Causas e conseqüências
"A uma ação corresponde uma re-ação de igual ou maior magnitude". O povo seguirá em sua luta pelo Intercâmbio ou Troca de Prisioneiros para a saída política do conflito interno colombiano. Se o governo Alva-raco Uribélez continua fazendo-se o surdo, então crescerão as vozes exigindo sua renúncia e a comunidade internacional, ante a negativa de aceitar a Comissão de Negociação, procederá a declarar as FARC como força beligerante. Escreve José Maria Carbonell.
Alvaraco com seu novo sócio, Angeraco!
[José María Carbonell/ANNCOL]
Por estes dias, os meios de comunicação em poder da oligarquia – leia-se "Paracol", "Radio Cadena Paramilitar", "Casa Militar El Tiempo", Revista Cambio (des´inteligência militar´) etc – reproduzem o pensamento sórdido da classe oligárquica.
Estes senhores pretendem seguir confundindo nosso povo e pretendem mostrar que a insurgência é "um grupo de bandidos desalmados" que "ataca a sociedade civil". Nada mais mentiroso e mais manipulador. Estes senhores pretendem confundir "Causas e Conseqüências".
Na Colômbia, a violência contra o povo agenciada desde o Estado (a causa ou ação) produziu o nascimento da insurgência armada (a conseqüência ou re-ação). Assim foi durante a infeliz época de "La Violencia" quando, sob o pretexto de uma luta entre os dois partidos oligárquicos – liberal e conservador –, assassinaram comunistas, socialistas e liberais, num processo cuja base real, verdadeira, foi econômica para a acumulação da terra em poucas mãos, os novos latifundiários.
A violência estatal é a "causa" e a resposta das FARC é a "conseqüência".
Produto dessa política estatal, oligárquica, morreram 300.000 colombianos e um milhão de deslocados internos, isto é, 1.300.000 colombianos perderam suas terras, suas casas, seu gado. Já para essa época, a oligarquia reviveu – porque nas guerras do século 19 já os haviam utilizado – as tenebrosas criaturas dos paramilitares, chamados, então, "pájaros"¸"chulavitas", "cóndores" etc.
As guerrilhas desse momento – nascidas como re-ação à violência do aparato estatal – foram conformadas, em sua maioria, pelo Partido Liberal, e pelo Partido Comunista em sua minoria. Todas as vítimas de "La Violencia" foram gentes do povo, absolutamente todas! Nenhum dos membros da alta oligarquia – os Gómez, os Ospina, os Lleras etc –, nenhum resultou morto durante essa época que arrancou em 1947 e terminou ao redor de 1957. Jorge Eliécer Gaitán, assassinado em 9 de abril de 1948, era de extração de classe média alta, não era oligarca, lhes esclareço.
Posteriormente, os ideólogos do Pentágono e o império elaboram a Doutrina de Segurança Nacional – em pleno período da Guerra Fria – e, aplicando a tal doutrina, elaboram o Plano LASO (Latin American Security Operation) agredindo (ação ou causa) a 48 campesinos cujo único pecado era ter-se dado suas próprias formas de organização comunitária para defender-se dos bandos de bandoleiros, agressão que os obrigou a transformar-se em guerrilhas, nascendo, assim, as FARC (re-ação ou conseqüência).
Cada tanto, quase cada período presidencial, o governante ou administrador de turno declara a guerra às FARC – e, conseqüentemente, ao povo – como se a guerra declarada anteriormente houvesse acabado, e elabora seu próprio Plano de Guerra. Assim vimos, Turbay Ayala teve seu "Estatuto de Segurança", César Gavíria Trujillo teve sua "Guerra Integral", Pastrana teve seu "Plano Colômbia" e Álvaro Uribélez teve seu "Plano Patriota" e agora seu "Plano Consolidação", que não são mais que fases do "Plano Colômbia" de Clinton e Pastrana.
Nestas "guerras", as vítimas sempre pertenceram ao povo. Seja que caiam membros da força pública – filhos do povo – ou guerrilheiros – também filhos do povo –. Porque há que dizê-lo com meridiana clareza, nenhum – NENHUM – dos filhos dos oligarcas vai à guerra, vai à frente de batalha, nem sequer vão prestar serviço militar obrigatório. Por aí há um que outro que "pagou" o "serviço" na Base Naval de Cartagena – no papel de estafeta, porque não têm garra para outra coisa – e passou o tempo foi namorando nas praias. Aos oligarcas – que gostam de jogar à guerra para defender seus mesquinhos interesses – não lhes agrada que seus filhinhos vão à guerra porque, de repente, "há um maldito seja" e não vá a ser que morram seus filhinhos mimados. Como também choramingam quando a guerra golpeia seus funcionários ou paus-mandados.
A oligarquia está acostumada a assassinar gentes do povo, porém, quando as vítimas são produto da re-ação (a conseqüência) a suas ações, ou seja, são oligarcas ou representantes de alguma das ramificações do poder, então choraminga qual carpideira. As frias estatísticas são arrepiantes. Têm sido publicadas em ANNCOL e a oligarquia fica sem se preocupar, porque nenhum dos mortos é de sua elite. Não me venham sair com o conto de que Luis Carlos Galán Sarmiento era da oligarquia – era classe média alta como Gaitán – e, ademais, foi assassinado por um "sócio" da oligarquia – Don Pablo Escobar Gavíria (primo de César Gavíria e de José Obdulio) –, o qual foi fundamental no desenvolvimento do projeto de guerra contra o povo chamado NARCO-PARAMILITARISMO.
As forças militares-narco-paramilitares do Estado colombiano têm promovido uma guerra contra o povo – em aplicação da DSN – para "secar a água ao peixe", o qual tem produzido, segundo as cifras compiladas por Allende La Paz, de ANNCOL, desde a administração de Virgilio Barco Vargas (1986-1990) até Álvaro Uribélez (2002-...): 3.726 massacres; 6.525 desaparecimentos forçados (Asfaddes fala de 13.000); 28.245 assassinatos seletivos; e alcança um consolidado de vítimas de 69.000 colombianos assassinados fora de combate no dito período. Aclaro que estas cifras padecem de incompletude, segundo diz o compilador.
Nesse período exterminaram a União Patriótica (U.P.), no único genocídio de um partido político de que tem conhecimento a história, incluindo dois candidatos presidenciais (Jaime Pardo Leal e Bernardo Jaramillo Ossa), senadores, representantes à Câmara, deputados, vereadores municipais, prefeitos e líderes populares.
Estas cifras demonstram que o único e verdadeiro assassino e terrorista na Colômbia são as forças militares-narcoparamilitares do Estado.
E o governo farisaico de Alva-raco Uribélez tem aceitado a responsabilidade estatal por tais assassinatos? NÃO! Pelo contrário, na passada campanha eleitoral de 2006 utilizaram uma propaganda política na qual mostravam um antigo membro da U.P. dizendo que os mortos da dita organização eram porque "andavam em más companhias" das FARC. Não é isso a justificativa do assassinato político de dirigentes legais, desarmados, inermes?
Segundo a lógica de Alva-raco Uribélez a oligarquia, sim, pode assassinar a TODO um partido político de esquerda que lutava na legalidade (ação), porém choraminga qual mulherzinha quando os mortos são membros de uma ramificação do poder legislativo a nível departamental [estadual] (a re-ação ou conseqüência da ação). Porque na Colômbia a oligarquia usa a certos setores médios-altos que se dedicam à "vida política" como uma forma de ascensão social, de passagem porque não há outra forma, a não ser que se dedique ao narcotráfico – como os sócios de Uribélez –, os quais são tratados com "luvas de seda" por Alva-raco.
E agora, no cúmulo do farisaísmo, pretende converter as manifestações de pesar que o próprio povo sente em dividendos políticos de apoio à sua nefasta administração, logicamente que com a campanha midiática dos meios de comunicação em poder da oligarquia.
Aclaramos que as manifestações a realizar-se nos próximos dias é a ratificação do povo de seu desejo de lograr um Intercâmbio Humanitário ou Troca de Prisioneiros, como um passo significativo, transcendental, para avançar para a solução política do conflito social, político, econômico e armado que vivemos os do povo por culpa da oligarquia. Em nenhum momento é uma "condenação" às FARC. Não, o que o povo tem manifestado de múltiplas maneiras – e seguirá manifestando – é seu fervoroso desejo pela PAZ, pelo respeito ao direito à vida, para que este direito seja o eixo primordial da ação do estado e de todas as forças da sociedade em seu conjunto.
Porque, se a oligarquia colombiana respeitasse suas próprias regras "democráticas", se respeitasse a vida dos adversários políticos, se respeitasse o direito ao dissenso, a ser diferente – como mostra: a posição dos parlamentares uribistas sobre a lei dos/as homossexuais –, outra realidade viveria o povo colombiano.
O povo seguirá em sua luta pelo Intercâmbio ou Troca de Prisioneiros para a saída política do conflito interno colombiano. Se o governo de Alva-raco Uribélez continua fazendo-se o surdo, então crescerão as vozes exigindo sua renúncia e a comunidade internacional, ante a negativa de aceitar a Comissão de Enlace, procederá a declarar as FARC como força beligerante.
Será, então, o momento em que o governo de Alva-raco Uribélez ou de quem o suceda estará obrigado a negociar com a contraparte, as FARC, a qual atua em representação de vastos setores da sociedade colombiana, o povo. Declaradas as FARC como força beligerante o Direito Internacional obriga o governo colombiano a co-governar com as FARC. E, então, aí sim, que é verdade que "cantará ouro galo"!
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