"A LUTA DE UM POVO, UM POVO EM LUTA!"

Agência de Notícias Nova Colômbia (em espanhol)

Este material pode ser reproduzido livremente, desde que citada a fonte.

A violência do Governo Colombiano não soluciona os problemas do Povo, especialmente os problemas dos camponeses.

Pelo contrário, os agrava.


sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A crise económica atual

por Sam Webb - Presidente do Partido Comunista dos EUA


Se houvesse algo como um tsunami económico, eu diria que estamos a experimentá-lo. A crise habitacional continua e não mostra qualquer sinal de acabar; os mercados de crédito e de dinheiro ainda estão emperrados; o mercado de acções gira tendendo à descida; o desemprego ascende (agudamente nas comunidades nacionalmente e racialmente oprimidas) e ficará pior; os salários estão baixos e a pobreza está alta; o nível de endividamento é astronómico e difícil de reduzir no curto prazo. Os gastos do consumidor, o motor do crescimento económico nos anos 1990, está a afundar. Governos estaduais e locais estão a cortar drasticamente nos serviços e nos empregos; a deflação, que simplesmente significa preços cadentes em sectores significativos da economia, é um perigo rastejante e perigoso; e os mercados financeiros ainda têm de estabilizar como ficou evidente com as perturbações do CitiGroup. Em suma, nunca desde a Grande Depressão a economia deteriorou-se tão rapidamente e amplamente, levando muitos economistas a prever que o período de baixa será em formato L, isto é, profundo e prolongado.

Além disso, a economia mundial está a contrair-se. No passado a principal unidade de análise económica era a economia nacional, mas acontecimentos e tendências recentes indicam a falácia desta noção. Olhar para a economia e as suas perspectivas através de um prisma estritamente nacional é conceptualmente errado e portanto destinado a levar a análises imperfeitas e receitas políticas ineficazes.

Financiarização – espada de dois gumes

Se bem que a actual turbulência tenha sido disparada pelo colapso dos mercados financeiros, ela tem origem em primeiro lugar como desdobramento de processos a mais longo prazo do capitalismo que remontam aos meados da década de 1970 e aos imperativos sistémicos de maximização do lucro e da exploração salarial que está no seu núcleo.

Trinta anos atrás o capitalismo estado-unidense era acossado por problemas aparentemente intratáveis e contraditórios – alta inflação e desemprego, declínio da confiança no dólar como divisa internacional, novos rivais competitivos na Europa e na Ásia, um arrefecimento do crescimento económico e, acima de tudo, uma queda na taxa de lucro. E todos estes problemas ocorreram, e foram por ele moldados, no contexto da superprodução nos mercados mundiais de commodities.

Confrontado com este desandamento da economia, com o enfraquecimento do imperialismo estado-unidense e com uma crise de lucratividade, o então presidente do Federal Reserve, Paul Volcker, subiu as taxas de juro para níveis record. Esta subida súbita nas taxas de juro remeteu as taxas de desemprego para os mais altos níveis desde a Grande Depressão, forçou o encerramento de um grande número de fábrica manufactureiras e um grande número de unidades agrícolas familiares, provocou incríveis dificuldades para a classe operária, e especialmente os afro-americanos, latinos e outros trabalhadores racialmente oprimidos, provocando um impacto negativo na economia global, particularmente nos países em desenvolvimento da Ásia, África e América Latina.

Isto também criou, como sabemos demasiado bem, as condições para um ataque multilateral ao trabalho e os seus aliados, o que não era visto desde a era anterior à Depressão.

Ao mesmo tempo (e de importância crucial para Volcker), isto expulsou a inflação da economia, restaurou a confiança no dólar (os investidores são avessos a manter dólares quando as pressões inflacionárias estão a erodir o seu valor), atraiu e redireccionou o capital interno e estrangeiro abruptamente e maciçamente da economia "real" para canais financeiros onde os retornos eram mais elevados. Volcker, como banqueiro experimente, sabia que o problema não era demasiado pouco capital monetário mas sim demasiado e demasiadas poucas oportunidades para investir e absorver aquele capital lucrativamente na economia "real".

Uma vez nos canais financeiros, o capital monetário permaneceu ali, mas não ociosamente. Agentes financeiros do capital (bancos, casas de investimento, hedge funds, firmas de private equity, etc) tentavam expandir seus lucros num ambiente muito competitivo e de permissividade regulamentar corrida a uma velocidade perigosa numa onda maciça de comprar, vender e emprestar e numa farra de gastos que comprometeu as três década seguintes – tudo isso levou a uma explosão do sector financeiro em termos de emprego, transacções, produtos de risco, actores e lucros.

Por outras palavras, a financiarização, que o economista Gerald Epstein define como um processo no qual "motivos financeiros, mercados financeiros, actores financeiros e instituições financeiras desempenham um papel crescente na operação das economias interna e internacional" continuou a um ritmo febril e com uma abrangência vasta. (in Financialization and the World Economy, Introduction, 2005)

O capital que produz pouco destrói muito

Se a causa da financiarização já nas tendências de estagnação no sector de bens materiais da economia dos EUA e no enfraquecimento do papel do imperialismo no plano internacional, seu lubrificante é a produção e reprodução, aparentemente sem fim, de estarrecedoras quantidades de dívida – corporativa, do consumidor e do governo. A dívida é tão velha quanto o capitalismo. Mas o que é diferente neste período de financiarização é que a produção de dívida e dos excessos especulativos e das bolhas que a acompanham não foram simplesmente momentos passageiros no fim de uma alta cíclica, mas essencial para sustentar o investimento e especialmente a procura do consumidor em toda a fase do ciclo. Na verdade, a financiarização cresceu ao ponto de se tornar o determinante principal a modelar os contornos, a estrutura, a inter-relações, a evolução e o dinamismo da economia nacional e mundial.

Sem bolhas especulativas, geradas pelo governo federal e o Federal Reserve ao longo dos últimos 15 anos na tecnologia da internet, no mercado de acções e mais recentemente na habitação, o desempenho dos EUA e da economia mundial teriam sido muito piores. Mas, como estamos penosamente a aprender, a financiarização é uma espada de dois gumes. Se bem que ela tenha estimulado a economia interna e global e recuperado o poder do imperialismo dos EUA, ela também deixou o nosso país com uma acumulação astronómica de dívida; introduziu enorme instabilidade nas artérias dos EUA e da economia mundial; drenou capital do investimento privado e público; contribuiu para recuperações do desemprego e intensificou a exploração no sector de bens materiais da economia; engendrou com êxito a maior redistribuição da riqueza na história do nosso país para a camada superior do capital financeiro dos EUA; tornou a economia dos EUA dependente da boa vontade de investidores estrangeiros em absorverem quantias maciças de dívida na forma de títulos a curto prazo do governo; e finalmente lubrificou as rodas para uma dura aterragem económica e uma crise muito mais profunda no lado de baixo do ciclo económico.

Por outras palavras, o crescimento do sector financeiro foi parasitário e um remendo temporário para uma economia morosa e um poder imperial declinante. Mas como mostraram os acontecimentos, isto não podia mascarar para sempre nem compensar o crescimento lento, a desindustrialização, os salários estagnados, as recuperações do desemprego, a exploração acrescida, e um papel internacional declinante. Uma economia Wal-Mart de baixos salários, proveitos magros e montanhas de dívidas, mesmo quando combinado com gastos militares maciços, é insustentável e finalmente irrompe na crise.

Naturalmente, foi preciso mais do que terapia de choque na forma de altas taxas de juro e a seguir financiarização para efectuar mudanças desta magnitude e entrar numa nova era de ataques implacáveis à classe trabalhadora, aos racialmente oprimidos, às mulheres e outros grupos sociais. Se Volcker efectuou o primeiro golpe, foi a administração Reagan, que entrou na Casa Branca menos de um ano depois, e a seguir administrações sucessivas que foram os principais agentes políticos desta reviravolta na ideologia, política e teoria económica.

Reaganistas – os principais agentes do neoliberalismo

Ao nível ideológico, os reaganistas diziam que o melhor governo é o que governa o mínimo, que os mercados são auto-correctores e eficientes, que a riqueza é distribuída conforme o trabalho executado, que a desigualdade de rendimento é uma coisa boa, que a desregulamentação e a privatização são as melhores curas para os males dos sectores privado e público, e que cortes fiscais para os riscos e prósperos gotejam (trickle down) para o povo trabalhadores, levantando com isso todos os barcos.

Mas os reaganistas não paravam aqui. Ao nível político-económico, eles desmantelaram o modelo de governação económica ao nível do Estado e das corporações, um modelo que tinha as suas origens no New Deal e foi mantido e expandido por sucessivas administrações nas três décadas seguintes. Ele repousava sobre um compromisso de classe, obrigações societais, direitos sindicais, igualdade formal e políticas macroeconómicas expansivas que favoreciam amplamente a prosperidade partilhada.

Em seu lugar, os reaganistas construíram outro modelo de governação popularmente chamado neoliberalismo. Não só este modelo facilitou uma reafirmação e consolidação do poder pelo capital financeiro a expensas de outros agrupamentos de capital, como também utilizou o seu controle do aparelho de estado para encorajar a desindustrialização e a deslocalização da produção, o rebaixamento sindical, a desregulamentação, o trabalho de baixo salário, a inflação baixa, a liberalização comercial, o encolhimento e a privatização do sector público, o controle draconiano (no grau possível) sobre os movimentos trans-fronteiriços do trabalho, o ressurgimento de práticas racistas e sexistas na política económica do país, a redistribuição maciça da riqueza para as famílias e corporações mais ricas, um dólar mais forte, e a reestruturação do papel do estado e das suas funções.

Este novo modelo, combinado com uma prontidão acrescida para utilizar o poder militar, foi criado com o objectivo de fortalecer a posição do imperialismo estado-unidense no plano interno e no exterior, mudando radicalmente as condições de exploração em benefício da classe corporativa transnacional e re-subjugando os países em desenvolvimento. Mas, como se diz, até os planos mais bem concebidos dos ratos e dos homens muitas vezes fracassam, pelo menos a longo prazo.

Um rebento do capitalismo

A ascensão e queda do neoliberalismo está organicamente conectada à dinâmica subjacente do capitalismo. Tanto um como outro exigem pistoleiros (hit men) nos corredores do governo e nos gabinetes das corporações e num conjunto de instituições (o Federal Reserve Bank e os Fundo Monetário Internacional, por exemplo) para lubrificar os caminhos, o que também é o rebento indiscutível das leis internas e das tendências do capitalismo.

Embora uma estratégia anti-capitalista fosse prematura na actual conjuntura, a fé de milhões de pessoas no capitalismo foi abalada. As pessoas podem defender o capitalismo se desafiadas, mas não com o mesmo vigor e não sem um ouvido simpático às medidas que reduziriam o poder e os lucros das corporações transnacionais. Será que ouvimos algum murmúrio ou choro vindo dos centros industriais quando o governo nacionalizou parcialmente alguns bancos? E, estou seguro, se o governo insistisse na propriedade e controle como condição para apoiar as companhias do automóvel, poucos trabalhadores iriam queixar-se. A maior parte diria: "Eles estragaram tudo. Por que dar alguma coisa e nada obter em contrapartida?" Em suma, os acontecimentos dos últimos meses e semanas constituem uma profunda derrota do capitalismo, ideologicamente, politicamente e economicamente.

De outro ponto de vista (e não vou desenvolver este ponto), a implosão da Wall Street transmitiu uma pancada debilitante às esperanças do imperialismo estado-unidense de dominação sem rival no século XXI. Quando combinada com o desastre iraquiano, a ira mundial contra as políticas de ajustamento estrutural e a emergência de novos poderes globais em quase toda região do mundo – a China em primeiro lugar – assinala uma crise terminal da dominância do imperialismo dos EUA sobre o sistema de Estados do mundo. Ou, para dizer de outra forma, um mundo unipolar está a render-se a um mundo multipolar o qual, eu acrescentaria, apresenta tanto oportunidades como perigos para a nova administração e a humanidade.

De facto, uma questão urgente para o povo americano é a seguinte: Será que o imperialismo estado-unidense adaptar-se-á pacificamente às novas realidades do mundo ou tentará ele empregar força maciça para manter a sua posição no mundo? Bush tentou a força, mas fracassou e deixará a Casa Branca em Janeiro completamente desacreditado. Há boas razões para acreditar que a nova administração escolherá uma opção diferente. Basta dizer que a redefinição do papel dos EUA na comunidade mundial e a desmilitarização (incluindo a desnuclearização) estão entre as mais prementes questões na primeira parte do século XXI, comparando-se em grau de importância ao combate ao aquecimento global [NR] . Se não forem cuidados, ambos poderiam por em perigo a sobrevivência das nossas espécies sobre a Mãe Terra.

[NR] O autor deixou-se influenciar pela propaganda falsa dos "aquecimentistas", propalada pelos burocratas do IPCC e até agora endossada pela União Europeia. Na verdade não existe qualquer aquecimento global e, mais provavelmente, haverá um arrefecimento global. É absurdo equalizar as duas classes de problemas. Ver a propósito o artigo do grande climatologista Marcel Leroux: Aquecimento global: uma impostura científica .

O original encontra-se em http://lists.econ.utah.edu/pipermail/a-list/

[*] Presidente do Partido Comunista dos EUA.

Este artigo encontra-se em Resistir.info.