"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Cinescrúpulos: Uma coluna dedicada exclusivamente ao espetáculo e à fanfarronice

"A noite foi mágica: a primeira atriz estava esplêndida em seu traje de gala. Acompanhada por Sua Minúscula Excelência, o príncipe Felipe de Borbón, e o espírito do generalíssimo Franco, Ingrid resplandesceu como nunca."

Não havia rival à altura. Desde sua aparição, em julho deste ano, na Operação Jaque (também conhecida como Casanariño), uma superprodução da norte-americana Warner Bush – em sociedade com a reconhecida associação das produtoras de espetáculos nacionais El Tiempo - Caracol – RCN – DAS -, ela despontava como incontestável ganhadora do Prêmio Príncipe das Astúrias à sétima arte.

Mesmo que alguns críticos considerem que a produção só ganhou relevância graças à portentosa difusão pela Discovery Channel, devo dizer que, em minha modesta opinião, Casanariño (Jeque) contou desde o primeiro momento com todos os elementos próprios de uma obra-prima revolucionária (aliás, esperamos que não o uso deste termo não vire razão para incluir a nossa coluna na lista de sustentadores ideológicos do terrorismo) naquilo que o gênero propõe.

Que outra obra contemporânea – excetuadas as grandes superproduções da mesma Warner Bush no Iraque e Afeganistão - combinou com tanta maestria gêneros como drama, comédia, humor negro e romance? Claro, é preciso dizer que há precursores. De fato, Jeque não seria possível sem a larga experiência dos seus produtores e diretores em gêneros como a farsa e o aclamadíssimo subgênero de terror conhecido como “falso positivo”.


A cerimônia

Ao melhor estilo dos grandes pop-stars de Hollywood, Ingrid subiu ao palanque encarnando o personagem que a projetou internacionalmente. Durante sua intervenção, Betancourt deu uma mostra de seus dotes histriônicos e o correto uso dos gêneros que fizeram inconfundível a sua interpretação em Jeque. Suas palavras fluíram com calculada naturalidade do humor ("Lhes posso assegurar que faço todo o possível para que este seja o último Natal que (os reféns) passem na selva”) à comédia ("Sabemos que existem contratos para nos matar e que as Farc querem voltar a capturar todas as pessoas que foram libertadas)”.

Evidentemente, Ingrid não poderia deixar passar a oportunidade sem convidar seus colegas da América Latina a dar um novo impulso ao cinema de aventuras na região ("Fazemos um dramático chamado (a nossos países vizinhos) para que impeçam que o seqüestro se generalize em nosso continente").

O mesmo ela aplicou aos guerrilheiros, chamando-os de "desumanizados carcereiros", elogiou o seu promotor nacional, o reconhecidíssimo comediante e especialista em produções de terror Álvaro Uribe - com quem assegurou ter passado recentemente “um momento muito lindo” -, e agradeceu aos governos da França, Espanha e Suíça pelo apoio recebido para alcançar o auge do sucesso. (Claro, ela não falou de Hugo Chávez nem de Piedad Córdoba, pois eles nunca aceitaram ser parte desta superprodução).

Novos Projetos

Seguramente o prêmio outorgado a Ingrid (acompanhado da nada desprezível soma de 50 mil euros) não só servirá para posicionar as produções norte-americanas na região. Também ajudará a saldar as numerosas despesas que o filme gerou e, sobretudo, promoverá a fatura de muitas outras obras desse clássico e fatal gênero.

Nós, desde Cinescrúpulos, apoiamos sem reserva a indicação desta obra ao Oscar, e seguramente serão premiados, além dos produtores e a atriz principal, o experimentado roteirista Francisco Santos e seu primo, o iracundo diretor Juan Manuel; os atores de repartição que renderam personagens inesquecíveis (repórteres e delegados da Cruz Vermelha Internacional) e, certamente, o talento de Rendon Group, inspirador e professor da Sétima Arte de Guerra.

Há, porém, um problema, pois será o povo colombiano que terá a última palavra. Aí, querida Ingrid, senhores produtores, não lhes asseguramos uma boa colheita de prêmios; será justamente o contrário. Mas tudo bem, antes disso desfrutem de sua gloríola que, apesar de efêmera, não deixa de render-lhes excelentes lucros. Certo?

O texto (em espanhol) encontra-se em ABP Notícias.