O colapso moral da Colômbia
Rubiano, serás um dos seis?
[Alberto Pinzón Sánchez/ANNCOL]
Os aglutinadores dos diversos grupos paramilitares nas Autodefesas Unidas de Colômbia, a família Castaño Gil, têm por tática bem provada a de morrer em vida. Não se sabe que serviço secreto de qual país lhes ensinou a desaparecer sem deixar rastro, ou a deixar somente alguns despojos que induzam a dúvida entre a vida e sua morte, para assim continuar com sua dominação desde a ultratumba, sem os riscos que tem a existência aqui na terra.
Primeiro, foi Fidel Castaño, de quem a falsimídia oficial do regime disse aos quatro ventos, havia morto heroicamente defendendo a democracia ocidental e cristã da Colômbia, num combate contra a guerrilha comunista, e que, depois, se soube era um “falso positivo” do realismo mágico: quer dizer, uma construção literária dos jornalistas pagados com o generoso sobrecito do Ministério de Guerra. Logo, morreu Carlos e todos vimos o exorcismo mágico do procurador Iguarán, exibindo tetricamente sua “suposta” e sorridente caveira. Agora, Vicente, o águia negra (pa´lo que vocês gostem mandar), não desde a clandestinidade senão que desde a impunidade; espalha os rumores de sua morte em vida. Com qual objetivo?: As crenças religiosas são também um campo doloroso de confrontação em sua guerra integral contrainsurgente.
E ontem, 18 de julho, em sua mil vezes estudada “versão livre”, o capo Paramilitar do centro Antioquenho Don Berna afirma ante os fiscais de turno, sem pudor nenhum, que o confessor pessoal de Carlos Castaño, monsenhor Isaías Duarte Cancino, morto justiçado num ajuste interno de contas Narcoparamilitar (que, instantaneamente, foi atribuído pelos serviços de inteligência militar à guerrilha das FARC); era um dos 6 membros da junta diretora dos Paramilitares... Quais serão os outros cinco?
Como toda resposta escutamos, outra vez, a palavra castelhana mais usada nos últimos anos na Colômbia: Infâmia! No entanto, os que mastigamos antes de tragarmos inteiro o ouvido, voltemos ao livro-entrevista que lhe fez a Carlos Castaño a agente do nacional-catolicismo franquista e colunista do diário oficial El Tiempo, Salud Hernández Mora, que intitulou piedosamente “Minha Confissão”; especialmente a página 173 e seguintes do muito sugestivo capítulo X, onde, desde os primeiros parágrafos, se lê de corpo inteiro toda sua estratégia político-religiosa de encobrimento, que don Berna finalmente acaba de destapar.
“ – Monsenhor Isaías Duarte Cancino me convidou a Cali. Na época que a Carlos Castaño Gil o buscavam as autoridades de todo o país. Decidi que assistiria como uma de minhas cinco saídas à cidade. Antes de viajar, disse a monsenhor: Sua excelência, me manda o carro ao lugar que combinemos e você responde por mim..., lhe recordei de maneira amistosa e da mesma forma me respondeu: Não há inconveniente, Carlos, você dorme em minha casa –“.
A confiança com monsenhor Duarte nasceu do exercício de seu trabalho pastoral como bispo de Apartadó (hoje ocupada por monsenhor Vidal. Nota de APS). Se há sacerdote que tem sido equilibrado nesta guerra, é ele. As críticas severas contra mim, as fez monsenhor Duarte Cancino durante a etapa dos massacres que perpetraram as FARC e a Autodefesa no Urabá. Não duvidou em condenar internacionalmente a guerrilha e a nós. Criticou para lado e lado.
Sua atitude se orientou a defender sempre a população e a acusar-nos aos atores armados. Considero-o um amigo e uma pessoa elevada pelo tratamento. Diferente do cardeal Pedro Rubiano, com ele tive a oportunidade de falar largamente e de vários temas. Este senhor se dirige a alguém como se ele fosse imperador”...
Nestes assuntos prejudiciais, onde se misturam os assuntos políticos anticomunistas do Estado com a religião, de tanta tradição na história colombiana, como os famosos casos do monsenhor de Pasto Pedro Ezequiel Moreno durante a guerra dos mil dias, o do bispo de Santa Rosa Miguel Ángel Builes, durante a época da chamada Violência bipartidarista iniciada em 1946, quem chamava sem nenhuma piedade ao extermínio feroz da plebe liberal vestida de comunista; bem vale deixar em claro e resplandecente com a verdade, o ensinamento de Cristo: “Daí a Deus o que é de Deus e a César o que é de César”, e não limitar-se a dar qualificativos emotivos que não esclarecem nada nem contribuem para superar o colapso moral onde nos encontramos.
O Povo colombiano pede também, neste caso, Verdade, Justiça e Reparação totais, ou se o preferem, confissão de boca, contrição de coração, satisfação de obra e propósito da emenda como manda o catecismo do padre Astete e não simples arranjos comerciais como os que se estão fazendo nos Estados Unidos com as crianças sodomizadas por párocos católicos. Enquanto a igreja católica colombiana não esclareça “adequadamente” a situação descrita pelo capo paramilitar Don Berna ante a procuradoria de Medellín, não haverá possibilidade de que se situe como instituição neutra acima do conflito e contribua realmente a que saiamos do fosso onde nos encontramos para reconstruir e reconciliar em paz e com justiça social a família colombiana.