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Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

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A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

México: O retorno de Lucía Morett

por Carlos Fazio

É uma sobrevivente. É inexplicável ela ter saído viva do bombardeio que acabou com as vidas de Raúl Reyes e duas dezenas de pessoas, inclusive quatro companheiros mexicanos, quando o governo da Colômbia atacou um acampamento temporário das FARC em território equatoriano.

Chama-se Lucía Morett e acaba de chegar ao México após meio ano de virtual asilo na Nicarágua. É uma sobrevivente do horror, mas também uma vítima. Não obstante, o governo de Álvaro Uribe busca criminalizá-la. O próprio mandatário colombiano a acusou de “guerrilheira das FARC, terrorista e narcotraficante”.

Também no México, as autoridades locais a investigam por “terrorismo internacional”. O julgamento foi promovido por Álvaro Uribe através de dois dirigentes de organizações da ultra-direita local, Guillermo Arzak e José Antonio Ortega.

Lucía Morett é uma vítima sobrevivente, mas também uma testemunha chave do massacre. Talvez seja a única pessoa que possa dar o testemunho do que aconteceu no dia 1º de março deste ano na selva de Sucúmbios, Angostura, na fronteira colombo-equatoriana. Álvaro Uribe sabe disso, por isso busca criminalizá-la.

Para Lucía Morett, as feridas que leva em seu corpo mudaram sua vida. Disse por diversas vezes que vai quintuplicar suas forças para que a verdade venha à tona. “Não cometi nenhum crime, nem tenho porquê me esconder”, declarou em sua chegada ao México. Agora ela se propõe a ser a “voz” de seus quatro amigos mortos durante o ataque.

Existem ainda muitas lacunas sobre o grave incidente que levou à ruptura de relações diplomáticas entre o Equador e a Colômbia. Entre eles, um dos que mais se destaca, é o vôo de um avião HC-130, matrícula 1708 do Pentágono, que decolou da Base de Manta nos dias 29 de fevereiro e 1º de março, supostamente para uma missão anti-narcóticos.

Em Manta funciona um Posto Avançado de Operações (FOL, em sua sigla em inglês), integrante do Plano Patriota da Colômbia, de tipo contra-insurgente. Segundo o monitoramento da Base, realizado pela força aérea equatoriana, o HC-130 mudou de maneira significativa sua rotina durante estes dias. Depois foi transferido, sem que se conheça seu destino.

Segundo o governo de Uribe, os aviões que participaram no bombardeio eram colombianos. Mas uma investigação do Ministério da Defesa equatoriano concluiu que a Colômbia não possui aviões capazes de transportas e lançar bombas Paveway II GBU-12, que provocaram as 10 crateras de 2,4 metros de diâmetro por 1,80 metros de profundidade, em sua área de impacto.

O governo da Colômbia não entregou informação consistente à sua contraparte equatoriana. Tampouco disse nada sobre aquisição, compra ou doação das bombas utilizadas em Angostura.

Segundo as autoridades equatorianas, tratou-se de uma operação combinada entre a Colômbia e os Estados Unidos, com a participação de uma rede de inteligência estrangeira que operava no Equador e sabia com antecedência do bombardeio. Os membros dessa rede destruíram as evidências judiciais no lugar dos acontecimentos.

Também seriam parte dessa rede de inteligência, os soldados colombianos que interrogaram Lucía Morett, ferida, quando soldados levados de helicóptero desceram no acampamento e a encontraram com vida. Um vídeo sobre a Operação Fênix, exibido pelo governo da Colômbia, mostra imagens gravadas com uma câmera de visão noturna, nas quais aparece Lucía Morett atirada no chão, rodeade de soldados que a interrogam.

Não seria o único interrogatório.

Após os soldados colombianos evacuarem a zona, chegaram os soldados equatorianos, um com uniforme e outro de civil. Disse que as perguntas dos equatorianos eram idênticas às perguntas anteriores dos colombianos. A acusaram de estar em um acampamento dando treinamento à guerrilha. Que era a comandante. Que falassse logo, uma vez que seus companheiros já haviam confessado.

Um informe do Ministério da Defesa do Equador relata este acontecimento e respalda o que foi dito por Lucía Morett. O soldado que a interrogou em Lago Agrio, disse o relatório, buscava obter informação de valor imediato, afastando-se do que determinava a lei equatoriana.

Além disso, os resultados do interrogatório não foram divulgados às autoridades judiciais ou políticas do Equador, incluindo o presidente da República, Rafael Correa.

Os dois militares equatorianos estão hoje sujeitos a julgamento. Lucía Morett lembra deles, assim como lembra dos soldados colombianos que a interrogaram. Por isso é uma testemunha chave. E por isso, também, Álvaro Uribe busca criminalizá-la.

Uribe quer calar a moça. Sabe que, mais cedo ou mais tarde, Lucía Morett pode conduzi-lo ao banco dos réus no Tribunal Penal Internacional.

A notícia encontra-se em ABP Notícias.