"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

“Na Colômbia há um plano de extermínio do movimento opositor” -Senadora Glória Inés Ramírez

A uma pergunta sobre o papel da Europa em relação ao conflito interno colombiano, Gloria disse: “A legitimação das políticas de Álvaro Uribe. Quanto ao governo espanhol, também perdeu sua atitude crítica de velar pelos direitos humanos e está sendo complacente”.

Pacocol

Há apenas um mês Ingrid Betancourt recebia o Prêmio Príncipe das Astúrias da Concordia. A política franco-colombiana que acabou de se libertar após seis anos de cárcere nas mãos das FARC. Seu prêmio serviu, assim como a sua libertação, para aliviar a crueldade e o sofrimento imenso provocados pelo seqüestros, prática habitual utilizada pelas guerrilhas das FARC, com a finalidade de conseguir intercâmbios de prisioneiros.

A denúncia em massa não serviu, ainda assim, para que o mundo conhecesse toda a realidade do que está ocorrendo na Colômbia. Pelo contrário, o presidente Álvaro Uribe aproveitou para apresentar o que considera um êxito em sua guerra contra o terrorismo. As sistemáticas violações dos direitos humanos, a conivência das altas estruturas do poder político, militar e econômico com grupos paramilitares que extorquem, ameaçam e assassinam a todo aquele que destoe, seja um defensor dos direitos humanos, um sindicalista ou poolítico da oposição. Foi ocultado o assassinato a 42 sindicalistas.

Apesar das milhares de violações aos direitos humanos perpetradas no país, “o presidente Uribe só está interessado em mostrar um país que não existe, uma democracia irreal”. É a denúncia de Glória Inés Ramírez, senadora colombiana do Pólo Democrático Alternativo, principal partido da oposição, e sindicalista. Glória Inés, que em 2003 ficou exilada na Espanha por conta de graves ameaças a ela e sua família, sobrevive agora em seu país graças à proteção de cinco guarda-costas, porque “se nós nos calarmos, quem falará?”. No dia 12 de novembro, no Centro de Advogados de Atocha, Glória participou da apresentação em Memória da II Plenária pela Paz na Colômbia, convocada pela Fundação Madrid Paz e Solidariedade, a Plataforma 2015 e Mais e a Assembléia Internacional da Sociedade Civil pela Paz.

Solução negociada ao conflito, acordos humanitários e construção de uma verdadeira democracia sobre as bases da verdade, justiça e reparação são as principais propostas.

Pacocol: Mais de 60 anos de conflito, milhares de mortos, desaparecidos e violações dos direitos humanos. Qual é a origem do conflito?

Glória Inés Ramírez: A origem está em causas estruturais, na exclusão das maiorias tanto no econômico como âmbito político e social. Na base está o problema da terra e sua alta concentração em determinados latifundiários, muitos deles enriquecidos através da apropriação indevida, mediante violência contra centenas de milhares de pequenos camponeses e communidades indígenas. Não há um exército democrático integral, temos três mil assassinados por ano, mais que toda a ditadura de Pinochet.

Pacocol: O que quer dizer a definição uribista de que o conflito armado é uma luta contra o terrorismo?

Glória Inés Ramírez: O pretexto da guerra preventiva e contra o terrorismo pressupõe o não-reconhecimento do conflito e, portanto, dos combatentes, o que permite não obedecer nenhum código internacional de guerra. Aqui se pratica o vale-tudo,. O sequestro, a tortura, o desaparecimento forçado, e não se estabelece a distinção entre civis e combatentes. Quando o Governo fala de terrorismo pretende desconhecer as causas do conflito. Colômbia é o segundo país com menos igualdade social e é o segundo país com mais deslocamentos internos. Além de tudo isso, a Colômbia é o número um em assassinatos a sindicalistas.

Pacocol: Mas Uribe exibe como conquistas a desmobilização dos paramilitares e os êxitos contra a guerrilha.

Glória Inés Ramírez: Há uma mudança na correlação de forças. Houveram muitos golpes à insurgência, é claro, mas se avança por conta do engano e das mentiras, e desrespeitando os direitos humanos. Em um município próximo a Bogotá, foi denunciado o desaparecimento de dezenove jovens. Onze deles apareceram em uma vala comum e foram apresentados como guerrilheiros mortos. Era falso. A alta comissária de Direitos Humanos nas Nações Unidas o qualificou como crime de lesa humanidade. O fiscal, por sua vez, manifestou que há mais de mil denúncias de desaparecimentos de jovens. Os três sindicalistas de Arauca, assassinados a queima-roupa, também eram falsos guerrilheiros. Os assassinam, colocam-lhes o uniforme e lhes apresentam como mortos em combate, tudo para conseguir recompensas ou tempo de descanso. O governo disse que as cifras de homicídios diminuíram, mas aumentaram as execuções extra-judiciais pelas mãos das forças de segurança, os deslocamentos e os desaparecimentos forçados e aumentaram as ameaças a sindicalistas e opositores.

Pacocol: Quem são os “Águias Negras”?

Glória Inés Ramírez: São paramilitares. O governo negociou com eles a sua desmobilização mas nunca chegou a tocar nas estruturas. Chamam-os de grupos emergentes, mas são os mesmos que sempre o fizeram. E também atuam com a conivência das Forças Armadas. Tudo o que seja de esquerda e defenda uma saída negociada ao conflito é um terrorista. Há um plano de aniquilamento do movimento opositor, através do assassinato, através da criação, por parte do Governo e empresários, de um imaginário coletivo no qual o sindicalismo é algo ruim e através das acusações e estigmatizações dos sindicalistas como testas-de-ferro da guerrilha. Aplica-se a norma do inimigo interno, “tirar a água do peixe”, ou seja, difundir terror entre os civis para destruir as supostas bases de apoio da guerrilha.

Pacocol: Lhe acusaram, junto a outros dois senadores, de vínculos com as FARC.

Glória Inés Ramírez: Estas acusações infundadas buscam apenas um equilíbrio artificial: dizer que a esquerda também está ligada ao delito. Buscam.

“O governo espanhol também perdeu sua atitude crítica em velar pelos direitos humanos e está sendo complacente”

Sou de esquerda, mas isto não me faz uma mulher-de-armas, e sim, uma mulher de compromisso com os direitos dos trabalhadores, com uma mudança na política, com a denúncia de violações dos direitos humanos. Minha maior defesa é meu projeto de vida, é a força de minha argumentação e a justiça do direito de protestar e destoar.

Pacocol: Qual está sendo o papel da Europa?

Glória Inés Ramírez: O da legitimação das políticas de Álvaro Uribe. Quanto ao governo espanhol, também perdeu sua atitude crítica em velar pelos direitos humanos e está sendo complacente.

Pacocol: A eleição de Obama como presidente dos EUA desperta esperanças?

Glória Inés Ramírez: Sim, pois disse logo de cara que colocará no centro de sua política os direitos humanos. E isto é muito importante.

Pacocol: De que falamos quando falamos de paz?

Glória Inés Ramírez: Na Colômbia falar de paz é falar da relação entre as armas e a política. É só olhar a história de nosso país, desde o massacre de 1.300 trabalhadores na greve bananeira de 1928 até o genocídio da União Patriótica.

A entrevista encontra-se em Anncol.eu