa séria de esquerda. Em todo o caso o fato é de que estas negociações humanitárias fizeram muito dano às FARC, eu quero enfatizar isso.
Dizem que a meta de Uribe era prejudicar o protagonismo de Chávez e a liberação de Ingrid Betancour e as conversações que Kouchner tinha com o senhor Reyes, o Comandante; também Larrea, o Ministro de Correa que também tinha conversações.
Obviamente Reyes estava desempenhando um papel chave, vinculando-se aos europeus e o presidente Chávez, mas também com tantas reuniões e comunicações estava muito vulnerável a um ataque da Colômbia, pelo fato de que os Estados Unidos está monitorando todas as comunicações, tanto dos países vizinhos como dos demais.
Nesse sentido ele pensava que pelo fato de estar ajudando na liberação não iam tocá-lo, mas creio que as FARC já perderam mais de duas dezenas de pessoas que cumpriam essas missões humanitárias enquanto não receberam a liberação dos presos das FARC que estão apodrecendo nos cárceres de Uribe, muitos doentes que necessitam de tratamento médico e nada falou de liberar nenhum preso da guerrilha, nada falaram de algum ato unilateral de Uribe.
Uribe segue sua agressão, agora tem a reconciliação e não fez nada recíproco. Destruíram todo o plano original das FARC que era um território desmilitarizado, um intercâmbio de presos de ambos os lados e tudo o mais. Acredito que as FARC devem repensar toda a sua política no exterior, tanto o custo de liberar quase uma dezena de presos sem receber nada. É uma coisa a se pensar. E os meios, tanto os progressistas como Brecha como todos os demais: o jornal La Jornada do México, não avaliou este processo do ângulo de como aceitam as FARC e os presos das FARC. Só falam do dano que Uribe fez às negociações, ao protagonismo de Chávez, etc.
Eu estive com Chávez não no domingo passado, mas na outra semana em meio à grande crise e Chávez fez um bom diagnóstico. Conversamos sobre as possibilidades de uma guerra com Colômbia e ele manteria uma posição bastante crítica, estava triste com a morte do revolucionário Reyes, mas ao mesmo tempo seguia exigindo que as FARC entreguem Ingrid Betancourt sem insistir que Colômbia entregasse algumas dezenas de presos das FARC, e insistindo em dizer às FARC que não devem seguir a luta armada, sem levar em conta que cada dia o governo de Uribe está matando camponeses nas regiões onde as FARC têm influência. Camponeses desarmados e outras atrocidades. Não se pode dizer aos grupos guerrilheiros que se desarmem quando é quase certo que vão matá-los assim que entreguem as armas. Isso não se pode falar e acredito que deve ser levado em conta.
Eu tenho uma impressão muito positiva das intenções de Chávez em buscar a paz: mas a paz com segurança, com a justiça porque não se pode insistir em um contexto de genocídio. Acredito que isso não pode ser feito e as FARC o entendem muito melhor que qualquer outro personagem político no exterior.
Eu dizia para o senhor presidente que o problema de segurança interna na Venezuela é muito sério.
Ele me disse mais: dizia que há uma infiltração de paramilitares colombianos penetrando e criando a insegurança e a violência, particularmente na fronteira em um estado da Venezuela que se chama Zulia, o único lugar controlado pela oposição direitista e a partir desse estado fronteiriço estão entrando muitos colombianos com intenções violentas e eu lhe dizia: e como vai reagir a esse estado? Tem direito a um estado de sítio? Mas Chávez continua sendo extremamente liberal politicamente e tolerante e muito constitucionalista no mal sentido de observar leis constitucionais que a oposição ignora. Me lembro muito de Allende que era o último defensor da Constituição enquanto toda a burguesia e as cúpulas militares estavam violando-a a cada dia. Eu acredito que há limites do que se pode permitir em uma situação de segurança de emergência, mas Chávez segue sendo muito liberal, ultra-democrático, o que pode levá-lo a algum problema com a falta de respeito das normas democráticas por parte da direita.
Em minhas conversações na Venezuela com representantes da oligarquia, com pessoas representantes das petroleiras na Venezuela, vi que obviamente existe um enorme ódio ao povo chavista, têm o mesmo olhar nos olhos que via no Chile em 73, e qualquer estrangeiro opondo-se a Chávez é seu aliado. Por exemplo, a oligarquia e a imprensa burguesa na Venezuela, apóiam Uribe contra Venezuela, inclusive se há uma ameaça ou uma invasão não tenho dúvidas de que eles vão apoiá-la. Inclusive quando fiz essa pergunta me disseram “boas vindas aos colombianos”.
O outro é o de EXXON, que tomou posições de exigência exageradas congelando as ações no exterior e a oligarquia apóia a EXXON contra a Venezuela, apesar de que a OPEP apóie a Venezuela. Enquanto toda a América Latina está condenando a Colômbia pelo ataque, a oligarquia venezuelana o apóia, Bush o apóia. Talvez a oligarquia venezuelana seja a única força majoritária que apóia Bush agora então com um inimigo interno que está totalmente aliado com os piores inimigos da nação venezuelana. Não se podem tratar com moleza, é preciso ter uma capacidade de golpeá-los a qualquer momento, sobre as posições que estão assumindo.
Chury: Bem Petras, me pareceu uma análise muito boa. Mas temos duas eleições: a da Espanha, triunfo do PSOE, o voto útil, desaparição dos partidos verdadeiros de esquerda e as eleições na França e a derrota do presidente Sarkozy.
Petras: Bom, entre outras coisas o PC, Esquerda Unida na Espanha cometeu um erro estratégico já há mais de uma década: com Paco Frutos encabeçando, apoiaram criticamente que se formassem alianças com o PSOI, apesar de uma retórica crítica em muitas prefeituras se formaram alianças então não me surpreende que hajam desaparecido porque se a gente diz, se a Esquerda Unida pode se unir com o PSOI, então por que não votar no PSOI? Então desde a época de Anguita, que o PC tinha um voto respeitável de vários milhões, com a política de colaboração de Paco Frutos perderam sua presença, quase desaparecendo.
E por outro lado, o boom econômico, o crédito fácil de Zapatero e a oposição pro-franquista da direita, influi nas novas gerações espanholas que foram votar.
Mais que um voto em Zapatero, era um voto contra a direita e acredito que é muito importante peo manejo da economia na Espanha, a ênfase no boom especulativo, a construção, bolha imobiliária; Espanha já está em queda vertical entrando em uma recessão grave. Aumenta o desemprego a cada dia... Acredito que o próximo mandato de Zapatero vai ser muito difícil, muito diferente do que poderia pensar no passado recente.
Não vejo nenhuma repetição do crescimento anterior e acredito que vão rumo a um crescimento de quase zero em 2008 e uma enorme acumulação de dívidas nas contas externas.
Com isso quero dizer que não se pode manter o poder no governo, mas este ano vai ser cada vez mais debiltado. O problema é que a esquerda tão debilitada é difícil que ofereça uma alternativa, pelo menos eleitoral. Mas imagino que com um aumento grande do desemprego, talvez a esquerda possa montar greves e protestos a partir das organizações sociais.
Na França o repúdio a Sarkozy é incrível. Antes das eleições, as últimas pesquisas de opinião pública diz que mais de 65 por cento está contra sua política econômica e ao invés de reconhecer e retificar, parece que vai insistir em aprofundar as medidas neoliberais. Eu acredito que a próxima luta não vai estar nas eleições e sim nas ruas e combinando a debilidade eleitoral em nível local, municipal, regional, vamos ver uma onda de protestos e greves em um governo desprestigiado bastante rapidamente que por ser tanto um peão de Washington vai contra todas as tradições independentes e também o servente de Israel com sua vergonhosa política com o sionista chanceler Bernard Kouchner, também perdeu muito prestígio na França, então eu acredito que a esquerda tem uma grande oportunidade de avançar na França, mas com a contradição de que há uma forte ala do Partido Socialista que critica Sarkozy, mas que também são neoliberais e isso deve ser tomado em conta também. Há uma oposição, há um repúdio a Sarkozy, há uma grande maioria repudiando as medidas neoliberais, mas quem pode capitalizar isso com uma verdadeira alternativa?
Chury: Petras, aumenta o preço do petróleo, caem as Bolsas e aumenta o preço dos alimentos no mundo. Os capitalistas controlarão essa crise? De que maneira poderá afetar países pequenos e dependentes como o Uruguai?
Fazemos essa pergunta, porque aqui os economistas como Astori, dizem que a economia está forte e que não vai afetar em nada o desenvolvimento do país.
Petras: Isso nem ele mesmo acredita, isso é simplesmente para tratar de dar ânimo aos especialistas que são muito mais pessimistas. Ele é mais um marciano que um economista, vive fora da órbita dos economistas sérios.
Aqui nos Estados Unidos estamos em recessão, estamos no crescimento negativo, o sistema financeiro está cambaleando e estou citando especialistas ortodoxos do Financial Times: o sistema de crédito, as grandes casas de investimento, estão ruindo.
Carlyle, uma grande empresa de investimentos, está em uma profunda crise, perderam bilhões de dólares em um trimestre. Agora os ortodoxos estão divididos não entre se há crise ou não, mas sobre a profundidade da crise. Inclusive algum setor,todavia minoritário,está falando de que poderíamos entrar em uma quebra da economia. Uma quebra, ruptura com o padrão dos últimos anos e entrar em uma extensa depressão. Agora o debate entre recessão e depressão está operativo. As importações norte-americanas estão caindo. China baixou grande parte das suas importações aos E.U.A., a inflação, estancamento e recessão dos E.U.A. é operativa; o Banco Central aqui canalizou 200 bilhões para salvar os Bancos e está pensando em baixar a taxa de juros a zero para estimular a economia. Agora nos próximos dias vai baixar a taxa de juros a 2 por cento. Há uma enorme angústia no chefe do Banco Central e Astori está falando que não vai afetar o Uruguai? Eu acredito que sim; o que Astori está falando é que os preços agro-industriais, os produtos agrícolas, seguem altíssimos. Nesse sentido, apesar de que a demanda pode diminuir, ainda assim vão receber ingressos enquanto haja escassez de farinha e outros produtos de consumo então é possível que por um tempo, durante esse ano, que tanto o Uruguai como a Argentina e outros países exportadores possam seguir recebendo bons ingressos, mas no final das contas os outros produtos agrários vão sofrer. E o setor banqueiro vai sofrer então a pergunta que eu faço é se o Uruguai depende só do agro e dos altos preços no exterior ou se tem uma economia mais ampla que o setor de serviços, manifatureiro, financeiro.. Está em condições de evitar a crise mundial ou é tão inlnerável em função de uma economia “pastoral”? Eu não acredito que é uma economia puramente pastoral. Nesse caso os setores agrários vão sofrer como nos demais países do mundo.
Chury: Bom Petras, te agradeço muitíssimo a profunda análise que fez de temas que nos importam muito. Te mando em nome da audiência de Centenário um grande abraço daqui.
Petras: Bom. Mando um grande abraço daqui também e oxalá vocês possam ter um programa tratando o tema das FARC e como as FARC estão nessa situação bastante difícil e complicada frente aos atores internacionais e os massacres internos.
Acredito que vale a pena considerar que as FARC são uma das forças mais conseqüentes na luta e devem tomá-las como um ponto de referência entre os acontecimentos entre os equatorianos, venezuelanos e no governo de Uribe. Muito obrigado.
Chury: Que fique muito bem. E estamos fazendo programas precisamente e é muito bom o conceito que nos envia sobre as FARC.
Obrigado.
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