Colapso financeiro espalha-se por todo o mundo
–O combate por alimentos, combustíveis e habitação desafia o capitalismo
por Jaimeson Champion [*]
Nos últimos anos muitos economistas burgueses avançaram a teoria de que economias capitalistas por todo o globo haviam em grande medida "desconectado" da maior economia do mundo, os EUA. A teoria dizia que o advento da União Europeia e o crescimento de poderosas economias na Ásia haviam limitado o risco de que uma crise económica na economia dos EUA pudesse disseminar-se globalmente.
Chega de ilusões. O sistema capitalista global está agora nos espasmos da maior catástrofe económica desde a Grande Depressão. A crise sistémica que emergiu primeiro no sector habitacional dos EUA agora difundiu-se para quase todos os mercados em quase todos os cantos do globo.
Como disse o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, numa recente cimeira no Brasil: a crise económica que emana dos EUA tem "o poder de uma centena de furacões".
A seguir à dissolução da União Soviética, a qual fazia de contrapeso ao imperialismo estado-unidense, os EUA estenderam brutalmente a sua hegemonia económica por todo o mundo. Os tentáculos do capital financeiro estado-unidense têm estado a sugar quase todos os mercados, em todos os cantos do mundo, aumentando muitíssimo o risco de contágio. A crescente interconectividade transfronteiriça das redes de produção e dos fluxos de capital financeiro tornaram o sistema capitalista global mais instável.
O carácter cada vez mais global desta crise ficou evidente em 6 de Outubro quando os mercados de acções europeus e asiáticos principiaram a semana com mergulhos abruptos.
O FTSE na Grã-Bretanha, o DAX na Alemanha e o CACA 40 em França caíram todos mais de 5 por cento em 6 de Outubro. Na Ásia, o índice Shanghai Composite e o Nikkei também caíram mais de 5 por cento em 6 de Outubro.
O anúncio em 3 de Outubro de que o Congresso dos EUA havia aprovado uma dádiva sem precedentes e criminosa de US$700 bilhões aos bancos aparentemente pouco fez para acalmar os mercados estado-unidense ou internacionais. Os principais índices dos EUA também caíram em queda livre ao tocar o sino de abertura, com o Dow a descer aproximadamente 600 ponto pelo meio dia de 6 de Outubro.
O secretário do Tesouro Paulson tentou vender o salvamento ao público dos EUA dizendo que sem a aprovação desta lei a economia auto-destruir-se-ia. Mas apesar da aprovação da lei do salvamento, a tempestade económica está claramente a continuar com força de furacão.
Líderes europeus anunciaram a sua própria rodada de salvamentos de instituições financeiras ao longo do fim de semana de 4-5 de Outubro. Em 5 de Outubro foram anunciados salvamentos para o Hypo Real Estate, um grande prestamista hipotecário alemão, e para o Fortis, uma companhia bancária e de seguros com sede na Bélgica.
Temendo aparentemente a espécie de corridas bancárias que destruíram instituições financeiras nos EUA, múltiplos países europeus apressaram-se a anunciar planos para garantir depósitos bancários. A Suécia, Alemanha, Dinamarca, Irlanda e Espanha anunciaram todos novos planos para assegurar depósitos.
Capitalismo: um sistema tendente à crise que deve ser abandonado
Políticos e sabichões capitalistas recentemente emitiram a afirmação de que esta crise era evitável e que foi uma questão de "falta de regulamentação" nos mercados financeiros que levou ao actual colapso.
Mas a realidade é que crises económicas tais como aquela que o mundo está actualmente a sofrer de lado a lado são inerentes ao modo de produção capitalista. Estas crises resultam da superprodução capitalista.
Como escreveu Karl Marx em "Teorias da mais valia", a "Superprodução é especificamente condicionada pela lei geral da produção de capital: produzir até ao limite estabelecido pelas forças produtivas, o que quer dizer explorar a quantidade máxima de trabalho com o montante de capital dado, sem qualquer consideração pelos limites reais do mercado ou as necessidades suportadas pela capacidade para pagar".
Crises de superprodução irrompem quando trabalhadores já não podem mais permitir-se comprar toda a multidão de bens que os capitalistas os levaram a produzir. A superprodução conduz a mercados saturados, os quais por sua vez levam a uma queda da taxa de lucro para os capitalistas. Confrontados com uma queda da taxa de lucro, a classe capitalista responde com cortes de salários e despedimentos maciços num esforço para cortar custos.
Estes factores são hoje evidentes com mercados de habitação por todo o globo abarrotados com milhões de casas não vendidas, lucros em hemorragia contínua para fora dos bancos e corporações, despedimentos e cortes salariais a continuarem sem pausa.
Mas existe uma alternativa a este sistema apodrecido e tendente à crise, e esta alternativa é o socialismo. Sob o socialismo, a produção não é dirigida pela classe capitalista, e ela não é efectuada com o objectivo de obter lucros. Ao invés disso, sob o socialismo a produção é organizada para atender necessidades humanas específicas. Sob o socialismo, não ocorreria a calamidade absurda de milhões de lares arrestados a ficarem vagos enquanto o número dos sem teto ascende.
A eliminação da produção para lucro elimina a causa raiz das crise de superprodução. Confrontado com uma crise económica global de proporções históricas, a necessidade de eliminar o capitalismo e substituí-lo pelo socialismo nunca foi tão grande.
Combater os arrestos, desafiar as relações capitalistas de propriedade
Felizmente, as sementes de uma revolução socialista à escala mundial estão a ser semeadas diariamente. As sementes estão a brotar nos movimentos conduzidos pelos trabalhadores que combatem os arrestos e neste processo desafiam as relações capitalistas de propriedade. Elas estão a brotar no ressurgimento da esquerda latino-americana, a qual efectua um desafio directo ao imperialismo dos EUA no hemisfério. As sementes de uma revolução socialista estão a brotar nas manifestações militantes contra o aumento dos custos de alimentos e combustíveis que tiveram lugar na África, Ásia, Europa e nos EUA. E estão a brotar nas manifestações espontâneas contra os salvamentos de bancos que se tem verificado através dos EUA.
No seu prefácio à "Crítica da economia política" de Karl Marx, Frederick Engels, referindo-se às crises de superprodução, escreveu: "Cada crise sucessiva está obrigada a tornar-se mais universal e portanto pior do que a precedente". Ele previu que o resultado final seria "uma revolução social tal como nunca foi sonhada na filosofia dos economistas".
Com o crescimento da solidariedade da classe trabalhadora, no século XXI ela é capaz de provar que Marx e Engels estavam certos.
O original encontra-se em http://www.workers.org/2008/world/economy_1016/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .