Breve história da indústria da banana na Colômbia
A comemoração dos 80 anos do Massacre das Bananeiras, em Ciénaga no dia 6 de dezembro de 1928, serve para transcender ao funesto episódio da indústria bananeira na Colômbia, resenhar os modos de produção que já fazem um século e mostrar como eles transluzem as formas que adotaram a presença das empresas norte-americanas.
Aurelio Suárez Montoya, Bogotá, dezembro de 2008
Ao conectar estas atividades com as políticas dos Estados Unidos, é possível se dar conta da ingerência exercida sobre as nações onde se plantam banana, tanto que elas são denominadas com o nome pejorativo de Banana Republics.
Devido às largas vantagens que os governos dos primeiros anos do século XX deram aos capital norte-americano, nascem as concessões petroleiras que terminaram nas mãos da Tropical Oil, a expansão cafeteira, financiada em alguma proporção por casas comerciais de Londres e New York, as concessões de ferrovias e o cultivo da banana pela United Fruit Company no Magdalena. Uma narração do embaixador da França ao seu Chanceler em Paris a respeito diz o seguinte: “Para demonstrarmos a invasão praticada pela United Fruit Company, os direi que ao redor dos povos da região bananeira não sobrou nenhum terreno... ela obrigará a emigrar todas as pessoas que não trabalham em suas plantações de bananas... o povo será forçado a suspender seus próprios cultivos e criação de gado até finalmente vender as terras para a United Fruit e o país está ameaçado pela dominação dos americanos...”. Nesse ambiente, onde muitas vantagens foram alcançadas com subornos, como o controle das ferrovias, aconteceu o Massacre. Os trabalhadores eram pagos pela metade e sob ameaças dos capangas da United. Épocas de submissão absoluta.
Nos anos sessenta, na Guerra Fria, a United, agora com o nome de Companhia Fruteira de Sevilla, promoveu a zona de Urabá, atrativa não somente pelas vantagens agrícolas para o cultivo, mas estratégica pela proximidade do Canal do Panamá e o acesso ao mar em uma extensa área até então quase inóspita. O modelo produtivo foi diferente, estava de acordo com a característica política que exigia o embate com a União Soviética pela hegemonia global. A Sevilla, que outorgava crédito para sementes e inicialmente para drenagem, deixou a produção nas mãos de nacionais, que arcavam com o manejo do trabalho e demais riscos implícitos. A multinacional se encarregou da assistência técnica, a comercialização e o transporte da fruta. Assim chegou a mais de 20.000 hectares semeados, ao aumento das exportações e, em meio aos agudos conflitos, salpicados de enrevezadas violências, os trabalhadores formaram sindicatos e alcançaram direitos coletivos.
A partir dos anos noventa, com a globalização, o modelo voltou a mudar. United Brands, a multinacional camaleoa, comercializa desde 1990 a marca Chiquita e em conjunto com Dole e Del Monte. Logo após os efeitos da quebra por conta da crise de superprodução mundial, se concentra como comercializadora avançada com o controle de mercados menores do Norte. Estas três controlam 60% do negócio mundial. Chiquita opera, em muitos casos, com barcos e equipamentos terceirizados e se re-estrutura, afastando-se do processo produtivo e focando na área mais lucrativa. Fatura, anualmente, cerca de 4,5 bilhões de dólares e opera em mais de 70 países.
O desenvolvimento da indústria bananeira na Colômbia está marcado pela estratégia econômica, política e militar das companhias, levada a cabo pelos governos dos Estados Unidos, tingida de sangue dos povos locais. Não se sabe o que acontecerá após a nomeação de Eirc Holder, advogado de Chiquita perante as cortes estadunidenses pelos crimes de apoio aos paramilitares, como o novo Procurador Geral do governo de Obama. Estamos diante de um novo mal episódio desta história?
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