"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Os deslocamentos forçados na Colômbia são implementados pelo Estado colombiano

Obedecendo aos interesses das grandes transnacionais ligadas ao que há de mais atrasado desta oligarquia caça-níquel, como Jacobo Arenas a chamava, encaminhada a expulsar as pessoas das zonas ricas em biodiversidade, água, petróleo, minerais e propostas de infra-estrutura assinadas pelo império, para que passem às mãos de latifundiários, empresas petroleiras, mineradoras e agroindustriais, enquanto nos grandes centros urbanos se garante a mão-de-obra barata.

ANNCOL

Aplicando o princípio fascista de: “uma mentira repetida muitas vezes transforma-se em verdade”, foi sendo difundida a idéia de que as FARC-EP são o fator principal do fenômeno dos deslocamentos forçados de camponeses na Colômbia.

Instituições e organismos que abordaram a análise deste fenômeno, assim como algumas ONGs de certa seriedade, caíram na armadilha. Inclusive personalidades progressistas e setores revolucionários deixaram-se arrastar pela corrente e também as assinalam como os principais geradores dos deslocamentos na Colômbia.

Nada mais distante da realidade que tratar de colocá-los junto com os verdadeiros agentes que causam os deslocamentos de milhões de colombianos. Uma análise séria, objetiva e sem paixão sobre este drama demonstrará a quem quer que seja, que no fundo buscam ocultar as verdadeiras causas e os reais promotores e executores desta política.

Deve-se começar por analizar a origem das FARC e seu projeto político. A violência partidária dos anos 50 gerada pelos detentores de terras e latifundiários teve como propósito uma nova redistribuição da terra, aumentando a concentração desta através da violência, o arrasamento e o terror, com a finalidade de garantir os projetos agro-industriais impostos pela política econômica do império e consolidar o latifúndio no campo como relação social que lhes permitiria conservar a submissão política do campesinato.

Na região de Marquetalia, em 1964, haviam várias famílias camponesas que trabalhavam pacificamente, advindas de diversas regiões da Colômbia e haviam chegado ali após terem sido expulsas por conta da violência partidária dos anos 50. Quando em maio de 1964 seriam vítimas de outra agressão, que implicaria novamente em um deslocamento forçado, 48 humildes trabalhadores tomam a decisão de não seguir com suas enxadas nos ombros e decidem empunhar um fusil para impulsionar um projeto político revolucionário, onde o camponês não seja expulso das áreas de interesse de uma minoria.

Por isso, a própria essência da gênesis das FARC está no deslocamento forçado, implementado como política de Estado na Colômbia para garantir os interesses e os projetos da classe dirigente, submetida aos desígnios do império do norte. O próprio surgimento das FARC é uma expressão legítima de repúdio à esta prática, mas, além disso, é a construção de uma alternativa que inclui o não deslocamento forçado em áreas de interesses, na maioria das vezes estrangeiro.

Outro elemento que deve ser analisado nesse fenômeno social, o deslocamento, é determinar quem são os beneficiários, por quê e para quê se implementa e quem é que os executa. Este exame, caso seja legítimo, demonstrará que as FARC não têm nada a ver com a implementação dos deslocamentos forçados, como política da organização. Não devemos entrar em detalhes sobre isso. Há inúmeros estudos, uns mais sérios que outros, que demonstram, quem são os que estão por trás dos deslocamentos na Guajira, com o Cerrejón pelo meio; no Chocó, com os projetos da cana africana na ordem do dia; em Antioquia com Urrá I e Urrá II; no Catacumbo, onde o petróleo, o carvão, a água e a cana estão na mira das transnacionais; em urabá com o Golfo e a indústria bananeira, para citar apenas alguns exemplos.

Agora, há casos muito pontuais, que são circunstanciais ao conflito armado em que estão imersos, imposto e agenciado pelo Estado, e que apontam a garantir sua razão de ser. Quando, por exemplo, alguém em uma vereda, de forma voluntária, decide se colocar à disposição do exército e está informando sobre nossos movimentos e localizações para guiar as patrulhas e orientar os aviões e helicópteros nos bombardeios e desembarques, não lhes resta outra saída que abordá-lo para recriminar sua atitude, exigir que ele mude sua conduta. Muitas das vezes estas pessoas abandonam a região e se apresentam como deslocados.

Outras situações que se apresentam, é quando as comunidades os abordam para que dêem um jeito em pessoas da própria comunidade que se dedicam ao roubo, à enganação, aos vícios que vão contra os costumes saudáveis das pessoas, a agressão às mulheres, filhos, etc. Os guerrilheiros abordam a pessoa para tratar de conscientizá-lo da necessidade de mudança de comportamento e ocasionalmente, sancioná-lo com algum trabalho social (limpar a escola, por exemplo). Alguns decidem sair da região e apresentar-se como deslocados pela guerrilha.

E nesses casos onde o stablishment, apoiado nos meios de desinformação, aplica em toda sua intensidade o princípio fascista do exagero e desfiguração dos acontecimentos, buscando com isso deslegitimizar sua justa causa insurgente, e que para não somar-se à lista de deslocados, uniram-se em torno de um projeto político que busca erradicar as raízes de tão degradante fenômeno.

Não devemos procurar por afogados na superfície da água. O deslocamento na Colômbia está implementado pelo Estado colombiano, obedecendo aos interesses das grandes transnacionais ligadas ao que há de mais atrasado desta oligarquia caça-níquel, como Jacobo Arenas a chamava, encaminhada a expulsar as pessoas das zonas ricas em biodiversidade, água, petróleo, minerais e propostas de infra-estrutura assinadas pelo império, para que passem às mãos de latifundiários, empresas petroleiras, mineradoras e agroindustriais, enquanto nos grandes centros urbanos se garante a mão-de-obra barata.

Não é justo que os camponeses fiquem no fogo-cruzado da guerrilha e o exército oficial e não-oficial (leia-se paramilitares); Eles fogem da selvageria e a brutalidade empregada pelo aparato repressivo governamental e os grupos que os apóiam.
O original encontra-se em Anncol.