"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


terça-feira, 28 de outubro de 2008

A crise mundial

Por Pedro Rodríguez Rojas / Venezuela


Tão ingênuo quanto pensar que a crise da economia mundial será a definitiva, que apagará do planeta o capitalismo, é pensar que ela será algo passageiro e de pouca importância. A atual crise do capitalismo só pode ser apenas medida pelas quebras de algumas instituições bancárias e a inestabilidade severa do sistema financeiro, deve-se ver estas como o efeito definitório de uma crise de longo prazo e de velha data.

Devemos sempre lembrar quando, após a queda definitiva da União Soviética, muitos celebraram um suposto triunfo do capitalismo sobre o socialismo. Como já foi amplamente explicado, em alguns de nossos artigos, primeiro, o que aconteceu na União Soviética não pode ser considerado socialismo e, tampouco, houve tal triunfo do capitalismo. O modelo soviético caiu por si só, por suas graves contradições e deficiências.

O que é certo é que a crise do socialismo veio junto à própria crise do sistema capitalista, que já era notória desde os anos 80. Enquanto se produzia a derrubada soviética, o capitalismo mundial transcorre, por sua vez, em uma profunda crise, fundamentalmente na economia norte-americana. Os Estados Unidos consolidaram-se como o maior devedor do mundo (4 trilhões de dólares), um déficit fiscal de cerca de 500 bilhões de dólares e um déficit comercial de uns 150 bilhões de dólares. Toro Hardy (1993) afirma o seguinte:

“Após 1991, os soviéticos, submetidos à mais grave crise da história, chegaram ao colapso, tampouco os norte-americanos atravessavam seu melhor momento. Uma angustiosa crise econômica era sentida também. A quebra da Panam, os investimentos perdidos pela General Motors e o sumiço de 150 mil postos de trabalho por alguns gigantes da economia estadunidense, IBM, Xerox e a própria Genaral Motors, constituíam um dos aspectos mais evidentes dessa situação. De fato, os Estados Unidos encontravam-se em sua pior recessão desde a célebre depressão dos anos trinta”. (El Globo 05/07/93). O que poderia ser ainda pior para a economia norte-americana é o debilitamento de seu papel no comércio internacional a partir da competência da Europa e da Ásia e, mais ainda, pelo aumento dos juros estrangeiros, a medida em que a economia estadunidense vem crescendo de maneira mais violenta que os juros norte-americanos no exterior.

A crise econômica atual possui várias vertentes. Primeiro, há uma crise econômica na América do Norte de produtividade e competitividade frente aos mercados asiáticos. Segundo, é uma economia claramente especulativa, em que a relação da massa monetária pouco tem a ver com a produção real de bens, este efeito é, quem sabe, o mais notório da crise, mas, a nosso modo de ver, não é o mais grave. Terceiro, há uma crise energética, o alto consumo de energia não se equipara com os níveis de reserva e de produção de energéticos, ainda mais quando sabemos que a maioria desses reservatórios encontram-se em países do terceiro mundo, Oriente Médio e Venezuela. Quarto, desde o ano passado também é evidente a crise alimentar, tal como o demonstra os informes anuais da FAO, onde se evidencia que um terço do planeta possui problemas sérios de abastecimento de alimentos e é uma crise que tende a generalizar-se, tendo uma de suas principais é exatamente a busca, por parte dos Estados Unidos, pela produção de bio-combustível através da produção de cereais e, portanto, a diminuição da produção alimentar.

Como temos visto a atual crise financeira deixou em bancarrota instituições bancárias, de serviço e hipotecárias e pior, deixou sem casas e sem trabalho muitos norte-americanos, alguns dos quais chegaram ao extremo de perder a vida. E basta que se perca uma vida para que essa crise seja considerada uma crise grave. Os críticos sérios do capitalismo e nós que aspiramos por sua substituição estamos conscientes de que este não é o fim do modelo e que, embora alguns países do terceiro mundo, especialmente na América Latina, venham desenvolvendo modelos alternativos, seria ingenuidade nossa pensar que o modelo capitalista será substituído a nível planetário. A mudança de sistema só ocorrerá quando existirem organizações maduras politicamente o suficiente para que permitam aos atores sociais transformar esta sociedade.

O que é certo é que esta crise deve representar o fim da etapa neoliberalista do capitalismo. O neoliberalismo triunfante dos anos 80 já havia manifestado suas debilidades e contradições na década de 90. Esta crise mundial, que colocou os estados nacionais dos países desenvolvidos a intervir diretamente e planificar os novos programas econômicos, é uma demonstração de que o livre mercado, por si só, leva a crises permanentes. Hoje vemos como o governo norte-americano nacionaliza empresas, oferece créditos bilionários para salvar companhias, mas não para enfrentar o problema dos que ficaram sem trabalho e estão nas ruas. Como sempre, o capitalismo socializa as perdas e privatiza os lucros. Seria bom ouvir os que, em nosso país, criticaram as nacionalizações que foram feitas de empresas básicas e estratégicas e sem a qual a crise seria mais severa em nosso país.

Enquanto os efeitos desta crise sobre a região ainda não são claros, ainda é cedo para estes cálculos, mas, como sempre, nos afetará, pela simples razão de que formamos parte de um sistema econômico mundial, mas a crise será ainda pior para os países que são mais dependentes da economia internacional. Como disse no início, seria ingênuo pensar que países como o nosso, que dependem da exportação do petróleo por sermos deficientes na produção interna, não vamos sofrer as conseqüências, mas, caso nossas economias, nossos bancos centrais, nossas reservas internacionais, estivessem atadas a políticas emanadas dos organismos internacionais, os danos seriam ainda maiores.

Assim como no seio dos países desenvolvidos os lucros são de uns poucos e as crises são para todos, na escala planetária os países desenvolvidos e suas empresas buscaram as formas de evitar um pouco suas crises internas com os recursos provenientes do terceiro mundo, é lá onde fará falta governos que defendam a autonomia e soberania frente a estas intenções. Porque, enquanto os países desenvolvidos não acreditam há muito tempo no livre mercado muito menos na debilidade dos estados nacionais, pelo contrário, aumentaram e incrementaram a participação e a decisão pública da economia, ainda assim, os organismos internacionais seguem dando ordens aos países subdesenvolvidos para que sigam o manual do neoliberalismo como a salvação para saírem da crise.

É uma pena que a integração Latino Americana ainda não tenha sido bem sucedida a ponto de fazer frente a esta crise com certa autonomia. É uma pena que o Banco do Sul não esteja em pleno desenvolvimento, hoje os mesmos mandatários que se negaram a apoiar esta iniciativa estão lamentando. Esperemos que esta crise para a América Latina seja um impulso para integração Latino-americana mas sob novos modelos de desenvolvimento, opostos ao neoliberalismo, com um sentido mais autônomo e humano, caso contrário a crise levará consigo as economias e a população toda e seguiremos atados à dependência em que nos coloca o modelo capitalista mundial.

Mas, para os que ainda acreditam que esta crise financeira, energética e agro-alimentar é algo passageiro, nós respondemos que o mais grave da crise do capitalismo mundial não está na economia, mas no ecológico e no ético. Já não há a menor dúvida de que o modelo de produção capitalista está esgotando de forma exponencial a capacidade do planeta, esta crise não é reversível e só poderá ser amenizada diminuindo o ritmo de produção e de consumo mundial. Esta não é a queda da bolsa, ou de alguns bancos e instituições hipotecárias, não são os mesmos pobres que sempre morreram de fome por falta de alimentos, não, desta vez o mundo todo vê a sua existência ameaçada e isto que pode parecer “escandaloso” não é a invenção de “comunistas inveterados” que vêem crises no capitalismo por todos os lados, mas é uma verdade comprovada pelos maiores cientistas a serviço do modelo capitalista.

A outra crise é a ética, há quem afirme, como Emeterio Gómez, que com esta crise o capitalismo não chegará ao seu fim, pelo contrário, renascerá com uma nova cara, com um elemento novo com o qual nunca contou em seus cinco séculos de existência: A Ética. O capitalismo, por sua própria natureza, é a busca pelo lucro e o enriquecimento, não importa os mecanismos que se utilizem para isso. Basta ler desde Adam Smith, passando por Stuart Mill, Sismondi, Muller, F. List, até chegar a Eucken, Mises, Hayek Hayej, Friedman, entre outros, para evidenciar como, para os grandes teóricos, alguns deles merecedores de prêmios Nobel, o capitalismo é um problema de ordem técnica e não moral, não importa o egoísmo, a competência danosa, a colonização, o extermínio de populações inteiras, produzir guerras e gerá-las de forma artificial para controlar a produção de matéria prima, não importa para eles lançar às ruas trabalhadores se a empresa não consegue um certo grau de lucro, não lhes importa botar alimentos para que os preços caiam, enquanto um terço do mundo passa fome, a eles não importa assinar e assumir os acordos humanitários ou de diminuição de emissão dos gases tóxicos, ou a luta contra a droga ou o racismo quando são suas maiores causas.

Por isso, frente à afirmação de que é imprescindível até que ponto esta crise financeira afetará o capitalismo, não tenho a menor dúvida em afirmar que a ameaça maior não sobre o capitalismo, mas sobre o planeta, a humanidade, a vida toda, encontra-se na crise ambiental e ética.
O artigo (em espanhol) encontra-se em ABP Notícias.