"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Ninguém pode matar a luz...

por Lina Arregocés/Venezuela


A possibilidade de testemunhar de um fato histórico é sempre um presente que a vida nos dá. Há uma conjunção de circunstâncias que se perfilam para colocar-nos nesse lugar e nessa hora a ponto de algumas vezes pensarmos que há algo mágico nas realidades, por mais políticas que elas sejam.

Isso eu pensava sentada com minhas duas filhas na Praça Manuel Marulanda, tendo ao norte a estátua recém descoberta de quem lhe dá o nome. Elas, jovens, cheias de sentimentos inocentes, deixavam-se levar pelo calor daquela praça amável onde a vida, a alegria, a solidariedade, a singeleza e a valentia campeavam.

Havia muitos jovens. Trovadores populares cantavam “O povo diz e tem razão: As Farc são o exército da revolução". Vida. Futuro.

A história se condensa em um belo senhor idoso que, em sua cadeira de rodas, presa da emoção, grita:

"Eu fui companheiro de Manuel, eu estive a seu lado lutando. Viva Manuel Marulanda!"
Enxugo uma lágrima, dissimuladamente; cuido que nenhuma debilidade apareça; trato de não fragilizar-me como sempre.

Um transeunte, um filho do seu tempo, entra no colóquio com sua verve apaixonada e apaixonante:
"Que difícil ser como ele.

Nascer camponês para nunca deixar de ser.
Viver para nunca morrer.

Lutar pela vida, toda a vida, além da morte".

A algaravia volta a sacudir-me. Vejo uma bandeira dos Estados Unidos que ondeia envolvida em chamas. Que contraste... O símbolo pátrio por excelência, ondeia em meio ao fogo. Eles Aplaudem. Eu também.

Mulheres....Muitas mulheres. Unidas. Jovens. Belas. Indiferentes à pecha de beligerância com que nos rotulam. Companheiras de seus homens.

Meninos. Muitos. Gritam. Gozam. Se vinculam às causas de seus pais, ao que aprenderam em seus lares, no seus formosos bairros, a esse novo ideal onde a vida, a paz, a festa, serão possíveis.
Uma cervejota aqui, um abraço ali, um encontro acolá.

Um poeta imenso, imenso, imenso, um grande poeta, lê um belíssimo poema no qual declara a inutilidade de um porta-aviões estrangeiro. "Aqui o que sobra é música e vontade" , diz o poeta grande ao navio "com sua coberta, seus aviõezinhos, sua morte cinzenta".

Semeio milhares de flores, em minha cabeça, no navio que pretende violar meu coração. E repito com o poeta:

"Agora você saberá que a cada homem morto sobrevive uma mulher e a cada mulher morta sobrevive a dignidade do seu amor".

Hóspedes ilustres que solidarizam-se com nossa causa, daqui, de lá, lêem, proclamam, assumem o risco... mas não sem sentir o peso dessa solidariedade que já sabemos quanto vale hoje... Para quem dá e para quem recebe.

E música.... vozes, cordas, instrumentos, ritmos, corpos. "Esta canção eu fiz para Chavéz, certamente, mas hoje a canto para Manuel", diz uma poeta da solidariedade, uma mulher da rede de solidariedade. Sua voz é afinadíssima, há fogo, água, nuvem, flor. Fecho os olhos. Me reservo o direito de sonhar. Me distraio. Relaxo o espírito e o coração. Raro privilégio.

Chega uma mensagem... ouçam. Um mensageiro. Um portador das boas-novas. As palavras de um valente viajaram sobre os montes, no meio dos rios, cavalgaram, ofegantes. Mas chegaram.
A boa-nova, reitera, insiste e reafirma: Hoje mais que nunca o presente é de luta porque o futuro é nosso. Hoje, mais que nunca, mas como sempre, se impõem o valor e a coerência. É verdade que as circunstâncias são duras, é verdade que os golpes quebrantam, que as ausências doem, mas o projeto pelo que se jurou vencer, permanece.

A noite avança...Os abraços, as saudações, a palavra, também. Aqui estamos. Somos os que somos. Somos o que somos. Ninguém pode matar a luz...