Por Raúl Reyes.., por nossos mortos, nem um minuto de silêncio
É evidente que tudo tinha sido premeditado por Washington, e por seu cão de caça Uribe, para gerar a crise e culpar todo aquele que tome a palavra contra ele, em oposição ao belicismo do lacaio governo granadino.
Jesús Santrich e Rodrigo Granda/Especial para ANNCOL
Cada combatente fariano é resistência à injustiça, nunca ofensa sem razão à paz. Sua guerra é justa, emanada da reação à injustiça, à opressão, à alienação, à exploração, pela abertura do caminho da construção do socialismo.
Por isso, ainda que, neste caminho de ideais imperecíveis, matem seu corpo, seu exemplo de luta pela causa bolivariana é que é difícil de matar.
O imperialismo seguirá construindo suas infamias.
Mas até quando?
Nosso reino é neste mundo, desta forma, como Carpentier, podemos continuar nos perguntando: “O que é a história da América Latina se não uma crônica do maravilhoso no real?”. Mas nossa fábula, nossa fantasia, tem semelhança, antes de tudo, com a utopia bolivariana, com o sonho da comunhão…neste mundo.
Desta forma, tanto faz se nos chamam de ladrões, como a quem crucificaram em vez de Barrabás; que nos coloquem os INRI que lhes dê na telha; que nos tratem pior do que ao “sambo” Bolívar, com as mesmas canalhices e perfídias que as praticadas pelo santanderismo em seu afã por desmembrar a Pátria Grande e assassinar ao Libertador e seu projeto… Não importa, porque, como expressou o comandante Iván Márquez, “de que vale a vida sem causa e sem bandeira…?”
Ao final, a história nos absolverá, reivindicados serão nossos sonhos de Espartacos, de empobrecidos rebeldes tomando as Tulherías.
Não podemos aspirar a que nossos inimigos, que são os mesmos inimigos do povo, nos tratem melhor do que a Galán, o comunero, do que a Policarpa no cadafalso, que a Caupolicán em seu suplício, que a Tupac destroçado pelos quatro cavalos da morte, que à Eloy Alfaro crivado, desmembrado e queimado no parque El Ejido; do que a Guevara, sacrificado em la Higuera, do que a Sandino, atraiçoado, que a Farabundo Martí fuzilado. Do que a Fabricio Ojeda, Bishop, Julio Antonio Mella, Camilo Torres, Uribe Uribe, do que ao tribuno Gaitán ou do que ao padre Libertador, mesmo em sua agonia de homem órfão de pátria.
Todos seremos delinqüentes frente as oligarquías e o império…
Mas no final, a vitória será dos oprimidos e vilipendiados, porque sempre estaremos sobrevivendo entre as massas oprimidas, armados de sonhos e armando, com nossos sonhos, cada novo empreendimento de liberdade; reiniciando-o cada vez que for preciso, refazendo o caminho com a certeza que nos dá a história, em seu andar inelutável em direção ao estágio do comunismo; nos levantando contra o esquecimento, contra a estigmatização…, porque a história não chegou ao seu fim, porque a rebeldia popular não morre com bombas assim como não morre o sonho de Bolívar com a permanencia das oligarquias; inventando novas táticas para o assalto dos céus; reintentando sem descanso a emancipação, nos rearmando com a dignidade, refazendo a utopia. Existindo na luta…, sendo.
Nenhum inimigo digno teria tratado com tanto desprezo e morbidez seu opositor; nenhum com tanta sanha; nenhum com tanta deslealdade como o foi feito com o comandante Raúl Reyes.
Todavia, por inútil que seja a morte, por mais terriveis que sejam as circunstâncias, por maior que pareça o infortunio, quando a presa das matilhas abomináveis que propiciam-na tropeçam em combatentes que são interminaveis, com homens e mulheres que não podem ser vencidos com a morte porque, como Raúl, sobrevivem em sua organização, dando-lhe força moral na batalha.
Honra que nos faz o povo, ao nos permitir morrer por sua glória eterna.
Honra que nos faz dizer, como no hino da vanguarda: “por nossos mortos nenhum minuto de silêncio, toda uma vida sempre plena de combate, que frente a dor o nosso otimismo não arrefeça e seja um ainda mais claro novo anúncio da vitória…”
Se comprazem em sangue as abominaveis piaras apátridas, destroçando com raiva cada corpo de cada valente.
Mas nenhuma morte vai instaurar o silêncio entre os pobres da terra…, nem por um minuto, nem por um instante, guerrilheiro, miliciano, partizan... Nem um só minuto de silêncio por estes nossos herois que caem para crescer e fixar-se na memória, na consciência dos ideais.
Entretanto, os verdugos amorais que não diferenciam uma morte de outra, porque sua decomposição ética não lhes permite entender que até um ato de guerra deve ser um ato moral, seguirão apodrecendo em meio ao marasmo de seus crimes contra a pátria e contra a humanidade.
Então, qual o significado de Raúl ser abatido?
O que significam seus esforços sacrificados na busca do caminho da paz? Qual seriam, se não os símbolos do revolucionário genuíno? Daquele para quem a revolução, se é verdadeira, tem como destino tão somente o triunfo ou a morte.
Este é o Raúl abatido. É o combatente multiplicado em dignidade, que não teme à morte porque amava a vida e só pensava nela.
Já que, pela parte do regime, estamos, assim como Raúl, condenados a morte, já deixamos expresso que nosso último, assim como nosso primeiro e maior desejo, é o de morrer com as armas nas mãos…, por um futuro melhor para nossos povos.
Morto Raúl, então, a morte novamente terá fracassado.
O cenário foi aquele onde, mesmo antes de chegarmos a ele, já se tinha apascentado as feras, lançando-lhes um missil inteligente, descarregando-lhes tecnologia de ponta, o olho do satélite, num Plano que vai mais além da Colômbia, que é tramado na forma de uma conspiração contra o continente.
Um plano. Sim, um plano para retomar à América é o que continua em marcha. O plano da recolonização yanque.
Pelo que nele está traçado, aqui a morte não é simplemente a morte, pois há mortes vís e cruéis, assassinatos, crimes como os fabricados pelos abomináveis lacaios do império, que sempre vão para além de suas intenções aparentes.
Assim, nesta manobra que se constituiu numa operação de guerra suja, sem a dignidade que devem ter os verdadeiros atos de guerra, por terriveis que sejam, está inscrito o desenvolvimento do Plano colonialista contra Nossa América. Fica evidente a sua estratégia perversa, quando saca de sua cartola de mago da morte a novela sinistra do computador das mentiras, supostamente encontrado no devastado cenário onde foram dizimados Reyes, seus guerrilheiros e pessoas que visitavam o lugar.
Seria um fato risível se não pudéssemos divisar a perversidade envolvida.
A princípio, os agressores se desculparam com o Presidente Correa que ainda, porque não tinha noticia clara do acontecido, não levantava sua voz contra a violação territorial. Mas, tão logo, com integridade e decoro, sua palavra exteriorizou a indignação e a condenação à violação da soberania equatoriana pelas tropas fascistas de Uribe Vélez, do miraculoso computador sai a prova documental sobre a suposta aliança Equador-guerrilha.
Igual, ou pior, acontece quando o Presidente venezuelano Hugo Chávez, com decoro, questiona a agressão ao Equador e toma medidas preventivas com respeito ao belicismo do regime colombiano contra a Venezuela, então, do mágico computador, surge o assunto escabroso e inverossímil da aliança guerrilha-Venezuela para derrubar Uribe, e irrompem, de imediato, as ameaças e o discurso intimidatório dos Estados Unidos, pela boca do falcão George Bush.
É evidente que tudo estava premeditado por Washington, e seu cão de caça Uribe, para gerar a crise e culpar todo aquele que levante sua palavra contra ele, em oposição ao belicismo do lacaio governo granadino.
Assim como não é estranho que este pandemônio esteja desenhado, além do mais, para amedrontar com chantagens aos governos do mundo, para que optem por não contribuir na busca de soluções para o problema do conflito colombiano, a fim de não cairem envolvidos nos impropérios de cada campanha de difamação dos Estados Unidos e do governo colombiano, seu lacaio.
Mas, principalmente, se conclui que o que avança, em seu desdobramento, é um Plano de guerra de recolonização sobre o continente em favor das trasnacionais. Que não nos surprenda que iniciem a causa pela colaboração com o terrorismo contra Venezuela, Equador, Nicarágua e contra todo aquele que passe pela cabeça buscar uma saida pacífica para o conflito colombiano.
Como complemento, não menos pavoroso, estaríamos na situação nefasta na qual o famoso computador servirá agora como a justificação criada pelo uribismo para proceder contra toda a real oposição ou contra as organizações e pessoas que não queiram identificar-se às políticas do fascismo.
Já veremos que começarão a ser acusadas como terroristas as pessoas e as organizações populares da Colômbia maltratada, vilipendiada e dessangrada, que estejam fazendo oposição ao governo.
Não é necessario ser adivinho para chegar-se a este presságio. Todo aquele que seja considerado elemento incômodo para o regime será presa fácil do computador que surgiu como uma falaz licença para reprimir.
Porém, na geometria da luta pela paz está implícita a forma e a dialética das guerras. Dela, em circunstâncias de existência não poucas vezes adversas, como as nossas, é de onde haverão de brotar os frutos da melhoria de vida para os povos.
Seja lá de onde se olhe, a partir de qualquer ângulo ou de seu centro, de fora ou de dentro, é a luta de classes o significado de suas dimensões regulares ou irregulares, no infinito devir da história, onde sobem e descem as linhas da realidade em que estão as curvas da morte, como parte da existência que bem pode aparecer subitamente na estrada da confrontação, como agora nos tem assaltado no seio da mais alta direção de nossa organização.
Não é um fim em si o ato de morrer, senão o cumprimento de um momento de nossa existência no universo, que devemos procurar de maneira natural, nos preservando ao máximo de sua aparição prematura.
Obrigados estamos a tomar as medidas que nos garantam maior segurança em meio ao confronto; mas se a morte chegar a ocorrer, o que é uma possibilidade constante no dia a dia da guerra, deveremos assumi-la como uma nova possibilidade real de ser que, para lá do orgânico, se converte em latência permanente. Da simples queda se pode suscitar uma infinita labareda, e se é a paixão, a entrega com convicção, a que move o desejo, estaríamos frente a uma conjugação do heroísmo que dota a morte com as circunstâncias que configuram a grandeza.
E então, a morte, companheiros, há de se converter no marco da obstinada luta de resistência por nosso povo, numa magnífica vitória, enquanto seu fato é o exemplo do que haveria que fazer nesta estrada que seguimos em prol da libertação. É assim que a morte pode forjar a permanência dos homens, pelo estremecimento da sensibilidade de quem lhes contempla em sua causa. E é assim que, para além desta própria grandeza essencial, como os povos são iluminados pelo sol das circunstâncias em que um revolucionario entrega sua vida, que os dimensionará e elevar-se-á sua imagem até o zênite de sua valoração.
Mas, ao mesmo tempo, é contra essa graça que se transbordam os impropérios das oligarquías, sempre prontas a fazer a guerra contra os nossos, ainda que sabendo-os mortos; se arremetem contra seus méritos que podem ser copiados, contra seu exemplo que pode ser seguido…, e é precisamente por isto que tentam o esmagamento moral, já procurando, então, como destruir o espírito do valente, como acabar com seus sonhos, com seus ideais.
A morte assim, por conta da perfidia dos opressores, termina também, como no caso de Rául Reyes, convertida em consagração dos que cairam.
Que ironia!
Não se trata aqui, então, de analisar somente o importantíssimo fato da violação da soberania equatoriana e da soberania da Colômbia e Venezuela que indubitavelmente tem sido também manchadas por conta do expansionismo yanque, que violenta ao território gran-colombiano da Nossa América.
Se trata, além do mais e sobretudo, de enfrentar a determinação do império e das oligarquias em aniquilar a resistência popular, em suas mais diversas formas e necessidades de luta, mediante a estigmatização que provocam por meio do epíteto de terrorismo.
Estes inimigos funestos tratam de aniquilar o internacionalismo, a solidariedade e o direito dos povos a coordenar e juntar suas causas e seus propósitos, ao mesmo tempo em que se pretendem estabelecer como normais os ignominosos procedimentos do fundamentalismo imperialista, integrados na doutrina pronta da guerra anti-terrorista, a guerra total….
Temos aí, enfim, as políticas contra-insurgentes que, para o caso do contexto internacional latino-americano, não são outra coisa mais do que doutrinas contra a auto-determinação e a soberania dos povos em favor do colonialismo e da espoliação de nossas riquezas.
Pretende-se afiançar a conceituação política do império, justificando, contra as lutas dos povos, o direito à “agressão preventiva”, à “defesa antecipada”, à “legítima defesa”…, onde, de maneira insólita, o agressor se apresenta como agredido.
Afortunadamente, muitas vozes se tem levantado contra essa pretenção plena de mesquinhez e descaramento.
A cúpula do Rio e, em especial, a declaração de Santo Domingo assentaram bons precedentes, que de alguma maneira tentam por freio a estas justificativas que o imperialismo vem utilizando para ultrajar, invadir e saquear aos povos, como ocorre no Iraque, Afeganistão e no oriente médio em geral; ou como, especialmente, ocorre na Palestina, onde Israel atua com carta branca, mostrando o formato do que se quer fazer na América Latina, utilizando o regime fascista colombiano.
De tal sorte que deve satisfazer a todos a forma “cordial” como se concluiu o certame, sobretudo pela magnífica intervenção do Presidente Chávez e pela magnanimidade do Presidente Correa. Mas, em todo caso, ficaram feridas que não se curam com abraços, sobretudo se levam consigo a carga de hipocrisia que se evidencia em Uribe Vélez, em quem nunca se deve confiar, pois ele seguirá em sua escalada de guerra e isso deve ficar claro para o mundo.
O fascismo na Colômbia e contra o continente tem um gasto militar direto de ao menos 6.5 % de seu orçamento ordinário, descontando que todo o orçamento nacional colombiano está atravessado pelo propósito da guerra. Recebe também, dos Estados Unidos, a terceira maior ajuda militar do mundo, não somente para esmagar a resistência interna senão, como já foi dito, para se converter na ponta de lança do belicismo colonizador yanque, que a pouco foi fragrado intervindo na Venezuela bolivariana.
Ante tanta afronta e perversidade, não temos outra escolha legítima que a da resistência, a da solidariedade, a do internacionalismo e da luta em unidade com o povo.
Aqui, agora, e para sempre, não podemos deixar o assunto somente na condenação ao governo colombiano pela violação territorial contra o Equador, mas sobretudo, deverá se continuar a denúncia e a condenação dos povos contra o papel que o imperialismo tem colocado a jogar Uribe contra o conjunto do continente.
A Colômbia foi posta, pela oligarquia no poder, na triste situação de ser a ponta de lança da re-colonização. Há que denunciar e combater também, portanto, a intenção de Uribe em aniquilar toda opção de pacificação, porque é certo que, ao assassinar Raúl, feriram de morte a possibilidade de uma negociação de paz, a fim de manter a desculpa que permite uma maior presença militar yanque na região.
Não importa a Uribe tomar uma posição de ataque aos países vizinhos, nem lhe importará continuarr sendo a plataforma de agressão contra os países que lhe rodeiam. Não lhe importará, sobretudo, se a comunidade internacional continuar guardando o silêncio de conveniência diplomática frente ao genocidio que o regime colombiano comete contra seu povo.
Na América Latina, agora e desde muitas décadas, de maneira especialmente brutal e prolongada, chegou o turno de suportar as mais indignantes agressões, para nós como força revolucionaria e, sobretudo, para os setores mais humildes de nosso povo.
Temos sofrido o vilipêndio e a morte, que são conseqüencia do pertinaz terrorismo de Estado. Fomos levados a sobreviver e resistir ao exterminio da Unión Patriótica, soportar e reter todo o peso da guerra suja que tem semeado as fossas comuns com milhares de mortos em território do Estado. Temos nas costas a infausta circunstância do deslocamento forçado de milhões de compatriotas, o seqüestro e o desaparecimento de milhares de pessoas, a chantagem da extradição dos lutadores, utilizando as piores calunias que somente buscam nos humillar e por-nos de joelhos, tal como o tem pretendido, acusando e condenando combatentes bolivarianos heróicos e valentes, como Sonia e Simón Trinidad (um de nossos porta vozes de paz), aos quais, mediante sinistras mentiras, pretendem esmagar para cobrar às FARC por sua rebeldia contra as injustiças.
Para nós, segue sendo o turno, com o crivamento por bombas de outro gestor da paz, como o era Raúl Reyes, ao qual eliminam para fechar os caminhos da reconciliação…
Já o disse nosso secretariado: mataram Raúl Reyes e feriram de morte o processo de intercâmbio humanitário.
Mas tudo aponta para que, em tempo não muito distante, seja a vez de outros também receberem o peso das piores agressões.
Oxalá isso não ocorra jamais; mas se chegar a suceder, tomara que não se tenha que dizer que já é demasiado tarde para tomar precauções contra os planos colonialistas que estão avançando.
De toda a maneira, nós estaremos aqui, com nossas humildes experiências, solidários e prontos a entregar a vida por qualquer dos povos de Nossa América.
A ameaça mais evidênte é sem dúvida a que paira sobre a Venezuela, cujo território continuará sendo fustigado de diversas maneiras e com infinidades de justificativas: que se violam os direitos humanos, que é plataforma de envio de narcóticos, que é um país que apoia o terrorismo internacional…
Tratarão de minar sua revolução, inoculando a corrupção, a impunidade, o crime, introduzindo o para-militarismo, a especulação econômica, o desabastecimento alimentar e de outros produtos, tudo tendo ao fundo a guerra midiática de quarta geração, etc. etc.; até que, cedo ou tarde, venha a agressão direta, caso não tenha sido possível derrubar seu governo revolucionário, inclusive mediante ao magnicídio.
Assim são as coisas; mesmo porque esta agressão não depende de que se tenham ou não afinidades políticas com as FARC. Este é um plano que tem seu desdobramento com a aplicação mesma do Plano Colômbia e do Plano Patriota, com o propósito de destruir o, para eles, inconveniente sonho de unidade bolivariana: o projeto geral do Libertador. E só há duas maneiras de que não chegue a conclusão o vaticínio: ajoelhar-se e viver na humilhação do colonialismo, ou resistir e preferir morrer de pé do que manter-se na submissão.
A primeira é a opção pior do que a morte e a segunda é a possibilidade de viver com decência ou morrer como decorrência da resistência digna que não comunga com a covardia.
Sabemos que o Bravo Povo não é do tipo que desiste e que a espada do libertador sempre será empunhada com dignidade.