Com sapatadas, pelo menos, deve ser recebido um assassino como Bush
1. Tema do dia sem dúvidas, os sapatos lançados por um jornalista iraquiano ao presidente estadunidense, George W. Bush, revitalizaram hoje o rechaço popular à ocupação estrangeira expressado em marchas para exigir a libertação do ousado “herói”.
Milhares de pessoas, em sua maioria residentes de Cidade Sadr, bastião do clérigo xiita Muqtada Al-Sadr, manifestaram-se pelas principais ruas de Bagdá para reclamar a libertação do repórter do canal via satélite al-Boghdadiya Muntadheral-Zaydi. Al-Zaydi, a quem a multidão aclamava como herói enquanto elaborava fotos suas em várias marchas paralelas realizadas no país, lançou seus dois sapatos contra Bush quando acontecia uma conferência de imprensa junto ao primeiro ministro Nouri Al-Maliki. Mesmo que seja assim, com o que tenha em mãos, deve-se receber aos políticos e empresários cínicos que falam de liberdade e justiça enquanto assassinam o povo ou o mantém na miséria.
2 . O jornalista Al-Zaydi, gritou em árabe: “Este é um beijo de despedida, cachorro. Isto é parte das viúvas, órfãos e daqueles que foram assassinados no Iraque”. Al-Zaydi trabalha como jornalista para o canal de satélite Al-Baghdadia TV, com sede no Cairo. Os guardas de segurança o levaram do lugar, enquanto o chutavam e batiam, segundo informações. Todavia está detido por funcionários iraquianos. O canal Al-Baghdadia TV fez um chamado às autoridades iraquianas para que libertem imediatamente o seu empregado e respeitem assim a liberdade democrática de expressão que o novo regime iraquiano prometeu. Toda medida tomada contra Muntadhar nos lembrará da época ditatorial caracterizada pela violência, as prisões aleatórias, as valas comuns e a violação das liberdades gerais. O canal Baghdadia pede aos meios de comunicação iraquianos, árabes e do mundo inteiro que respaldem Muntadhar-Zaydi e solicitem a sua libertação”.
3 . A sapatada foi somente simbólica porque Bush merece a pena de morte depois de assassinar centenas de milhares de iraquianos. Sem dúvida a mesma pena, há muito tempo, devia ser aplicada a Blair, o primeiro-ministro inglês e Aznar, o ex-presidente espanhol. O que fez o jornalista iraquiano ao arremessar seus sapatos na cara de Bush foi dizer ao mundo que já não se deve permanecer como tonto ou imbecil diante de um multi-homicida dessa laia. Basta apenas recordar que em março de 2007 chegou em Mérida, Yucatán, no meio de mais de cinco mil militares yankees e mexicanos que serviram de proteção para assinar uma “iniciativa Mérida”, ou melhor, um Plano México, que busca converter-se (assim como o Plano Colômbia assinado no ano 2000) em um plano para desbaratar qualquer oposição anti-yankee e anti-capitalista. Naqueles dias o governo mexicano desatou uma grande repressão contra os que durante três dias foram às ruas para protestar contra a presença do assassino yankee.
4 . Diálogo com Bush ou com os assassinos do povo impotente? Nunca aconteceu na história. O diálogo real só pode acontecer entre pessoas ou grupos igualmente poderosos. Por isso o líder chinês Mao Tse-Tung ensinou que para lutar contra o desarmamento devemos nos armas e para conseguir a paz devemos nos preparar para a guerra. Ou alguém tem a ilusão de que o poder vai dialogar com algum “insignificante”?
Apesar da Rússia e China não terem sido em nenhum momento de sua história países socialistas, pelas forças que representavam nos anos sessenta a oitenta, representaram um contra-peso para evitar as ameaças e invasões yankees. Apesar do México, o segundo país mais habitado e o terceiro maior da América Latina, atuar como escravo dos EUA, por sua enorme dependência e a submissão de seus governos, Cuba, Venezuela e Bolívia, formando a unidade com governos independentes dispostos a defender os seus povos, obrigam Bush a levá-los em conta.
5 . México, segundo foi publicado, é o segundo país (depois do Iraque) onde foi registrado o maior número de jornalistas assassinados, de acordo com a nota que me foi enviada por um amigo chileno. Como pode-se ver, no Iraque eles são assassinados porque trata-se de um país invadido pelos EUA e em guerra, mas também por sua valentia, demonstrada nesse ato frente aos invasores assassinos, que está fora de cogitação. Mas no México quem assassina os jornalistas, se é um país, segundo o governo de Calderón, “com muita estabilidade”? A realidade é que os governos do PAN e do PRI têm demonstrado uma enorme incapacidade para aprofundar e levar até o fim suas investigações. Hoje, facilmente se acusa o narcotráfico ou aos chamados “zetas”, que o servem, por tudo o que acontece; apesar disso, ficou demonstrado que muitos dos mais ativos dessa “delinqüência organizada” são advindos da própria polícia e do exército mexicano. Ao que parece, estão caçando os jornalistas por encargo.
6 . Não sei se na América Latina ou no México temos recebido com sapatadas os governantes e empresários mas, uma vez que antes de entrar em um ato desses a polícia revista a todos os assistentes, os sapatos (quanto maiores e mais pesados que sejam) podem servir de projéteis contra os representantes da exploração e da repressão. Ou será que daqui a algum tempo exigirão que entrem sem sapatos nessas cerimônias? No mundo e no México os altermundistas ou “globalifóbicos” nos ensinaram diferentes tipos de protestos contra os governos neo-fascistas que se reúnem sempre para assinar acordos contra os pobres do mundo. Em Cancún, em setembro de 2003, em meio a poderosos protestos que realizávamos contra a cúpula de comércio, por uma espécie de incapacidade ou carência de forças para evitar os acordos dos EUA e os demais governos, o camponês coreano Lee se enrolou quando pretendíamos derrubar a cerca de metal com a qual o exército impedia a passagem de nossos protestos.
7 . Os governantes destroem a economia dos países e ninguém os processa, os prende ou lhes aplica a pena de morte. Destroem a vida de centenas de milhões de cidadãos deixando-os na miséria e na fome sem ninguém os castigar. Esses governantes atuam como tem vontade, acreditando serem os únicos donos de seus países, terminam seus governos e, como se fosse um roubo, retiram-se para gozar de suas gigantescas riquezas ilicitamente obtidas. Lançar sapatos resulta apenas em uma amostra do que todos os seres humanos com dignidade deveríamos fazer contra qualquer um desses personagens que com seus governos e negócios lesionam os interesses do povo. Talvez por isso os indígenas mexicanos recorrem ao castigo direto, com a convicção de que seu castigo será um exemplo para demonstrar o que deve ser feito. Talvez Bush, com a sapatada, não consiga viver em paz pelos milhões de seres humanos que assasinou com suas invasões e guerras. Terá que suportar mais “sapatadas” e, como os outros assassinos e maus governantes, desejo que viva fugindo deles.
O artigo encontra-se em ABP Notícias.