Jornada do 20 de Julho na Suíça: crônica
[Jhony Silva/William Ortiz/Colaboradores ANNCOL/Suíça]
Desde as oito da manhã, as ruas do centro de Berna se encheram de folguedos, com o tan! tan! tan! dos tambores colombianos. Com ares musicais, os colombianos iniciaram a jornada de denúncia, de protesto contra a Parapolítica, exigindo solução política ao conflito colombiano. Os cidadãos suíços se aglutinaram em torno do estande de informação sobre a situação de DDHH na Colômbia, ali escutaram atentos os testemunhos das vítimas do terrorismo de Estado, sobreviventes de massacres, sindicalistas expulsos do país, campesinos e dirigentes populares. Com cartazes e comunicados em todos os idiomas oficiais da confederação, os colombianos mostraram a verdadeira cara do regime narcoparamilitar. Uma cidadã suíça, mãe de dois colombianos adotados, nos dizia, indignada, "num país civilizado, os presidentes caem por menos, o regime colombiano não tem apresentação".
Os colombianos chegaram de ônibus, massivamente, desde os diferentes rincões suíços. A solidariedade de sindicatos, organizações políticas e grupos de trabalho foi fundamental para a realização do evento. A todos eles, muito obrigado. Sendo a uma da tarde, chegou o ônibus da suíça francesa, com gritos Uribe paraco o povo está zangado! E Uribe fascista, paraco e terrorista!, as crianças com suas bandeiras tricolores se foram apoderando das ruas, com borboletas de cores onde se podia ler: " Contre le regime paramilitaire: resistance". Passada a uma da tarde, chegaram os da suíça alemã. Os colombianos tomaram as ruas, saiam como formigas e as palavras de ordem atraíam os cidadãos que indagam pela situação colombiana, "a mim me deixaram sem papai os paramilitares, os mesmos que ajudaram a eleger Uribe", diz Vanesa, enquanto ajuda a distribuir os volantes. No espaço, se fizeram presentes sindicalistas suíços e internacionalistas preocupados pela situação colombiana.
Sendo as 4 da tarde, deu-se início à manifestação na "waisenhausplatz"; ali, pudemos ver, frente ao parlamento suíço, um grupo de pessoas com lençóis brancos, e bolsas plásticas,jeitadas frente ao parlamento, a imagem era patética e nos fez lembrou os milhares de campesinos, estudantes, sindicalistas assassinados pelos falsos positivos das ff.aa. e, porquê as bolsas negras, que significam, nos perguntou uma família suíça, que se refugiava do calor numa fonte de água. "essas figuras representam os resgates militares que ordenou o presidente", respondemos-lhes "são os colombianos massacrados, são os prisioneiros de guerra regressando à casa em bolsas plásticas pela prepotência do regime de negar-se ao intercâmbio". uribe fascista, paraco e terrorista! gritam os presentes.
Os manifestantes tomaram rumo à embaixada colombiana, e lá chegaram com suas palavras de ordem a voz encuello. no trajeto, um sindicalista suíço fez uso da palavra para denunciar os efeitos da guerra na colômbia, os manifestantes aplaudiam, enquanto a polícia suíça controlava o tranco nas ruas da capital helvética. uma refugiada colombiana toma o megafone e denuncia os efeitos do tlc para o campo colombiano, também a destruição dos produtos da agricultura familiar pelos efeitos das fumigações.
Quando os manifestantes chegaram frente à embaixada, a polícia antimotins suíça havia encordoado a área, o regime havia pedido proteção, estavam cagados de medo, temiam um assalto à embaixada, "tememos que queimem a embaixada, são terroristas", dizem que havia dito a embaixadora à segurança suíça. Sabemos, por exemplo, que a embaixada espia os colombianos.Sempre os regimes totalitários têm demonstrado medo, medo frente aos poetas, frente a uma canção de protesto, frente a um líder campesino, e o que não dizer frente a uma multidão, por isso reprimem. A repressão dos regimes totalitários é uma mostra mais de quão frágil é o totalitarismo. Por isso, o regime pediu à polícia suíça algo que o regime nunca proporciona, segurança, proteção.
Frente às barreiras de aço que protegiam a embaixada, um dirigente social colombiano exigiu ao regime explicação por nomear a "um bom rapaz", "a um membro de uma família honorável": Jorge Noguera à frente dos serviços secretos do estado (DAS), tão "honorável é" e "tão bom rapaz" que fornecia lista de opositores políticos aos paramilitares, para que estes os assassinassem. E que tal a CONCHI, disse o dirigente, Maria Consuelo Araújo – presidenciável, segundo Uribe – filha e irmã de paramilitar, dizem que representando a Colômbia ante o mundo, sem ruborizar-se, quota política de Jorge 40. A multidão aplaudia e gritava: se vive, se sente, se cai o presidente! Se vive, se sente, se cai o presidente! A uns quantos metros daí, protegido pela polícia suíça, o cônsul colombiano escutava em silêncio as palavras de ordem, e, para que aos habitantes do setor lhes ficasse claro a que iam os manifestantes, as palavras de ordem se escutaram também em alemão. Depois, tomou a palavra um internacionalista suíço, que ilustrou a situação desastrosa da Colômbia em matéria de DDHH. Sua intervenção dava conta do bem informada que está a opinião pública suíça sobre a situação da Colômbia.
Os manifestantes – dois nacionais e um cidadão suíço – lhe fizeram entrega em suas próprias mãos ao cônsul colombiano um documento que sintetiza o sentir do exílio colombiano; solução política ao conflito, justiça, verdade e reparação para as vítimas do paramilitarismo, intercâmbio humanitário já, contra a Parapolítica e não à lei de justiça e paz, considerada por eles monumento à impunidade para os crimes paramilitares. Ao cônsul, os marchantes manifestaram-lhe que não eram eles os causadores da má imagem do regime, que eles não eram terroristas e que amavam a sua pátria. Que, contrário a isso, era o regime colombiano o culpável de sua má imagem no mundo, por sua política sanguinária e repressiva contra os opositores políticos, e seus fortes laços com os paramilitares e mafiosos. Todos vimos a vergonha do cônsul, é difícil defender o indefensável.
Ato seguido, os manifestantes se dirigiram ao Treffpunkt Wittigkofen para a jornada cultural; durante o trajeto, um aguaceiro de Verão surpreendeu os colombianos, depois da manifestação. São Pedro está contra a Parapolítica – brincaram alguns – porque, durante a manifestação, Berna luziu um sol radiante, o mesmo sol que esperamos brilhe para nossos compatriotas, que sobre o território resistem contra o regime e contra a arremetida paramilitar. Na noite, escutamos a riqueza de nossos ares musicais, viajamos pelo plano, a grito de harpa llanera, depois à costa pacífica ao ritmo de caderona e, logo, à atlântica. Minha "Negramenta" estava com o ritmo cardíaco alterado, e os suíços amigos da Colômbia saltavam com guabinas, joropos e currelaos, e não podiam faltar os argentinos, sempre por todos os lados, depois do corralito, milongas à direita e esquerda e todos com a sensação do dever cumprido: Uribe paraco, o povo está zagando.
Uribe paraco, o povo está zangado.
E,
Uribe fascista, paraco e terrorista.
Uribe fascista, paraco e terrorista.
Definitivamente, não foi um 20 de julho qualquer.
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