"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Breve história da indústria da banana na Colômbia

A comemoração dos 80 anos do Massacre das Bananeiras, em Ciénaga no dia 6 de dezembro de 1928, serve para transcender ao funesto episódio da indústria bananeira na Colômbia, resenhar os modos de produção que já fazem um século e mostrar como eles transluzem as formas que adotaram a presença das empresas norte-americanas.

Aurelio Suárez Montoya, Bogotá, dezembro de 2008

Ao conectar estas atividades com as políticas dos Estados Unidos, é possível se dar conta da ingerência exercida sobre as nações onde se plantam banana, tanto que elas são denominadas com o nome pejorativo de Banana Republics.

Devido às largas vantagens que os governos dos primeiros anos do século XX deram aos capital norte-americano, nascem as concessões petroleiras que terminaram nas mãos da Tropical Oil, a expansão cafeteira, financiada em alguma proporção por casas comerciais de Londres e New York, as concessões de ferrovias e o cultivo da banana pela United Fruit Company no Magdalena. Uma narração do embaixador da França ao seu Chanceler em Paris a respeito diz o seguinte: “Para demonstrarmos a invasão praticada pela United Fruit Company, os direi que ao redor dos povos da região bananeira não sobrou nenhum terreno... ela obrigará a emigrar todas as pessoas que não trabalham em suas plantações de bananas... o povo será forçado a suspender seus próprios cultivos e criação de gado até finalmente vender as terras para a United Fruit e o país está ameaçado pela dominação dos americanos...”. Nesse ambiente, onde muitas vantagens foram alcançadas com subornos, como o controle das ferrovias, aconteceu o Massacre. Os trabalhadores eram pagos pela metade e sob ameaças dos capangas da United. Épocas de submissão absoluta.

Nos anos sessenta, na Guerra Fria, a United, agora com o nome de Companhia Fruteira de Sevilla, promoveu a zona de Urabá, atrativa não somente pelas vantagens agrícolas para o cultivo, mas estratégica pela proximidade do Canal do Panamá e o acesso ao mar em uma extensa área até então quase inóspita. O modelo produtivo foi diferente, estava de acordo com a característica política que exigia o embate com a União Soviética pela hegemonia global. A Sevilla, que outorgava crédito para sementes e inicialmente para drenagem, deixou a produção nas mãos de nacionais, que arcavam com o manejo do trabalho e demais riscos implícitos. A multinacional se encarregou da assistência técnica, a comercialização e o transporte da fruta. Assim chegou a mais de 20.000 hectares semeados, ao aumento das exportações e, em meio aos agudos conflitos, salpicados de enrevezadas violências, os trabalhadores formaram sindicatos e alcançaram direitos coletivos.

A partir dos anos noventa, com a globalização, o modelo voltou a mudar. United Brands, a multinacional camaleoa, comercializa desde 1990 a marca Chiquita e em conjunto com Dole e Del Monte. Logo após os efeitos da quebra por conta da crise de superprodução mundial, se concentra como comercializadora avançada com o controle de mercados menores do Norte. Estas três controlam 60% do negócio mundial. Chiquita opera, em muitos casos, com barcos e equipamentos terceirizados e se re-estrutura, afastando-se do processo produtivo e focando na área mais lucrativa. Fatura, anualmente, cerca de 4,5 bilhões de dólares e opera em mais de 70 países.

Ainda assim, reconheceu que entre 1994 e 2007 entregou 1,7 milhões de dólares a grupos paramilitares de Urabá e Magdalena e permitiu remessas de armas para estas facções em barcos da sua empresa. Por isso ela foi sancionada por uma corte norte-americana em 25 milhões de dólares e está exposta a centenas de demandas de famílias de vítimas. Os trabalhadores, pelo excesso de oferta em escala planetária, estão submetidos a restringir suas petições pelo perigo de ser preferido produto de outras latitudes que poderiam ficar mais barato. Assim como acontece com os produtores, submetidos ao preço que eles queiram pagar por caixa. Tudo sob o imperativo da competição global para definir quem toma café da manhã. Anunciam-se ventos de uma submissão absoluta.

O desenvolvimento da indústria bananeira na Colômbia está marcado pela estratégia econômica, política e militar das companhias, levada a cabo pelos governos dos Estados Unidos, tingida de sangue dos povos locais. Não se sabe o que acontecerá após a nomeação de Eirc Holder, advogado de Chiquita perante as cortes estadunidenses pelos crimes de apoio aos paramilitares, como o novo Procurador Geral do governo de Obama. Estamos diante de um novo mal episódio desta história?

O artigo encontra-se em Anncol.eu.