O rol dos países amigos: entre o pragmatismo e a falta de imaginação
[Johnson Bastidas/Sociólogo]
Tornou-se conhecido o pronunciamento dos países amigos no qual reafirmam sua "determinação" de continuar incansavelmente seus esforços para alcançar o mais rapidamente possível uma solução humanitária para a Colômbia.
Leiamos esta declaração no contexto no qual se produz. Sem esquecer tampouco, que papel joga na América Latina (AL) no contexto de expansão econômica de capitais, tal dimensão implica uma leitura internacional do conflito colombiano.
Ao contrário do que se pensa atualmente, a AL perdeu importância como receptora de capitais estrangeiros, a prioridade hoje em dia para o caso da União Européia é o Leste Europeu, digo isto sem nos atermos aos destinos que têm atualmente as inversões. Os capitais estão buscando mão-de-obra barata e bem qualificada, e nisto os países do Leste superam a AL, estes têm um bom nível educacional, boas infra-estruturas. As transferências de empresas estratégicas são feitas com olhos para esse lado do continente. Empresas da Alemanha e França fazem chantagem, atualmente, com os respectivos governos e sindicatos locais para pedir isenção de impostos e flexibilização da contratação sindical, sob pena de irem embora para a Polônia. Em conseqüência são atraídos para esses países para o eixo de influencia da União Européia e da OTAN.
Outro elemento importante, é que a UE (União Européia) paira entre a disjuntiva de posicionar-se sobre seu próprio solo, e a influência latente e manifesta dos EEUU através da OTAN. Por isso na Europa fala-se de construir um sistema de defesa nitidamente europeu que não dependa da OTAN, este é um sonho pois cada vez mais se constroem bases militares estadunidenses em solo europeu, produto de negociações entre governos da social-democracia e a direita dos EEUU. Para citar somente os casos Berlusconi na Itália, Polônia, e outros Estados Europeus. A situação apresentada pelos vôos secretos da CIA em solo europeu para seqüestrar pessoas suspeitas de laços terroristas, serve-nos de indicador. Os EEUU atuam 'à vontade' em solo europeu. De outro lado a diplomacia Européia foi incapaz de resolver sozinha problemas sobre seu próprio solo, a crise dos Balcãs é um bom exemplo. E quando intervém o faz de maneira errada, como no problema interno palestino, ou tarde como na crise de Dafur, e o que não dizer da mediocridade mostrada frente à agressão de Israel nos territórios ocupados na Palestina e na guerra do Líbano.
O dito até aqui serve para situar o leitor sobre o tipo de mediadores que temos no conflito colombiano. Um elemento importante que não podemos deixar passar é que, se a diplomacia européia vai de fracasso em fracasso como União, esta mostra mais eficácia agindo só, quer dizer, com a influência que pode ter cada país em separado. Se não, como explicarmos que uma ligação telefônica do presidente francês pode fazer liberar a R. Granda, o chamado Chanceler das FARC_EP. Não acreditamos que a liberação de Granda seja um problema de consciência da direita colombiana, que desde o Estado promoveu seu seqüestro na Venezuela. Esta influência individual de cada país europeu parece estar intimamente ligada às inversões que cada país tem na AL em geral e na Colômbia em particular, mas não é sempre assim. A este ponto é que eu queria chegar.
Ao contrário do que muitos pensam, há quem diga ou acredite, por exemplo, que existam imperialismos maus e/ou imperialismos bons (União Européia). Aqui entendemos que o que se denomina "imperialismo" é um só. Seja Europeu ou Estadunidense a essência é a mesma, há diferenças, isso sim, de métodos. Uns enviam tanques de guerra, outros enviam capitais, uns e outros preferem os acordos bilaterais, porque neles nota-se a assimetria entre países que firmam tais acordos.
Os EEUU a pesar de sua influência histórica na Colômbia, lembremos de alguns indicadores já conhecidos, - somos o terceiro receptor da ajuda militar estadunidense, (Leia-se Planos Colômbia, Patriota, e o agora denominado Consolidação, esta não sabemos de quê) no território colombiano há três prisioneiros de guerra estadunidenses, quem sabe os únicos prisioneiros estadunidenses no mundo, os EEUU são o principal sócio comercial da Colômbia, a inversão liquida para o ano de 2004 deste país na Colômbia foi de 3. 874 milhões de dólares (US), e para 2005 esta subiu para US 5. 273, o qual representa um crescimento do 36%, a pesar de tudo isto, a União Européia compete ou pretende competir neste pastel delicioso chamado: privatizações, que dispararam durante os dois mandatos Uribistas e cujos dinheiros eram servidos em sua maioria para tapar os fossos fiscais.
As inversões da UE na Colômbia para 2004-05, segundo a fonte antes citada, se traduzem em 35.4% (US 11 bilhões), da inversão estrangeira no país; nessa ordem seguem as Antillas com 24% (US 7. 798 milhões) e num terceiro lugar estão os paises do NAFTA (México, EEUU, Canadá) com 23.7% (US 7. 697 milhões). Por países a cifras são mais claras, Inglaterra investe mais que os EEUU na Colômbia, US3. 759 milhões contra US 1.399 milhões, com toda esta inversão da Inglaterra, não saberíamos nunca que o embaixador inglês haja demitido um ministro ou um general das FFAA, contrário ao pode de Virrey que possui na Colômbia o embaixador atual dos EEUU.
Nas bolsas de valores, os investimentos diretos espanhóis ocupam o segundo lugar depois dos EEUU, as cifras para 2005 do Banco da República são em sua ordem de ações em milhões de dólares, US 5.272 para o EEUU e US 3. 963 para a Espanha. A foto em Cartagena em 11 de Julho último, de Felipe Gonzáles, Pastrana, Belisario, Saramago e Uribe e a compra d'O Tempo por parto do grupo espanhol Prisa, não são nada gratuitas. As declarações de Saramago nesse ato, quando desqualificou o caráter político da insurgência colombiana são uma mensagem clara do que pensa o capital que chega à Colômbia.
Os investimento da Suiça na Colômbia podiam ser consideradas como modestos, apesar da presença da Nestlé, a Glencore, Holcim e outras empresas que operam sobre o território nacional, lembremos que empresas de capital suíço têm ganho, ultimamente, licitações importantes, como a ampliação e a concessão por 20 anos do aeroporto de Dorado, uma refinaria de Petróleos, entre outras. A Suíça e a Inglaterra são um bom exemplo de como a influência política não está intimamente ligada ao volume de investimentos, na Bolsa de investimentos diretos a Suíça não parece nem as primeiras mais importantes (que somadas são 96.9%).
As relações comerciais entre a Colômbia e a Suíça, baseiam-se nas preferências tarifárias outorgadas pela Suíça (SGP), a balança comercial está inclinada sobre este último. As exportações da Colômbia nos anos 2003-2004-2004 foram em milhões, US$ 129,04, US$ 152,29 e US$ 140,13 respectivamente. Para o mesmo período, as exportações da Suíça para a Colômbia foram aumentando, US$ 171,00, US$ 207,32, e US$ 208,03 milhões. Não esqueçamos, um fator importante é que a Suíça não qualifica de terroristas a insurgência colombiana e esta ação política pesa mais que qualquer investimento de capital na hora de uma mediação no conflito colombiano.
Outro dado a ser levado em conta é que, apesar dos 3 ministros de relações exteriores da França, Espanha e Suíça serem de ascendência socialista, isto poderia ser interpretado como bom sinal da coordenação que podem ter as 3 agendas diplomáticas. Porém as situações internas de cada país e os interesses díspares no conflito colombiano podem afetar a velocidade das iniciativas que ali surjam.
O ministro francês de relações exteriores Bernard Kouchner, figura como traidor no seio do partido socialista, e sua nomeação é interpretada como uma estratégia de Sarkozy para dividir os socialistas. A França parece interessar-se pela sorte de Ingrid Betancourt. Moratinos, por sua vez, arrasta-se com a dívida contraída do partido PSOE, que havia feito do processo de paz com ETA uma das bandeiras principais do governo, diante do fracasso deste processo, o governo de Zapatero mostra uma debilidade que o PP já começa a canalizar para as próximas eleições. A Ministra suíça Camy- Rey por seu lado, produz debate no seio de seu partido ao assinalar que este havia se alijado das bases sociais, e que cada vez se verticaliza mais a tomada de decisões no interior do partido. O partido socialista suíço mostrou ambigüidade tremenda diante de certos dossiês chaves na política doméstica, como por exemplo, diante da nova lei de asilo e a revisão da lei de estrangeiros. Por outro lado, o partido socialista suíço não mostrou nenhum interesse sobre a situação colombiana. Contrariamente a isso, partidos da extrema esquerda suíça, menores como Solidarités e o Partido Suíço do trabalho mostraram maior sensibilidade diante da situação colombiana, assim como também alguns sindicatos.
Dos países amigos, a Suíça é, sem sombra de dúvidas o que mais confiança gera entre as partes, apesar de que o governo nacional não vê com bons olhos a interlocução da Suíça com as FARC-EP nem tampouco o fato de que a Suíça não se somou ao coro das listas terroristas. Isso exaspera o governo colombiano. Aqui pesa muito a tradição de mediador do país Helvético.
A diplomacia Suíça deve fazer valer esta posição privilegiada para gerar idéias criativas que arranquem o processo colombiano do ponto morto em que se encontra. O limbo do processo, pode ser superado se o intercâmbio humanitário for alcançado. Um intercâmbio humanitário abriria um marco de confiança para a busca de saídas políticas ao conflito colombiano. O primeiro obstáculo à solução política é Uribe mesmo e o projeto que ele encarna. O regime aposta na derrota militar da insurgência, ou seja, da guerra, esquivando-se assim dos caminhos que a nação necessita.
Diante desse cenário tão complexo, esperamos que ao final se imponha a solução política ao conflito. Quando esse momento chegar, precisaremos de um terceiro que traga propostas criativas e audaciosas que vão mais além de suas inversões.
- Segundo dados da República e do Ministério do Comércio, Indústria e Turismo.
- O governo anunciou a venda de todas as hidroelétricas, entre elas, ISA e ISAGEN estas duas últimas valem em torno de 4.5 bilhões, que serão utilizados para antecipação dos serviços da dívida externa. Também a emissão de bonus por US 4.500 milhões para capitalizar a empresa ECOPETROL.